A Aliança Semáforo, um acordo inédito entre três partidos alemães – sociais-democratas, Verdes e liberais –, distribuiu finalmente as pastas pela sua liderança tripartidária, encerrando o clima de dúvida que pairava na Europa.

Era grande a expectativa com que os líderes europeus aguardavam estes possíveis ventos de mudança. Uma coligação requer um compromisso com os eleitores de um país, tendo interesse político, mas também económico. Mas a espera ansiosa pelo entendimento político germânico terá resultado, sobretudo, de a política interna alemã ser a medida do estímulo externo dos países europeus.

E, pela primeira vez na história do euro, a dimensão desse estímulo poderá depender da consciência (alemã) de que compete à Europa, como um todo, afirmar-se perante os seus parceiros económicos externos e à Alemanha assumir-se como o motor desta engrenagem.

Pode invocar-se o resultado das eleições de setembro passado como o empurrão da nova postura política e económica – uma maior participação de partidos europeístas, um maior compromisso com as questões sociais e ambientais e, consequentemente, maior tolerância para com a despesa pública. Uma questão parece certa: a Alemanha – entenda-se os dirigentes alemães e a população que foi às urnas – está mais atenta à sua dupla envolvente externa.

A perceção de que a Europa deve posicionar-se em relação ao exterior terá sido motivada por episódios como o Brexit, o interesse dos EUA pelo Indo-Pacífico, as novas alianças anglo-saxónicas, o domínio da China ou o mais recente interesse deste país pelo ASEAN.

Este entendimento beneficia a Europa apelidada do Sul – mais afetada pelas crises do século XXI e carecendo de uma locomotiva –, e justifica, por exemplo, criar a mega pasta da Economia e combate às alterações climáticas. Investir fortemente na indústria (verde) alemã permitirá apoiar a economia alemã na afirmação e reforço da sua quota de comércio internacional.

As propostas de subida do salário mínimo, investimento na habitação, manutenção da idade da reforma ou a garantia da estabilidade das pensões são tudo opções que, pela despesa que impõem, parecem obedecer aos procedimentos por excedentes excessivos, tão invocados no rescaldo da recuperação da crise financeira de 2008. A recente alusão de Klaus Regling, diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade, ao excesso de poupanças das economias terá ajudado a preparar o terreno para estas preferências políticas.

Mas a necessidade de estabelecer consensos não foi esquecida, tendo sido escolhido um liberal para a pasta das finanças – numa concessão à Europa austera –, deixando em aberto aquelas que têm sido apelidadas de linhas vermelhas do Semáforo e assim uma porta de saída para tudo o que possa ser considerado excessivo pelos mais conservadores dos eleitores alemães.

Perante o novo contexto externo, terá a Alemanha compreendido que deve assumir-se como líder económico europeu, escolhendo governantes que agradam a gregos e germanos, mas empurrando a Europa para a linha da frente? E terá finalmente entendido que a sua verdadeira força económica se materializará quando e se conseguir unificar a Europa?

Se sim, será razão para citar Brecht: “Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la.”