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“Matéria insuficiente”. Ministro da Defesa explica porque é que não avisou Costa e Marcelo de tráfico de diamantes nos comandos

“Nunca houve qualquer intenção de sonegar informação ao primeiro-ministro ou de desrespeitar o Presidente da República”, disse hoje João Gomes Cravinho no Parlamento.
19 Novembro 2021, 16h20

O ministro da Defesa disse hoje que, perante a informação que tinha em mãos, considerou que não havia a necessidade de avisar o primeiro-ministro e o Presidente da República das suspeitas de tráfico de diamantes no exército.

Chamado ao Parlamento para ser ouvido sobre a Operação Miríade, que investiga o tráfico nos Comandos do Exército na República Centro Africana, João Gomes Cravinho recordou a fita do tempo para explicar porque é que não avisou António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.

“A informação do início de 2020 era de caracter muito pontual, e especulativo, matéria insuficiente para levar as instâncias superiores. Nunca houve qualquer intenção de sonegar informação ao PM ou de desrespeitar o direito do PR enquanto comandante supremo das Forças Armadas (FA) de ser informado”, começou por dizer esta sexta-feira, 19 de novembro.

“Regista-se um descompasso muito significativo entre o que eu sabia no início de 2020, e o que passei a saber a 8 de novembro de 2021, que teria merecido da minha parte um juízo claro quanto à necessidade de informar o primeiro-ministro e o Presidente da República”, afirmou o ministro na comissão de defesa nacional.

Entrando em mais detalhe, recorreu à fita do tempo: “A 2 de janeiro de 2020, fui informado telefonicamente pelo chefe de Estado Maior das FA que se encontrava no estrangeiro, que havia uma denúncia relacionada com um militar da nossa força nas Nações Unidas (Minusca) destacada na República Centro Africana, e que tencionava encaminhar a denúncia para a Polícia Judiciaria Militar (PJM); concordei com o procedimento”.

E continuou: “Na semana de 6 de janeiro, falamos brevemente sobre o assunto que já tinha sido encaminhado para a PJM. Voltámos a falar a 13 de fevereiro, devido a uma denúncia envolvendo um segundo militar, também encaminhada para a PJM. Foi-me verbalmente transmitido que a denúncia dizia respeito ao alegado contrabando de diamantes, e que os militares referidos já não estavam no terreno; não me foi transmitida qualquer referência a ouro, estupefacientes ou associação criminosa, algo que vi posteriormente referenciado na comunicação social. Apenas dois casos isolados, de alegada conduta individual”.

“A comunicação foi verbal e concisa, nos dois casos, não havendo elementos que permitem verificar se as alegações eram fundamentadas, ou se eram espúrias, não nos competindo chegar a conclusões nesta matéria. Foi neste contexto que enquadrei o tratamento das denúncias”, acrescentou.

O ministro da Defesa garantiu que não voltou a ter “nenhuma informação sobre o assunto, até 8 de novembro de 2021, dia em que soube através da comunicação social da Operação Miríade, envolvendo centenas de agentes judiciais e vasta e alegada atividade criminosa”.

“Repito, não tive nenhuma outra informação sobre esta matéria, entre os indícios frágeis no início de 2020 e a dimensão completamente transfigurada da investigação revelada a 8 de novembro de 2021. Os elementos disponíveis no início de 2020 eram muito escassos, apesar da incerteza sobre a solidez das denúncias, impunha-se a transmissão dos elementos pertinentes para as autoridades judiciarias”, sublinhou na sua intervenção.

A PJ realizou 100 mandados de busca que culminaram em 11 detenções no âmbito da Operação Míriade a 8 de novembro, resultando em 11 arguidos, incluindo militaers e ex-militares, um advogado, um PSP e um GNR.

Em causa está a investigação a uma rede criminosa com ligações internacionais que se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas, com vista ao branqueamento de capitais, noticiou a Lusa a 10 de novembro.

 

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