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Marinha portuguesa impede contrabando de petróleo ao largo da Madeira

Ao longo dos últimos meses vários navios têm transferido petróleo russo ao largo dos Açores e Madeira, uma manobra que acarreta riscos ambientais e que serve para ultrapassar embargos e impedir que se saiba quem está a comprar o petróleo do país de Putin.
16 Agosto 2022, 11h49

A Marinha portuguesa impediu a transferência de petróleo entre dois navios ao largo da Madeira. Esta prática tem sido utilizada por vários navios ao longo dos últimos meses ao largo dos Açores e da Madeira para transacionar petróleo russo e acarreta riscos ambientais devido à possibilidade de derrame de petróleo no mar.

Os navios foram intercetados pelo navio patrulha costeiro NRP Douro no domingo. As embarcações encontravam-se a 200 milhas náuticas (mais de 370 quilómetros) da ilha da Madeira.  O “Cristal Rose” e o “Natalina 7” têm ambos pavilhão do Panamá, e a sua propriedade está registada nas ilhas Marshall e na China, respetivamente.

“Os navios encontravam-se sem seguimento, perto do limite noroeste da Zona Económica Exclusiva da Madeira. Estes navios aparentavam um padrão de navegação que indiciava preparativos para a prática de abastecimento no mar e trasfega de crude entre navios, tendo o NRP Mondego aproximado e estabelecido comunicações com os mesmos”, acrescenta.

Primeiro, o “Cristal Rose” “assumiu que se encontrava a aguardar instruções para realizar a atividade de trasfega de crude, tendo-lhe sido comunicado que Portugal, ao abrigo da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, não autoriza a realização atividades de reabastecimento na Zona Económica Exclusiva nacional, pois acarretam um risco potencial para a ocorrência de poluição no mar. O navio, após interpelado, comunicou que se iria afastar da ZEE e deslocar-se para Gibraltar, tendo a Marinha mantido o acompanhamento deste movimento para assegurar o cumprimento das normas estabelecidas”.

Depois, o “Natalina 7”, que se encontrava a cerca de 50 milhas do primeiro navio “foi igualmente intercetado pelo NRP Mondego, tendo-lhe sido comunicado igualmente as regras estabelecidas dentro da ZEE nacional. O navio após ter sido avisado saiu das águas de jurisdição portuguesas, mantendo um rumo oeste, encontrando-se atualmente fora ZEE na Madeira.

Curiosamente, os dados mais recentes disponíveis nos sites marítimos apontam que o “Natalina 7” partiu do porto de Mizushima no Japão em maio. O último porto onde o “Natalina 7” esteve presente, que se saiba, foi no de As Suways, no canal do Suez no Egipto a 23 de junho, segundo o site “Vessel Finder”.

Já o “Crystal Rose” partiu de Singapura em maio, segundo os dados do site “Marine Traffic”. Esta falta de informação relativa a longos períodos de tempo pode indicar que estes navios desligaram os seus localizadores para impedir que os seus movimentos seja localizado, uma tática usada por navios que fazem este tipo de contrabando, para ultrapassar embargos petrolíferos.

Recorde-se que em junho foi noticiado que vários navios contrabandearam petróleo russo ao largo dos Açores e da Madeira ao longo deste ano.

Em 15 dias, pelo menos três petroleiros desapareceram dos sistemas de navegação à medida que se aproximavam desta região autónoma portuguesa, localizada a 1.500 quilómetros a leste de Portugal continental, segundo a “Bloomberg” avançou em junho, identificando os petroleiros “Afrapearl”, “Lauren II” e “Zhen I”.

O primeiro passou numa rota muito próxima à ilha de Santa Maria, a mais a sul do arquipélago. Já os outros dois estiveram mais perto da Região Autónoma da Madeira.

A “Bloomberg” já tinha revelado no início de junho que o “Lauren II” e o “Zhen I” tinham procedido à transferência. No final de maio, o petroleiro “Zhen I” transferiu a sua carga para o superpetroleiro “Lauren II” em pleno oceano Atlântico, 300 milhas náuticas a oeste da Madeira, a 100 milhas de distância das águas nacionais entre 26 e 27 de maio.

A agência noticiosa coloca a hipótese de a carga destes navios ter sido transferida para outros navios, algo que não acontecia antes da Rússia invadir a Ucrânia, assim como ‘apagarem’ os sistemas de navegação para permanecerem invisiveis para os satélites.

Outra possibilidade é que os próprios compradores não querem ser ‘vistos’ a comprar petróleo à Rússia. Esta tática é usada por navios petroleiros do Irão e da Venezuela, países também sujeitos a sanções. O embargo europeu ao petróleo russo só entra em vigor em força no final deste ano.

A transferência tem lugar, normalmente, entre um petroleiro mais pequeno para um maior, que depois transporta a carga para uma longa rota, normalmente para a Ásia.

Além da Madeira e dos Açores, estas transferência entre navios de petróleo russo também tem tido lugar ao largo da Dinamarca e no mar Mediterrâneo.

Segundo dados do site “Marine Traffic”, o “Lauren II” estava há um dia perto dos Açores e seguia rumo a Singapura, onde deve chegar no dia 1 de agosto. Já o “Zhen I” encontra-se no Mar Celta, ao sul da Irlanda, sem destino conhecido, depois de ter saído do porto russo de Primorsk a 14 de junho, no mar Báltico. Por sua vez, o “Afrapearl” encontra-se no Mar do Norte rumo ao porto russo de Ust-Luga, outro porto russo no mar Báltico.

Os russos estão a usar novos métodos (afastam-se da Europa e dos embargos) para vender o seu petróleo. Este tipo de transferência costuma ter lugar em águas mais calmas e perto da costa, e não em pleno mar alto, aumentando assim o risco de derrames e de desastres ambientais.

O mesmo tipo de transferência – de um navio mais pequeno para um maior – já teve lugar em várias localizações (Dinamarca, no Mediterrâneo a norte de Ceuta e no Mar do Norte ao largo de Roterdão), mas estas sãs as primeiras transferências vistas em mar alto.

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