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Maçonaria: Eleições quentes no Grande Oriente Lusitano

Maçons vão escolher se querem a continuidade ou a mudar de líder. São três candidatos, mas pode haver movimentos de última hora.
15 Abril 2017, 12h00

No primeiro fim de semana de junho, dias 3 e 4, os cerca de 2.000 mestres maçons do Grande Oriente Lusitano (GOL) vão decidir quem será o próximo grão-mestre que vai liderar a mais antiga obediência maçónica em Portugal nos próximos três anos. As candidaturas têm de ser entregues através de uma prancha (documento maçónico) dirigida ao presidente do Grande Tribunal Maçónico e propostas por 21 eleitores, até 23 de abril. Só os maçons com grau de mestre votam, ficando fora do processo aprendizes (primeiro grau maçónico) e companheiros (segundo grau). O Grande Tribunal Maçónico decidirá da observância de todas as regras e atribuirá uma letra identificativa a cada candidatura.

Até agora, são três as candidaturas confirmadas. Mas as fontes que o Jornal Económico contactou dizem que existe uma grande probabilidade de existir uma quarta proposta, dividindo ainda mais o universo maçónico. O atual grão-mestre do GOL é Fernando Lima, da Loja Universalis, que se recandidata a um terceiro mandato. Lima foi presidente do conselho de administração da Galilei (que resultou da sociedade que era dona do BPN) e é sócio do escritório de advogados Lima, Serra, Fernandes & Associados, que foi alvo de buscas no âmbito da Operação Marquês, que tem no seu centro o ex-primeiro-ministro José Sócrates, indiciado por corrupção.

A Loja Universalis é percebida como das mais poderosas, onde pontificam, além do atual grão-mestre, irmãos como o ex-ministro Miguel Relvas; José Conde Rodrigues, que foi secretário de Estado do PS; José Almeida Ribeiro, que pertenceu aos serviços de informações e foi secretário de Estado adjunto de José Sócrates; o responsável pela empresa de sondagens Aximage Jorge de Sá, entre outros.

Lima, que integrou o órgão executivo do GOL durante seis anos, até ser eleito grão-mestre pela primeira vez, propõe como adjuntos António Ventura, professor de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e autor do livro “Chefes de Governo Maçons – Portugal (1835-2016)”, e Carlos Amaral Vasconcelos, advogado de Guimarães.

Vasconcelos é, também, presidente do Grande Tribunal Maçónico, pelo que foi obrigado a solicitar, por carta, ao seu vice neste órgão que o substituísse em todos os actos relacionados com as eleições. Fernando Lima tinha dito a diversos irmãos que não se recandidataria para mais um mandato, mas acabou por mudar de ideias. A candidatura foi anunciada à Loja Universalis a 31 de março. “Já na primeira recandidatura, em 2014, tinha dito que não avançava e acabou por fazê-lo”, afirmou um irmão maçon ao Jornal Económico.

O professor de ciência política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa José Adelino Maltez, também da Loja Universalis, anunciou publicamente a sua candidatura. Entregou a prancha ao Grande Tribunal Maçónico a 25 de março e tem como adjuntos Luís Vaz, historiador, e Manuel Matos, capitão de Abril. Em declarações ao Jornal Económico, Adelino Maltez diz que foi ainda mais longe do que o pedido pelas regras da obediência: “Apesar de não ser exigido pelo tribunal maçónico, entregámos a declaração de rendimentos e património”, revela.

Reconhece que o facto de pertencer à mesma loja maçónica do atual grão-mestre “vai criar divisões de votos”, mas também diz que a proposta que tem é para provocar alterações. “O meu projeto propõe uma mudança no sentido de abertura aos valores clássicos e à sociedade para se acabar o culto do clandestino”, explica. E assume a rotura com Lima, criticando a prática evidenciada pelo grão-mestre desde que chegou ao cargo, em 2011. “Discordo da atitude dele em relação ao conceito anti-parlamentarista”, garante. “Ele defende o primado do executivo. A minha é uma candidatura claramente parlamentarista e federal”, acrescenta.

As movimentações que resultaram na candidatura do professor catedrático começaram no início do ano passado. Realizaram-se encontros de irmãos em Coimbra, no Porto, em Guimarães; em Lisboa, juntaram-se 80 participantes num restaurante, em apoio a Maltez. Houve também debates e conferências em locais como a Associação Cívica e Cultural 31 de janeiro e a Fundação Mário Soares.

Na mesma altura, também Daniel Madeira de Castro, da Loja Acácia, reuniu os “irmãos” mais próximos.  O economista propõe como grão-mestres adjuntos o arquiteto Alberto Lourenço e Sampaio da Veiga, do Porto. Caso nenhum dos candidatos conquiste mais de 50% dos votos no plebiscito do início de junho, os dois mais votados seguem para uma segunda volta, que será disputada a 1 de julho.

A possibilidade de existir uma quarta candidatura é admitida pela maioria dos maçons contactados pelo Jornal Económico. “É necessário que o próximo grão-mestre seja uma referência moral e ética, no interior e no exterior”, aponta um dos irmãos contactados, sublinhando ser este o verdadeiro papel do líder do GOL. “Tudo o resto é gerido pela estrutura e não pela pessoa”, diz a mesma fonte.

Os candidatos procuram, nos adjuntos, encontrar quem represente outras regiões que não aquela de onde provém quem procura ser grão-mestre. Procuram, também, diversidade entre os que professam o rito escocês antigo aceite e o rito francês, este último, mais simples, com mais adeptos. Como numa campanha política, os candidatos vão agora fazer-se à estrada e visitar Lojas maçónicas por todo o país. O Jornal Económico tentou contactar Fernando Lima e Daniel Madeira Castro sem sucesso.

Notícia publicada na edição impressa do Jornal Económico de 7 de abril

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