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Como aumentar a poupança? Especialistas dão a receita

Os portugueses têm das menores taxas de poupança da Europa. Sem uma almofada financeira, estão expostos a situações adversas inesperadas, como o desemprego. Especialistas dão a receita para aumentar a poupança.
26 Dezembro 2019, 08h05

1. Porque razão é que o aumento da poupança é importante para os portugueses e para a economia?

 

Pedro Lino, Presidente do conselho de administração da DiF Brokers

Poupança deve ser prioridade nacional

O nível de poupança dos portugueses tem vindo a diminuir de forma expressiva desde a entrada de Portugal no euro. Seja pelo aumento dos preços, pela crise financeira, a estagnação de salários ou simplesmente devido a uma maior carga fiscal, a segurança financeira futura dos portugueses está em risco. A poupança tem sido menosprezada nos diversos Orçamentos de Estado, um dos pilares fundamentais para uma economia forte e funcional, pois permite diminuir a dependência do financiamento externo, mantendo o sistema financeiro saudável. A inversão da pirâmide demográfica, traduzida no aumento do número de reformados em face do número de pessoas empregadas, constitui um sério problema humano e financeiro, porque as despesas com saúde tendem a aumentar e a receita esperada para a segurança social tenderá a diminuir, a não ser que através de contribuições extraordinárias do orçamento de estado. Neste contexto, a poupança deveria ser encarada como uma prioridade nacional. A constituição de complementos de reforma diversos, seja por via da constituição dos Planos de Poupança Reforma (PPR), de investimento em fundos de investimento ou no mercado de capitais ou ainda a exposição ao imobiliário deveriam estar no radar dos portugueses uma vez que permitem aumentar o bem estar social e psicológico. Basta pensar nas situações difíceis vividas por muitas famílias durante a crise financeira, para perceber que ter uma almofada financeiro pode fazer a diferença. No caso das empresas a situação é semelhante. Quando os mercados financeiros se fecharam para Portugal durante a troika, as empresas sem folgas financeiras ou as mais endividadas ficaram dependentes de um sistema financeiro fragilizado e muitas acabaram por falir. O impacto da ausência de poupança nas falências e na diminuição do crescimento potencial da economia portuguesa nunca foi verdadeiramente calculado, uma vez que, até hoje, através do fundo de resolução, continuamos a pagar estes problemas e a restringir o investimento, no que é o verdadeiro motor da economia. Infelizmente a memória é curta, e a importância de investimento e poupança tem sido descurada pela busca de objectivos de curto prazo – cobrança de impostos sobre o consumo.

 

 

Hugo Freitas, Responsável de Produtos de Investimento do ABANCA Portugal

Apostar na literacia financeira

A taxa de poupança das famílias mede a parte do rendimento disponível que não é utilizado em consumo final, é o rácio entre a poupança bruta e rendimento disponível. A poupança é vital à economia pois é o que sobra do rendimento disponível depois dos gastos em consumo, assim é deste montante que podem ser constituídos os nossos fundos de reserva (para momentos mais adversos) ou para, por exemplo, investir. Há uma relação íntima entre o potencial de crescimento de uma economia e o nível de investimento que está a ser feito nesta. Pode concluir-se que sem poupança não há crescimento económico sustentado, como quem diz, se eu não conseguir poupar, não consigo investir, e se não consigo investir, não consigo crescer. Se analisarmos a evolução da taxa de poupança das famílias em Portugal verificamos uma tendência de decréscimo sendo atualmente de 4,6% do rendimento disponível segundo os dados do INE. Podemos concluir que a taxa de poupança das famílias em Portugal nos últimos 5 anos caiu para quase metade (de 7,8% para 4,6%) registando atualmente uma das piores leituras desta série histórica. Uma das chaves para um aumento da poupança poderá residir no fomento da literacia financeira. Aqui não foco apenas em saber no que estamos a investir, mas principalmente em utilizar os recursos financeiros (escassos) de forma eficiente. Algo tão simples como abastecer combustível em postos com preços mais competitivos, em fazer as compras não recorrentes em períodos de maiores descontos, em procurar os fornecedores mais competitivos em telecomunicações, eletricidade ou gás. Estas contas à poupança permitem algo tão útil como continuar a usufruir dos mesmos serviços com um nível de custo mais baixo. Além das iniciativas pontuais que temos vindo a assistir neste âmbito, algo mais estrutural como incluir esta matéria numa disciplina no contexto de um programa escolar teria potencial para ter um impacto a médio prazo bem mais relevante e visível.

