Passou um ano sobre a eleição do Presidente da República e ninguém contesta a insuperável popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa. Não há dia em que não faça prova de vida. Sobre tudo e sobre quase nada. Com a direita e a esquerda. Com empresários e sindicalistas. Com médicos e doentes. Com novos e velhos. Com agricultores e pescadores. Com juízes e advogados. Com presidentes empossados ou apenas eleitos e com reis ou rainhas. Até com Passos Coelho já almoçou…

Marcelo é um homem diferente. E um homem diferente só poderia dar um presidente diferente. É o que temos. Felizmente a esmagadora maioria dos portugueses está a gostar. E, aqui chegados, podemos perguntar se é Marcelo a correr atrás da popularidade ou se tudo isto é natural. Direi, tentando não magoar, que são as duas coisas. Aliada à evidente simpatia, descontração e capacidade de comunicação está uma indisfarçável necessidade de legitimação.

O Presidente dos Afetos percebeu que, num país politicamente crispado em que os partidos dificilmente convergirão e em que os políticos ocupam um lugar pouco invejável nos índices de popularidade, nada como estabelecer uma relação direta com o eleitorado. Marcelo quer falar diretamente com o Povo sem intermediação. Mas quer mais. Quer ser ele a voz através da qual o Povo se exprime.

A colagem de Marcelo ao Governo e a António Costa, que alguns consideram excessiva, existirá enquanto essa for a condição para que o Presidente seja o porta-voz das boas notícias. Mas quando o ciclo for desfavorável, isto é, quando as pessoas começarem a achar que as coisas vão correr pior, Marcelo será o primeiro a lançar alertas ou avisos à navegação.

O poder moderador e de influência não é suficiente para Marcelo porque não é aí que se encontra o centro da decisão política. Governar é fazer, não é esperar que os outros façam. Mesmo que façam bem feito. E quando não concorda veta ou deixa um comentário ao lado da assinatura de promulgação. Estaremos perante um desvio à democracia representativa e o surgimento de um novo modelo de democracia direta?

No fundo Marcelo quer governar sem ter a maçada de administrar o Estado ou responder perante o Parlamento. Discursa como um Chefe de Governo, faz-se acompanhar de ministros a quem aconselha decisões, anuncia indicadores de conjuntura, traça metas orçamentais, propõe reformas. No fim faz de conta que só quer ajudar. Para mais tarde poder vir dizer que sempre tentou ajudar.

Marcelo vive no “país das maravilhas”. Nas suas aparições diárias só fala do que é positivo, do que é bonito, do que é consensual. E nunca deixará de ser assim. A sintonia com a vontade popular – seja ela qual for – será sempre o caminho escolhido por Marcelo e a melhor garantia de que poucos se atreverão a contestá-lo. Hoje com António Costa amanhã com quem vier a seguir. Este “chapéu-de-chuva” institucional e pessoal só tem um problema. É que retira qualquer margem de manobra ao líder da oposição. Hoje a Passos Coelho amanhã a quem lhe suceder.