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Ministro da Cultura: Amílcar Cabral cabe nas comemorações dos 50 anos da democracia

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, afirmou, na cidade da Praia, que o papel de Amílcar Cabral, líder histórico da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, também cabe nas comemorações dos 50 anos da democracia portuguesa.
9 Junho 2022, 20h21

Como se houvesse alguma dúvida, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, afirmou hoje, na Praia, que o papel de Amílcar Cabral, líder histórico da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, também cabe nas comemorações dos 50 anos da democracia portuguesa.

“Em janeiro cumprem-se os 50 anos do assassinato de Amílcar Cabral e a interpretação que nós fazemos – nós estamos a celebrar os 50 anos da democracia portuguesa – dessas celebrações é que elas devem ser celebrações longas, que devem compreender as várias dimensões explicativas do processo de transição para a democracia em Portugal e a sua ligação com a guerra colonial”, afirmou Pedro Adão e Silva, que hoje iniciou uma visita de quatro dias a Cabo Verde.

“Com, aliás, eventos muito próximos no tempo de grande significado, como seja a vigília da Capela do Rato, em Lisboa, que faz 50 anos este dezembro, logo depois, umas semanas depois, o assassinato de Amílcar Cabral, pouco tempo antes a embaixada dos líderes dos movimentos de libertação ao Papa Paulo VI”, exemplificou.

Fundador do então Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que em Cabo Verde deu lugar ao Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), e líder dos movimentos independentistas nos dois países, Amílcar Cabral foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri.

Para o ministro da Cultura de Portugal, que também esta tarde visitou a Fundação Amílcar Cabral (FAC), na Praia, há “um significado muito importante que explica como é múltipla e tem várias dimensões o processo” que levou “à democracia e à independência das ex-colónias”.

“E em que o papel de Amílcar Cabral foi naturalmente fundamental, não apenas como símbolo, mas como ator muito relevante no período antes da independência”, reconheceu.

O ministro português reuniu-se esta tarde com o homólogo cabo-verdiano, Abraão Vicente, que em março garantiu que o Ministério da Cultura de Cabo Verde vai assumir a responsabilidade institucional e os custos da candidatura dos escritos de Amílcar Cabral ao programa “Memória do Mundo” da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

“Há, naturalmente, um apoio que, de novo, o Ministério da Cultura pode dar e explorar no contexto da Direção-Geral do Livro, de apoio a uma instituição deste tipo”, afirmou Pedro Adão e Silva, questionado sobre a possibilidade de Portugal ajudar neste processo.

Já segundo Abraão Vicente, esta candidatura “faz parte da estratégia nacional para preservar o legado” de Amílcar Cabral e Cabo Verde está “à procura de mais parcerias” para esse processo.

Após a visita do ministro português, o presidente da FAC, o ex-presidente da República Pedro Pires, afirmou que a candidatura dos escritos à UNESCO “está a avançar”: “Nós vamos acompanhando e ficar à espera. De todo o modo, as informações que nós temos é que o processo está avançar através da Comissão da UNESCO de Cabo Verde”.

Pedro Pires reconheceu igualmente o simbolismo da visita do ministro da Cultura de Portugal à fundação.

“É interessante porque significa que o ministro dá atenção à problemática da memória, dá atenção à figura histórica de Amílcar Cabral. Para nós é um gesto simpático, mas ao mesmo tempo que valoriza a ação e o trabalho que a Fundação Amílcar Cabral vem desenvolvendo”, acrescentou.

O presidente da FAC já considerou o processo da candidatura dos escritos à memória da UNESCO e as celebrações do centenário do nascimento de Cabral seria “muito mais completo” com a participação da Guiné-Bissau e Portugal.

Além da candidatura dos escritos de Cabral ao programa “Memória do Mundo”, a fundação está a trabalhar nas comemorações do centenário do nascimento do seu patrono, cujo ponto alto vai ser em 12 de setembro de 2024.

“Estamos numa fase de agitação, de contactar as entidades, quer locais, quer nacionais. Falta-nos qualquer coisa na organização do que nós podemos fazer, mas nessa matéria eu acho que a maior responsabilidade cabe ao Estado de Cabo Verde”, disse Pedro Pires.

A fundação, que tem como missão a preservação da obra e memória do seu patrono, criou em 2015 o espaço museológico Sala-Museu Amílcar Cabral, onde pretende dar a conhecer às gerações mais novas e aos turistas que visitam a cidade da Praia a história da luta de libertação liderada por Cabral.

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