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Margrethe Vestager: quem é a dinamarquesa que rege o destino das ‘gigantes’ tecnológicas?

Desafiou a Google, a Apple e a Amazon e enfrenta qualquer empresa que pense em contornar as regras dos negócios na Europa. A comissária europeia da Concorrência já inspirou uma série de TV e representa a força de uma figura política. Merkel pode ser a mulher com o maior peso político da Europa, mas Vestager é a mais temida.
8 Março 2019, 17h16

Margrethe Vestager é a Comissária Europeia da Concorrência: tem 1,78m de altura e sangue de dinamarquês. É uma liberal do estilo clássico que acredita na liberdade de expressão e na liberdade no comércio e é uma das nove mulheres no total de 28 do colégio de comissários.

No seu gabinete em Bruxelas, a comissária europeia tem uma chamativa peça de cerâmica: uma mão fechada de onde sobressai o dedo médio em riste – uma prenda que recebeu de um grupo de sindicalistas quando, em 2012, ainda era vice-primeira-ministra da Dinamarca. Como a própria costuma admitir, o objeto em causa tem o objetivo de a recordar diariamente que, na política, é preciso tomar decisões difíceis e que estas nunca podem agradar a toda a gente.

Como comissária europeia, Vestager regula a atividade comercial em toda a União Europeia, fazendo dela uma das figuras políticas mais influentes no espaço europeu. O seu impulso para a autodeterminação está a moldar a forma como a tecnologia é usada em todo o mundo e os homens que estão à frente das maiores empresas de tecnologia do mundo já testemunharam o poder da dinamarquesa.

Controlo das gigantes tecnológicas

Tim Cook, CEO da Apple, confrontou Vestager em 2016, três anos depois da Comissão Europeia ter dado início a uma investigação do regime fiscal da ”grande maçã”. Segundo colegas da Comissária, a dinamarquesa tem uma reputação de ”gentileza dura”. É uma mulher que prefere uma discussão cordial mas que não teme confrontos se surgirem. Ainda assim, de acordo com as pessoas informadas sobre a reunião, Cook tentou intimidá-la, mas sem sucesso.

Sete meses depois, Vestager anunciou o seu veredicto ao declarar que “os benefícios fiscais da Apple na Irlanda são ilegais” e determinou que a empresa conspirou com o governo irlandês e que devia ao Executivo do país 13 mil milhões de euros de impostos em atraso. Para além disso, exigiu que a Apple pagasse 1,2 mil milhões de euros em juros. Em Cupertino, Califórnia, Cook ficou irritado. “É uma total política de porcaria”, afirmou numa entrevista ao ‘Irish Independent’.

E quem multa a Apple, multa o Facebook em 4 mil milhões por práticas de monopólio, a Amazon em 1,100 mil milhões por  prestar informações falsas ao adquirir a Whatsapp e a Google em 5 mil milhões por abuso do domínio do seu sistema operacional móvel Android.

A verdade é que Margrethe Vestager não parece ter medo de ir em frente com decisões polémicas. Desde a sua tomada de posse, abriu dezenas de averiguações e de processos contra inúmeras multinacionais e contra os próprios estados-membros. Sempre em nome da sacrossanta concorrência. Acusou a Gazprom de abusos comerciais nos seus contratos de venda de gás aos países bálticos e até a McDonald’s por abuso de posição dominante e distorção de regras nos contratos de franchising.

Protagonista na TV

Em poucos anos tornou-se uma das mais carismáticas figuras políticas do país, tendo conseguido aprovar algumas medidas complicadas, como um duro pacote de poupança na segurança social que incluía a redução do número de anos do subsídio de desemprego. A fama que alcançou nesses anos foi tal que até serviu de inspiração à personagem principal da série de televisão.

O resultado chamou-se ”Borgen”, uma produção que retrata o quotidiano da líder de um pequeno partido que chega a primeira-ministra. Um sucesso de audiências em que a protagonista se debate entre idealismo, pragmatismo e cinismo.

Favorita para suceder a Jucker

No universo de funcionários da Comissão Europeia, 35% dos cargos de gestão intermédia são ocupados por mulheres e o número desce para 32% quando se fala de diretoras ou equiparadas.

Vestager tem ainda dois anos de mandato como comissária da Concorrência. Depois disso, não sabe o que vai fazer mas sabe-se que é a favorita para suceder Jean-Claude Juncker como a próxima presidente da Comissão Europeia, segundo as sondagens da empresa de relações públicas Burson Cohn & Wolfe (BCW), preparada em colaboração com o EURACTIV e divulgadas no mês passado.

Com um índice de aprovação de 50,2%, Vestager foi a única comissária da equipa de 28 de Jean-Claude Juncker a atingir uma pontuação acima dos 50%, com o próprio Juncker a ficar em quinto, com uma pontuação de 44,4%.

A dinamarquesa ficou à frente da presidente dos negócios estrangeiros da UE, Federica Mogherini (49,6%), Frans Timmermans (46,9%), primeiro vice-presidente da Comissão, e Cecilia Malmström, comissária de comércio da UE (44,7%).

 

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