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Mapa para navegar os mares voláteis nos mercados

A volatilidade regressou com a pandemia de Covid-19 e deverá continuar a marcar os mercados financeiros até ao final do ano. Prudência, diversificação e flexibilidade devem ser palavras-chave para os investidores, dizem os analistas consultados pelo JE.
11 Julho 2020, 13h00

Dominar bem as águas, ler os mapas e não perder o foco do porto onde quer atracar, mas ter a flexibilidade para se adaptar em caso de tempestades. Os conselhos estendem-se a qualquer ‘marinheiro’ dos mercados financeiros, que em tempos de alta volatilidade poderá obter retornos se optar por uma estratégia diversificada e flexível, segundo os analistas consultados pelo Jornal Económico.

“Estamos a viver um período de volatilidade elevada e persistente”, diz Carlos Almeida, diretor de investimentos do Banco Best, que explica que se analisarmos a evolução do VIX – um indicador que incorpora a volatilidade estimada pelos investidores para o S&P500 – desde janeiro de 2000, se verifica que o mais frequente é apresentar valores inferiores a 18 pontos. “Das mais de 5.250 observações diárias, o VIX registou valores de fecho inferiores (ou iguais) a 18 pontos em 53,2% dos casos”, assinala. O analista realça que desde 21 de fevereiro deste ano, o VIX tem registado, de forma contínua, “valores acima do normal”, elevando para cinco meses a fasquia de meses com elevada volatilidade no mercado de ações.

“Na sequência da crise financeira de 2008, durante mais de 18 meses o VIX registou valores acima do normal. Nesse período, a média das observações diárias do VIX situou-se nos 34 pontos”, exemplifica, para considerar o atual momento de elevada volatilidade como natural face às incertezas que marcam o atual momento.
“Até à dissipação dos receios em torno do Covid-19 e à consolidação da retoma económica global, a volatilidade poderá permanecer em níveis acima dos valores normais”, adianta.

Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners, antecipa que o mercado deverá registar um novo pico na volatilidade “a ser iniciado ainda neste verão, e que tem a ver com uma série de incertezas económicas, de saúde publica e ao nível político, com as eleições americanas a serem o palco para retóricas menos amigas da economia, como seja a recuperação da guerra comercial seja entre os EUA e Europa ou com a China”.

A tendência deverá ser perdurar até pelo menos ao final do ano. “Em resultado dos elevados estímulos que influenciam atualmente os mercados, os preços da generalidade dos ativos poderão estar distorcidos face à realidade. Por esta razão, acreditamos que, até final do ano, a volatilidade irá ser elevada, com os governos e bancos centrais a recorrerem a novas rondas de subsídios e estímulos sempre que o mercado sofrer perdas rápidas”, sublinha Nuno Sousa Pereira, head of investments dagestora de fundos Sixty Degrees.

 

Preparar o navio para águas agitadas
Os riscos associados a um ambiente de alta volatilidade são elevados pelo que os especialistas aconselham prudência. “Com a elevada volatilidade existem também maiores riscos de serem cometidos erros e destes custarem mais. O que deve existir a todo o momento é um acompanhamento da evolução da situação económica dos países e mundial e da situação financeira das empresas, procurando alterações estruturais nos modelos de negócios ou nos sectores”, adverte Pedro Lino. O administrador da Optimize exemplifica o que aconteceu no primeiro trimestre: “os sectores mais afectados pela pandemia foram os mais afectados e alguns deles, como a aviação, turismo, estão perante alterações estruturais nos seus modelos de negócio. Nesse caso foi uma oportunidade de venda destes sectores antes do pânico de março, evitando o colapso destes sectores”.

Para Carlos Almeida a chave da estratégia para obter os melhores retornos passa pela “diversificação pela multiplicidade de ativos e de riscos associados a um portfolio” e pela “disciplina de investimento pelo foco no médio/longo prazo e pela regularidade em realizar reforços periódicos”. Aliados à moderação pelo discernimento em realizar investimentos em diferentes ciclos dos mercados financeiros (não investir só em períodos bons, nem tão pouco sair nos momentos maus)” completam “a trilogia virtuosa do investidor”.

Nuno Sousa Pereira realça que os investidores “deverão privilegiar uma estratégia de alocação de ativos com elevada flexibilidade, em termos de alocação de risco, no sentido de aproveitarem as melhores oportunidades que os mercados oferecem em cada momento”.

“Estratégias de investimento com mínimos e máximos de exposição por classe de ativos podem não ser os instrumentos mais eficazes para gerir o património financeiro num contexto de elevada volatilidade e correlação positiva dos ativos financeiros”, sublinha Carlos Almeida.

Por seu lado, Pedro Lino explica que fundos flexíveis, que oferecem a possibilidade de poderem estar investidos entre 0 a 100%, permitem que “num período de maior volatilidade e incerteza podem em ultimo caso estar 100% em liquidez, protegendo o património dos fundos destes momentos”. Desta forma, esta gestão flexível, diz, permite também realizar realocações sectoriais, “nomeadamente aos mais defensivos sem a necessidade de seguir a composição dos índices”, o que “reduzir a volatilidade face ao mercado”.

Carlos Almeida aponta os setores da tecnologia e saúde como aas tendências que deverão centrar as atenções até 2025. “Se a tecnologia decorre da alteração dos padrões de consumo e o advento de novos modelos de negócio, onde o nosso mundo ficará ainda mais tecnológico e digital, na vertente da saúde, a telemedicina é uma parte visível da transformação que estamos a assistir”, explica.

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