O país está a ser gerido pelas redes sociais. Parece uma afirmação leviana mas, para quem está atento às notícias diariamente, às reações públicas e, sobretudo, as reações de quem não quer ser reconhecido, facilmente chega a esta conclusão. Até parece que a antiga brigada de um Governo antigo voltou a trabalhar em pleno.

Da parte da governação assistimos ao desmoronar de um elenco. As palavras da socialista Ana Catarina Mendes foram de crítica ao ministro Eduardo Cabrita por ter atuado tarde na questão do SEF, e os apoios divergentes de governantes socialistas aos candidatos presidenciais revelam até que ponto o apodrecimento vem de dentro.

Do lado da oposição há novidades, aliás, grandes novidades. Contrastando com a análise dos vários politólogos que aparecem na TV e nas redes sociais, as declarações do líder do Chega, André Ventura, não revelam um grande desplante, ou que Rio abriu a porta e Ventura está a falar de igual para igual. Não. A história de que Ventura num eventual Governo quer as pastas do MAI, Justiça, Defesa e Agricultura foi combinada com o líder do PSD, Rui Rio, e o objetivo é começar a criar a ideia de que o apodrecimento do Governo socialista vai criar condições e tornar viável uma coligação do centro-direita.

Ventura o que quis dizer com a afirmação de que quer pastas não pode ser entendida de forma literal. O que ele quis dizer foi que está disponível para uma coligação com o PSD, e até com o PS. O trabalho foi lançar a escada para obter votos.

O Chega é um partido do sistema e a sua constituição é perfeitamente legal em termos de programa e estatutos, de acordo com o Tribunal Constitucional. Os seus votos não são de segunda categoria, têm o mesmo valor que os votos dos comunistas e dos bloquistas, mas têm a diferença de ser votos de protesto e, sobretudo dos que habitualmente são abstencionistas. Lembremo-nos dos 2% do Tino de Rans para as presidenciais e percebemos que quem votou no candidato improvável não foram apenas os amigos da terra, mas todos os outros que não se reviam nos candidatos existentes.

Mas isto é a política que se está a fazer no Facebook e no Twitter, pois a política do dia a dia é realista e tem nomes sérios por detrás. Que o diga Teodora Cardoso, sobre quem acreditamos ter uma cabeça ainda mais lúcida do que Cavaco Silva, e que arrasou o Orçamento do Estado para 2021.

Do lado da economia real, o medo sobressai quando olhamos para a história e questionamos decisões como foi a intervenção no BES, a criação do Fundo de Resolução e o contrato com o comprador do Novo Banco. Pensamos no ridículo que foi alguém afirmar em 2014 que a intervenção no BES não custaria um euro ao contribuinte, ou as intervenções para ajudar o BPN ou o Banif, em que alguém decidiu que a culpa era do sistema financeiro.

A solução foi atacar um dos pilares da economia. Alguém se lembrou de criar o banco “bom” e o banco “mau” quando deveria ter criado o banco “com crime” e o banco “sem crime”, pois o crédito malparado não é crime e o BES (independentemente do que se descobrir nas investigações) estava particularmente exposto às PME. Vamos ver os novos “BES” quando terminarem as moratórias dos bancos e dos seguros e uma economia com projeções de crescimento anémico e novas exigências para grandes “buracos” como a TAP que vão acabar em défice. Felizmente temos marketing que nos diz que o contribuinte não irá desembolsar um único euro!