 

 

José Miguel Calheiros, Administrador do Bankinter, Gestão de Ativos

Benefícios fiscais ajudam a poupar

A taxa de poupança das famílias portuguesas está nos 5%, cerca de metade da Europa, fruto da intervenção da troika em Portugal na primeira metade desta década. Uma taxa de poupança tão baixa põe em causa o ritmo de crescimento económico de Portugal a médio prazo, dado que, para crescer de forma sustentada, é preciso investir (bem!) no desenvolvimento dos recursos produtivos da economia. Uma vez que estamos muito perto do limiar da sustentabilidade da nossa dívida externa, o investimento tem de ser sustentado pela poupança interna, em particular pela das famílias. Por outro lado, os portugueses, ao pouparem tão pouco, tornam-se mais vulneráveis aos imponderáveis de curto prazo da sua vida pessoal, casos do desemprego ou aumento do custo de vida, e à dura realidade da entrada na reforma, com a perspetiva, cada vez mais clara, de queda pronunciada do seu nível de rendimentos. Torna-se clara a necessidade de incrementar os níveis de poupança das famílias, algo que pode ser conseguido através de duas medidas: a introdução de benefícios fiscais à poupança/investimento com determinados fins, por exemplo, para a reforma ou o investimento na estrutura de capital de empresas/projetos portugueses; e a introdução, para todos os trabalhadores, de uma contribuição por defeito para um regime complementar ao da Segurança Social, da qual apenas se poderia abdicar por vontade expressa (e dessa forma, beneficiando da inércia que nos caracteriza, obrigando a uma poupança “forçada”). A indústria de gestão de ativos portuguesa tem já hoje no leque da sua oferta, produtos que permitem responder a essa necessidade, nomeadamente os fundos PPR, cujo formato e características de um fundo de investimento, aliados às vantagens fiscais, os tornam ímpares. Um «empurrão» das autoridades competentes seria bem-vindo pelos portugueses, para começar a resolver o atraso neste tema face aos nossos parceiros europeus.

 

 

Marco Silva, Consultor de Estratégia e Investimento

Poupança deve servir para investir

A poupança é um dos temas mais importantes não apenas para o cidadão individual como para a Economia, não sendo no entanto um assunto tão simples como se poderá presumir à partida.

Isto porque se um nível elevado de poupança é indiscutivelmente benigno para a Economia é preciso que o ciclo do investimento se feche, para que os benefícios não se tornem em constrangimentos, nomeadamente devido ao “Paradoxo de Thrift”, onde um aumento súbito de poupança leva a que o consumo privado se restrinja de tal forma que afecta o crescimento económico, o que por sua vez leva a uma recessão e aumento do desemprego, ou ao prolongamento de ambos, como ocorreu no Reino Unido após a Grande Depressão de 1929.

Ou seja, a poupança deve ser utilizada para investimento, que fomenta o crescimento económico, não servindo de nada se ficar parada nos “cofres dos Bancos”, o que para a Economia seria o mesmo que o capital ficar “debaixo do colchão”.

Por outro a poupança é uma via importante para garantir uma estabilidade financeira um pouco por toda a vida profissional do cidadão, mas principalmente na fase da reforma, altura em que um investimento bem feito no início da sua carreira poderá valer uma pequena fortuna, garantindo assim um final de vida financeiramente despreocupado e sem depender do Estado.

Outro ponto relevante tem a ver com o tipo de poupança a fazer, hoje existem facilmente acessíveis a qualquer cidadão, um sem número de investimentos interessantes que se podem fazer fora do tradicional “deposito a prazo” ou dos PPR´s, por exemplo o investimento directo em índice de acções ou a Fundos de sectores específicos, como o imobiliário, permitindo a um investidor bem informado tirar partido de rentabilidades muito superiores consoante o ciclo económico e com o mesmo ou um pouco mais de risco.

Importa acima de tudo é planear convenientemente e saber muito bem o que se está a fazer, a poupança é uma das decisões mais importantes que tomamos na nossa vida, pelo que deve ser encarada com respeito e seriedade, porque é o nosso futuro que está em causa.

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