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Ministro da Economia da Argentina renuncia pressionado por caos económico

A renúncia veio através de uma extensa carta de sete páginas publicada nas redes sociais na qual afirma não ter apoio no próprio Governo para a aplicação dos seus conceitos económicos e por falta de margem para tomar decisões.
3 Julho 2022, 20h46

O ministro da Economia da Argentina, Martín Guzmán, renunciou ao cargo, depois de meses de pressão da própria coligação de Governo, contrária à sua política económica, e pelo caos numa economia asfixiada pelo défice fiscal e pela inflação galopante.

A renúncia veio através de uma extensa carta de sete páginas publicada nas redes sociais na qual afirma não ter apoio no próprio Governo para a aplicação dos seus conceitos económicos e por falta de margem para tomar decisões.

“Pode ser que vários dos meus conceitos não gerem entusiasmo em vários, mas sempre achei (e acho) que acalmar a economia constituiria uma verdadeira épica”, indica o ministro, aceitando que a economia vive sob turbulências.

Durante a sua gestão de dois anos e meio, iniciada em 10 de dezembro de 2019, o ministro reestruturou a dívida pública com credores privados externos e com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No entanto, embora o país não tenha compromissos com a dívida externa pelos próximos anos, o défice fiscal não diminuiu e a taxa de risco-país manteve-se em 2.500 pontos-base, um nível que indica risco iminente de ´default´.

“Uma condição necessária era resolver o problema das dívidas externas insustentáveis. Era um ponto de partida. Uma condição necessária, mas não suficiente, para retirar o pais da trilha recessiva”, admite o ministro na carta.

A falta de um plano económico para combater o défice fiscal e a inflação galopante que o mercado projeta entre 80% e 100% em 2002 foi agravada pelo “fogo amigo” da coligação de Governo. A vice-presidente Cristina Kirchner critica aberta e diariamente a política económica, desgastando o ministro e a própria gestão do Presidente Alberto Fernández.

Sem acesso ao mercado de crédito e sem reservas no Banco Central, o Governo financia-se através da emissão de dinheiro sem respaldo, alimentando a inflação e o défice fiscal que deveria cair de 3% do PIB a 2,5%, segundo o acordo com o FMI, mas que subiu a um ritmo de 4%.

Há uma semana, as fortes restrições ao movimento de capitais e ao acesso das empresas ao mercado de câmbio tornaram-se proibições. A necessidade de acumular reservas no Banco Central para cumprir com o acordo com o FMI levou o Governo a obrigar as empresas a se autofinanciarem se quiserem importar.

Como as importações de componentes são cruciais para a própria indústria local, a medida teve forte impacto na produção, no aumento de preços e na taxa de câmbio, pressionada por uma desvalorização do peso argentino.

O caos económico redobrou a pressão pela renúncia do ministro da Economia, abrindo uma crise política, sobretudo porque ainda não existe um nome substituto. Na sua carta de demissão, o ministro considera crucial que o nome surja de um acordo político que não impeça a implementação de medidas.

“Considero primordial um acordo político dentro da coligação de Governo”, sugere, ao mesmo tempo que critica a falta de poder para tomar decisões.

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