Os tempos não vão fáceis. Inquestionáveis bancos sediados em países-fortaleza parecem instalar a incerteza à escala global.

Taxas de inflação elevadas parecem voltar a dominar as nossas vidas e ninguém parece lembrar-se como vivemos com anos sucessivos de taxas de inflação entre os 20 e os 30%, com juros retidos pelos bancos no momento da concessão dos financiamentos.

Aparentemente, também já ninguém consegue determinar se a escalada de preços dos bens alimentares decorre da especulação dos comerciantes ou do acréscimo de custo dos factores de produção.

Claro que há sempre um novo Observatório que se pode criar, há sempre um discurso sobre regulação, seja lá isso o que for, que se pode fazer, e, até, pode acontecer que algumas destas angústias possam desaparecer pela simples razão de delas deixar de se falar.

Estávamos nós a tentar conviver com a angústia que a magnitude destes assuntos suscita quando os russos se fizeram ao mar e nos entram pela porta dentro num navio de que até hoje não sabemos as capacidades.

Pelos vistos um navio russo terá navegado junto à portuguesa Ilha de Porto Santo. Ora, um navio russo deve ser acompanhado pela nossa Armada, não “vá o diabo tecê-las”. Tanto mais que parece existir um certo contencioso entre os russos e a NATO… Dadas ordens para o vaso de guerra português avançar, este não avançou. E, assim, o vaso de guerra russo pode espraiar-se sem controlo pelas nossas águas.

Curiosamente ninguém parece estar preocupado com a materialidade do não cumprimento da missão, i.e., saber o que terá feito o tal navio russo. O país, ou a televisão, ainda não percebi bem, anda a discutir outras duas questões.

Uma, a de saber se o NRP Mondego metia água e se tinha motores para concretizar o empreendimento que lhe foi destinado. Outra, a de saber quais as consequências disciplinares e criminais do comportamento de uma parte da sua guarnição. E dos russos, há notícia?

Ora, talvez fosse relevante alguém com responsabilidade vir esclarecer os portugueses do seguinte:

a) Quando militares não cumprem ordens há insubordinação. Nas Forças Armadas insubordinação é crime e como tal deve ser tratado;

b) O NRP Mondego estava, ou não, em condições de segurança para navegar e cumprir a missão?

  • Metia água?
  • Os motores funcionavam na sua capacidade de segurança?
  • Tinha capacidade de fogo para fazer abortar alguma operação ilegal do navio russo?
  • Tinha militares treinados e municiados para a missão, nomeadamente para uma abordagem, se necessário fosse, ao navio russo?

Quero acreditar que os militares insubordinados eram isso mesmo, insubordinados.

Ao ouvir nas notícias que o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada vai dialogar com os insubordinados só posso concluir que, uma de duas, ou adoptou a máxima “que nem um só voto se perca” ou, de facto, o navio “metia água” …

Que saudades de um outro Almirante que perante as ameaças dizia “É só fumaça!”, ou, “Fui sequestrado. Já duas vezes. Não gosto de ser sequestrado. É uma coisa que me chateia. (…) Eh pá, agora vou almoçar!”. E dos russos, há notícia?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.