Nos últimos tempos fala-se menos das startups e, especialmente, dos unicórnios. Nas tradicionais previsões de início do ano, chama a atenção as poucas referências a este tipo de empresas, possivelmente ofuscadas pelas expectativas sobre o descolar, em 2020, de tecnologias de grande impacto como o 5G. Ou, quiçá, relegadas para segundo plano por grandes questões geopolíticas e por outras mudanças estruturais, como a adoção acelerada de práticas ambientais pelas empresas.

O fracasso de WeWork terá levado a reequacionar as expectativas sobre o real impacto social e o valor económico dos unicórnios, pondo em questão as práticas de blitzscaling, ou seja, da procura de uma escala massiva à máxima velocidade e a qualquer preço. A inesgotável disponibilidade de meios e a proliferação de veículos de investimento tem contribuído para alimentar fantasias e manter artificialmente muitas empresas sem viabilidade económica.

Falta liderança feminina, menos agressiva e mais prudente, tanto nas startups como nos fundos. O retrocesso da globalização e a consolidação de um ecossistema chinês próprio de empresas inovadoras contribuem também para diminuir as expectativas sobre a adoção global dos serviços destas empresas ocidentais.

Portugal também tem apostado muito na incubação de empresas inovadoras de base tecnológica. Para ter sucesso, requerem fundamentalmente talento, dinheiro e visibilidade. Em Portugal há muito talento, pouco dinheiro e o amplificador mediático funciona à medida do tamanho do mercado e do país. Dado que não conseguimos organizar esse talento em operações de maior dimensão, frequentemente por falta de organização, processos e gestão, as startups acabam por ser um veículo que consegue canalizar bem essas capacidades.

O país beneficia da atitude e das mudanças culturais destes empreendedores: maior propensão ao risco, ambição, irreverência e, em definitivo, uma maior frescura nos negócios. Mas as dificuldades para crescer são enormes e os empreendedores acabam, com excessiva frequência, sendo autónomos com glamour.

Muitas destas novas empresas serão absorvidas por outras mais tradicionais, que frequentemente preferem fechar a operação e incorporar no quadro o ativo mais valioso, a equipa de empreendedores. É David forçado a pactuar com Golias. Essas empresas inovadoras e as suas equipas funcionam como um reforço do sistema imunitário das empresas mais tradicionais, que ficam assim revitalizadas e melhor preparadas para enfrentar o futuro digital do seu setor.

No longo prazo, seria preferível construir um sistema completo de inovação, porém este modelo pode ajudar a transformação digital da economia por uma via alternativa, mais alinhada com a realidade cultural e económica do país.

À falta de scaleups ou, mais modestamente, de keepgoings, o shutdown de startups pode acabar por ser útil. E o facto de não existirem palavras simples em português para capturar todos estes conceitos já indicia a dificuldade para conseguirmos manter um ecossistema empreendedor autónomo.