O início do mês foi mau para a bolsa americana, particularmente para as empresas tecnológicas. Em especial o dia 3, quando a Meta Platforms, casa mãe do Facebook, perdeu 230 mil milhões de dólares de capitalização, perto do PIB português. O Nasdaq caiu 3,7% e arrastou o S&P 500, que caiu 2,4%.

Enquanto escrevo, quase uma semana depois, a Meta cai 1,6%, mas esteve a cair mais de 5%. Em suma, um período terrível para quem tem a poupança aplicada em ações ou fundos expostos a este título. E faz pensar que o boom das tecnológicas chegou ao fim.

Cathy Woods passou de heroína a vilã – em janeiro o ARK Innovation perdia 50% sobre o máximo de fevereiro de 2021, esquecendo-se quem a criticava que nos cinco anos anteriores tinha ganho 250%, fruto da aposta em tecnológicas como a Tesla e similares, procurando maior rendimento embora com maior risco, e do bull market que se viveu.

Risco é risco; como disse John A. Sheed, no seu “Salt in the Attic” de 1928, “um navio está seguro no porto, mas os navios não foram feitos para isso”. Todo o problema está em saber controlá-lo, pois os momentos maus irão aparecer um dia.

Não é só a bolsa que deve estar nas nossas preocupações. A inflação ganha momentum nos EUA e na Europa. Nos EUA em janeiro foram criados 467 mil empregos, muito acima do esperado, e num mês de Ómicron. A recuperação económica é mais segura e fatores que a travavam estão a perder força.

Alan Blinder, ex-vice-presidente da Reserva Federal (Fed) e membro confesso do Transitory Team, admite em artigo recente que afinal a inflação não é assim tão transitória e que a Fed está a agir tarde. E salienta que na última comunicação do FOMC – Federal Open Market Committee se usa a palavra “proximamente”, o que em Fedspeak significa que na reunião de março vamos ter a primeira subida dos juros.

Mas também chama a atenção para o risco de agir com demasiada força numa economia que está a normalizar e cujo ritmo de crescimento regressará a um menor dinamismo. Acredita na prudência que Powell tem demonstrado para evitar excessos – será tomada ação, mas adequada e permanentemente reavaliada.

Tem razão, não pode acontecer à economia o que acontece ao Nasdaq, quem decide não pode visar o muito curto prazo. É assim, aliás, que o Berkshire Atthaway está a bater o ARK.

Na Europa a situação é só parecida; a taxa de inflação é elevada (menos) e os fatores por trás são um subconjunto dos EUA. O Banco Central Europeu está a agir ainda mais tarde, mas quando agir terá que ser ainda mais prudente porque os riscos são mais elevados.

Pense-se só na consequência para a Europa se Putin invadir a Ucrânia. Só na energia, a falta do gás russo é um tiro no modelo energético que se quer implantar; e se parte pode ser substituída por importações dos Estados Unidos (o atual maior exportador mundial de GNL), resta ver a que preço, sem contar que 10% do consumo da União não terá substituto.

Hoje em dia, ser banqueiro central é como ser empresário: o risco é a profissão.