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Fantasma do Natal passado. Como estava a pandemia em Portugal há um ano?

Os portugueses preparam-se para entrar na quadra natalícia com novas medidas restritivas e apelos por parte das entidades responsáveis, numa altura em que se assiste a um agravamento de novos casos por Covid-19, tal como há um ano. E à semelhança de 2020, também este ano estamos perante uma nova variante. O que mudou?
  • Câmara Municipal de Lisboa
21 Dezembro 2021, 08h00

À semelhança do ano passado, os portugueses preparam-se para entrar numa quadra natalícia marcada pela pandemia, agravada, em ambos os casos, pelo surgimento de uma nova variante.

Enquanto que em 2020, a variante Delta começava ganhava terreno em Portugal e no mundo, impulsionado o ritmo de infeções, internamentos e mortes por Covid-19, este ano a variante Ómicron ameaça recuperar essa memória ainda que os números se encontrem longe daqueles assistidos há um ano.

“A comparação com o ano passado é inevitável. Este ano, apesar de termos um terços dos óbitos e dos doentes em cuidados intensivos, graças à cobertura vacinal, a taxa de incidência é a mesma que a do ano passado fruto das novas variante que circulam em Portugal”, explicou ao Jornal Económico (JE) Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública (AMSP), frisando no entanto que Portugal vive hoje uma “realidade diferente” de há um ano atrás.

Para melhor perceber a realidade atual e a do ano passado, o JE recolheu os dados divulgados nos boletins epidemiológicos diários divulgados pela Direção-Geral de Saúde (DGS), entre os dias 13 e 19 de dezembro em ambos os anos, referentes às infeções diárias, internamentos, mortes e número de recuperados.

Assim, nos sete dias em questão, foram registados, em 2020, 26.087 casos confirmados e 354 mortes associadas ao vírus, enquanto que este ano durante o mesmo período somaram-se 26.904 contágios confirmados (mais 817 infeções) e 120 mortes (menos 234 mortes). Isto, numa altura em que o país, em 2020, se encontrava em estado de emergência o que obrigou ao encerramento de vários estabelecimentos, a limitações na circulação entre conselhos e ao teletrabalho obrigatório. Atualmente, está apenas decretado o estado de calamidade e vigoram medidas como a apresentação de certificados de vacinação ou de testagem para entrar em estabelecimentos e a recomendação do teletrabalho.

No ano passado, durante o período em análise, o dia com mais contágios foi a 16 de dezembro (4.720 casos confirmados), o dia com maior número de doentes internados foi a 14 de dezembro (3.254 em enfermaria; 513 em unidades de cuidados intensivos (UCI)) e o dia com mais mortes foi a 13 de dezembro (98).

Comparando com este ano, o dia 13 de dezembro foi aquele com mais doentes internados em enfermaria (994) e dia 16 de dezembro foi o dia com mais doentes em UCI (158). No que toca às infeções, as 5.800 contabilizadas no dia 15 de dezembro, fizeram do dia aquele com mais infenções confirmadas há mais de dez meses, mais concretamente desde 6 de fevereiro, dia em que foram contabilizados 6.132 casos. Bem diferente desse dia, foi também o número de mortos que era de 214 e que naquele dia foi de onze.

2020 Infeções Internamentos Mortes Recuperados
13 de dezembro 4.044 3.157 em enfermaria; 513 em UCI 98 2.869
14 de dezembro 2.194 3.254 em enfermaria; 513 em UCI 90 2.955
15 de dezembro 2.638 3.206 em enfermaria; 506 em UCI 84 5.761
16 de dezembro 4.720 3.181 em enfermaria; 486 em UCI 82 3.681
17 de dezembro 4.320 3.142 em enfermaria; 494 em UCI 87 3.309
18 de dezembro 4.336 3.061 em enfermaria; 484 em UCI 75 3.662
19 de dezembro 3.835 2.973 em enfermaria; 485 em UCI 86 4.124
26.087 354

 

2021 Infeções Internamentos Mortes Recuperados
13 de dezembro 2.314 994 em enfermaria; 144 em UCI 15 1.878
14 de dezembro 3.591 953 em enfermaria; 142 em UCI 14 6.358
15 de dezembro 5.800 967 em enfermaria; 150 em UCI 11 3.586
16 de dezembro 5.137 952 em enfermaria; 158 em UCI 19 3.406
17 de dezembro 734 943 em enfermaria; 147 em UCI 24 3.886
18 de dezembro 5.062 905 em enfermaria; 147 em UCI 12 5.016
19 de dezembro 4.266 931 em enfermaria; 145 em UCI 25 1.692
26.904 120

 

Ou seja, “em termos de incidência estamos igual ao do ano passado, em termos de gravidade estamos mais controlados e protegidos mas não devemos minimizar o aumento dos casos”, alertou o responsável ao JE.

Portugal conta com três variantes “mais contagiosas” atualmente em circulação

A “realidade diferente” defendida pelo responsável AMSP é sustentada por dois factores: as variantes em circulação e cobertura vacinal.

“Temos atualmente a circular três variantes em Portugal: a Delta, a subvariante da AY4.2 e agora a Ómicron. Todas variantes mais contagiosas do que a Alfa e a original e isso mostra-nos que foi fundamental atingir uma cobertura vacinal tão grande como a que temos agora, porque não fosse esse o caso os casos seriam hoje três vezes maior e a situação seria mais dramática”, frisa Gustavo Tato Borges.

Até ao dia 18 de dezembro, segundo os dados do Our World in Data, Portugal regista 87% da população totalmente vacinada contra a Covid-19, colocando o país na posição cimeira do processo de vacinação contra o vírus a nível mundial — e recorde-se que atualmente, decorrem os processo de vacinação às crianças entre os 5 e os 11 anos e a administração das doses de reforço.

Mas mesmo com uma cobertura vacinal elevada, a variante Ómicron poderá vir a exercer pressão sobre o número de casos confirmados e, consequentemente, também sobre os hospitais. Segundo a ministra da Saúde, e “com base nas estimativas, sabemos que a prevalência desta variante ronda já os 20%, sabendo-se que poderá ser de 50% na semana do natal e de 80% na semana do final do ano”.

“A nossa preocupação é que em janeiro tenhamos uma pressão hospitalar acima daquilo que seria aconselhável e tenham de ser cancelados ou adiados cuidados para outras patologias”, afirmou o investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, em declarações à “Sic Notícias”.

Caso isso se verifique, Gustavo Tato Borges defende que “poderá ser muito importante adotar  medidas mais restritivas”, sendo que aquelas  previstas para 2 a 9 de janeiro “poderão vir a ter que ser antecipadas” ou agravadas, como por exemplo, o encerramento de estabelecimentos onde é difícil manter o distanciamento ou até mesmo o uso de máscara — medidas que serão anunciadas esta terça-feira pelo primeiro-ministro, durante o briefing do Conselho de Ministros.

Ainda que país se mantenha em alerta, o especialista partilha um ligeiro otimismo “por natureza”, admitindo “não ver necessidade de confinamentos mais alargados, devido à menor gravidade da doença”, ainda assim apela ao bom senso e comportamentos preventivos dos portugueses para a quadra natalícia que se avizinha:

“Tenho esperança que os portugueses relembrem janeiro e fevereiro deste ano e que tomem as medidas adequadas para minimizar os contactos. Passem a ter contactos sociais mais contidos e controlados. Isso é que o importa nesta altura do ano: não cometer os mesmos erros do ano passado”, vincou.

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