No final deste ano, Lisboa será presidida por Fernando Medina ou por Carlos Moedas, os dois mais fortes concorrentes à maior das Câmaras Municipais portuguesas. Curiosamente, Lisboa será liderada por um natural do Porto ou por um de Beja. Mas o percurso destes dois candidatos, da mesma faixa etária, é bem diferente, embora apresentem pontos de contacto.

Fernando Medina, economista de formação, foi Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional e, mais tarde, Secretário de Estado da Indústria e Desenvolvimento, tendo, posteriormente, já na qualidade de deputado, integrado a Comissão de Acompanhamento da Troika por parte do Partido Socialista, matéria que a nível governativo estava sob a alçada de Carlos Moedas.

Em 2013, António Costa chama-o para número dois da lista para a autarquia da capital, numa altura em que se dava já como muito provável a intenção de Costa abandonar a política autárquica para liderar o Partido Socialista, apeando dessas funções António José Seguro. Tal movimentação viria a ocorrer em 2015, altura em que Medina lhe viu cair nas mãos a maior das Câmaras do país, tendo conseguido ser eleito em 2017, com 42%, numa votação em que viu escapar-lhe a maioria absoluta, o que fez com que tivesse que se encostar à esquerda para assegurar a governabilidade de Lisboa.

Carlos Moedas, engenheiro de formação, ficou conhecido por, em 2011, ter sido nomeado Secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, representando o governo no âmbito da negociação e coordenação do programa de ajustamento económico e financeiro, ou seja, tendo como principal missão monitorizar a intervenção da célebre troika em Portugal. Ainda antes do final do mandato do governo, Moedas foi nomeado Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, pelouro que lhe granjeou forte reconhecimento a nível europeu.  Pessoa de bom trato, diz quem o conhece que o filho do comunista “Zé” Moedas é um profissional capaz, inteligente, muito trabalhador, honesto e dedicado.

Se há quatro anos, Medina conseguiu deixar os seus opositores a uma distância considerável, com o centro-direita a ter em Assunção Cristas, com mais de 20% dos votos, a sua melhor candidata, já que o PSD decidiu apostar numa figura de segundo plano, Teresa Leal Coelho, que não foi além de uns escandalosos 11%, pouco à frente de João Ferreira, da CDU, com 9,5% e de Ricardo Robles, do Bloco Esquerda, com 7%, espera-se, agora, que Moedas possa dar à direita uma vitória importante nas autárquicas, invertendo a tendência dos últimos anos que tem feito da capital portuguesa um bastião da esquerda.

A tarefa de Moedas não se afigura, no entanto, fácil. Em primeiro lugar, porque Medina, apesar das inconsistências do seu mandato, com muita obra prometida, mas pouca concretizada, e com aquela que concretizou a revelar-se amplamente discutível, como os milhões gastos nas ciclovias que diariamente nascem na capital sem sopesar os eventuais prejuízos que daí podem resultar, tem a seu favor o facto de se recandidatar, o que, tradicionalmente, se releva uma vantagem, e, em segundo lugar, porque Lisboa tem, nos últimos anos, conhecido uma forte viragem da população à esquerda, o que favorece a candidatura de um socialista.

Mas Moedas arrasta consigo a imagem de pessoa séria e trabalhadora, capaz de tirar Lisboa do marasmo em que se foi deixando cair, de inovar e de trazer para a capital um prestígio que, não fora o Turismo, agora esquecido em tempos de pandemia, há muito anda arredado daquela que outrora já foi uma importante capital europeia.

O PSD e o CDS têm, neste candidato comum, uma boa aposta, sendo difícil imaginar, nos dias que correm, alguém que pudesse ter mais hipóteses de disputar uma Câmara que tem historicamente funcionado como trampolim para mais altos voos de todos aqueles que têm ocupado a cadeira da Presidência. Medina ou Moedas, um deles estará, nos próximos quatro anos, à frente dos destinos da edilidade lisboeta.