Num mundo onde cada vez mais empresas oferecem aos seus colaboradores a opção de “trabalhar de qualquer lugar” – seja no escritório, em casa, noutra parte do país ou mesmo do outro lado do mundo –, o desafio de atrair um número crescente de trabalhadores internacionais nunca foi tão grande.
Todos os meses, milhares de perfis qualificados escolhem novos países de destino para se estabelecer. E embora a noção geral seja a de que a integração desses trabalhadores em novos negócios e comunidades alimenta o mercado global de trabalho, começamos agora a perceber que melhorar o processo de realocação dessas pessoas por via da digitalização pode ter um impacto significativo no local para onde as pessoas escolhem mudar-se e, em consequência, um impacto positivo na economia local.
Tomemos, por exemplo, o papel dos novos nómadas na promoção do empreendedorismo e na criação de clusters de tecnologia em todo o mundo. Não é surpresa para ninguém que empreendedores estrangeiros reunidos num mesmo espaço estimulam novas conexões, ideias e empreendimentos. Atualmente, a maior parte da inovação ocorre de forma colaborativa e a mobilidade global das pessoas tem sido um fator importante no aumento do número de polos criativos.
Noutra perspetiva, vemos que a circulação de talento pressupõe a emissão de vistos, um procedimento burocrático que, em muitos países, funciona como solução temporária para problemas como impasses políticos ou atrasos de tramitação. Paralelamente, a mobilidade geográfica estimula as viagens, dando também um impulso adicional aos setores dos transportes e hotelaria.
Fica, assim, claro que a imigração digital e os trabalhadores nómadas em geral podem beneficiar a economia, seja ela global ou localizada. Num ambiente instável, como o que vivemos hoje, a realidade da imigração torna-se ainda mais desafiadora, pois as empresas são obrigadas a adotar estratégias agressivas para competirem na maior corrida por talento a que a humanidade já assistiu.
Como resultado, muitos empregadores estão a perceber que precisam de um novo conjunto de ferramentas, ou mesmo de mudar os seus hubs e escritórios, para gerirem com sucesso os seus programas de imigração, e alguns países, como Portugal – que adotou recentemente um novo regime de entrada de estrangeiros – estão a trabalhar arduamente para aproveitar a atração de talento qualificado.
Enquanto país com potencial para se tornar o Silicon Valley da Europa, Portugal deve liderar a imigração de talento digital de forma segura e desburocratizada – mas ainda há muito trabalho a ser feito para trazer o processo de imigração português do século XX para o século XXI. As pequenas e grandes vantagens a retirar do movimento transfronteiriço estão à vista, tanto para a economia portuguesa como para o planeta.