[weglot_switcher]

Mercadona atingiu vendas recorde em março, mas recuou 95% nos lucros

Distribuição de prémios e aumento de custos com equipamentos de limpeza, desinfeção de instalações e aumento de transportes explicam porque é que os lucros não estão a acompanhar a subida das vendas no setor da distribuição.
21 Abril 2020, 13h28

A Mercadona comuniciou aos seus colaboradores que atingiu vendas recorde de 2.331 milhões de euros no passado mês de março, na sua operação em Espanha e Portugal, de acordo com uma notícia hoje publicada pelo jornal espanhol ‘El Confidencial’.

No entanto, nem sempre filas de clientes, supermercados com grande afluência de consumidores e grandes aumentos de vendas se traduzem em crescimentos nos lucros.

Segundo a referida notícia, a Mercadona viu o seu lucro reduzido em 95% no passado mês de março face ao período homólogo.

Entre as razões explicativas para este fenómeno estão o facto de a cadeia retalhista espanhola ter distribuído um prémio de 20% dos respetivos salários pelos colaboradores para recompensar os seus esforços nesta fase de pandemia, um esforço avaliado em cerca de 46 milhões de euros.

Por outro lado, no período em análise, a Mercadona gastou cerca de 14 milhões de euros em material para proteger os seus trabalhadores, como máscaras, géis e divisórias, em EPI – Equipamentos de Proteção Individual (um milhão de euros por dia), aumento de transporte (12 milhões de euros) e desinfeção de lojas e armazéns (seis milhões de euros).

Além disso, nesta fase, os consumidores vão aos supermercados comprar essencialmente dois tipos de bens essenciais: bens alimentares e artigos de limpeza, descartando quase tudo o resto.

“A Mercadona transmitiu aos seus colaboradores que as vendas recorde de 2.331 milhões de euros em março dificilmente se traduziram num lucro de cinco milhões de euros, em comparação com os 57 milhões esperados, segundo um comunicado interno ao qual teve acesso o jornal espanhol ‘El Confidencial’. Isto deve-se ao aumento nos custos derivado da situação gerada pelo Covid-19, no valor de 100 milhões de euros”, explica a referida notícia.

O ‘El Confidencial’ adianta que, “por outro lado, a empresa também gastou 14 milhões em material para proteger trabalhadores, como máscaras, géis e divisórias”, acrescentando que, “somente em equipamentos de proteção individual (EPI), a empresa paga um milhão de euros por dia”.

“Além disso, [a Mercadona] gastou 12 milhões em aumento de transporte e seis milhões em desinfeção de lojas e armazéns”, adianta a mesma notícia.

“Na empresa, confirmam que tiveram de enfrentar todos os tipos de despesas que não foram levantadas porque a logística esteve sob grande ‘stress’. Prova disso é que a empresa teve de concentrar o abastecimento em produtos básicos, fechando secções inteiras. Esta mudança também terá influenciado a sua margem comercial. Fontes da empresa explicam que esse lucro não responde totalmente à realidade, porque é um valor interno indicativo. Acrescentam que o lucro à venda, no mês de março, foi de 0,2%, quando geralmente tende a ficar em torno de 3%. Segundo as mesmas fontes, a Mercadona terá visto os seus lucros cair 95%”, revela o ‘El Confidencial’.

De acordo com essa notícia, “a justificação para estes números é o aumento de despesas excecionais para lidar com a pandemia e recompensar os funcionários”.

“A principal delas foi o pagamento de um prémio adicional aos trabalhadores, que custou à empresa 46 milhões de euros. Este prémio consiste no pagamento de um extra de 20% do salário num único pagamento aos seus funcionários pelo trabalho realizado, com os consequentes perigos de contágio e os dias de tensão máxima que eles viviam, devido à avalanche de clientes que inundaram as lojas por medo de situação de escassez devido à Covid-19”, explica o jornal espanhol.

Citando dados da Nielsen, o ‘El Confidencial’ destaca que as vendas do setor da distribuição em Espanha no passado mês de março foram “históricas, subindo mais de 71%”.

“O nervosismo geral que tomou conta de grande parte da população no início da disseminação da doença, em Espanha, foi a causa dessas vendas maciças no início. Foi até questionada na altura a possibilidade de que o abastecimento não fosse suficiente e houvesse escassez”, recorda o ‘El Confidencial’. Em Portugal, ocorreu um fenómeno semelhante.

“Mas o que aconteceu (segundo a Nielsen) é que as vendas dispararam e multiplicaram por 20 o aumento médio da rotatividade que o setor teve nos dois meses anteriores. Destacando aumentos de mais de 335% para leguminosas e 259% para arroz e massas. Esse foi o ‘boom’ inicial, mas parece que, embora não com tanta intensidade, os supermercados continuam a ter mais riqueza em tempos de confinamento. Durante a Páscoa, o setor aumentou as vendas em 20% em relação ao ano anterior. No entanto, apesar de vender mais, todo o setor está a enfrentar custos imprevistos que, em muitos casos, não compensam o aumento do volume de negócios”, resume o ‘El Confidencial’.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.