A ideia de um gasoduto de Sines à Alemanha não é economicamente competitiva com os terminais espanhóis nem tem capacidade para satisfazer uma parte substancial do consumo interno alemão, avisam Luís Mira Amaral e o Fórum para a Competitividade. Além disso, potenciais corredores verdes para exportar hidrogénio devem ser, neste momento, embrionários, dada a falta de maturidade desta tecnologia e a fase prematura dos projetos a ela associados.
Na nota de perspetivas empresariais do último trimestre de 2022, Luís Mira Amaral argumenta que os investimentos anunciados pelo primeiro-ministro são pouco adequados, devendo o Governo dar prioridade a ligações ferroviárias que permitam estimular as exportações já existentes da economia nacional e a reduzir o isolamento elétrico da Península Ibérica.
Para o antigo ministro, a capacidade do porto de Sines é limitada para fazer face às necessidades de consumo interno alemãs, não correspondendo a mais de um oitavo do total de gás natural consumido pela maior economia europeia. Assim, a possibilidade de mais ligações por gasoduto entre Espanha e França não são muito relevantes para Portugal, até porque o terminal de Sines não é competitivo face aos espanhóis, onde a capacidade por utilizar é substancialmente maior.
Por outro lado, no que respeita a hidrogénio verde, Mira Amaral retrata esta tecnologia como prematura, com poucos projetos existentes em Portugal e todos em fase de demonstração, pelo que não é compreensível a suposta aposta nesta solução.
“É verdadeiramente paradoxal estar o governo português preocupado já em assegurar condições para se exportar hidrogénio verde para a Europa chegando a um acordo com Espanha para as interligações, quando o hidrogénio verde ainda não é produzido em Portugal, há apenas projetos de demonstração”, expõe o antigo governante, não compreendendo a falta de investimento em ferrovia.
“Para a nossa indústria exportadora, onde há produto concreto que se exporta para a Europa, [o Governo] não se preocupa minimamente em fazer um acordo com Espanha para assegurar interligações de bitola europeia e condições de interoperabilidade entre as redes ferroviárias portuguesa e europeia que permitam o transporte competitivo das nossas exportações para a Europa por via ferroviária”, completa.
Por outro lado, ligações elétricas permitem “a oportunidade de exportar para a Europa os grandes volumes de energia sobrante que vamos ter com os vultuosos investimentos que se projetam em Portugal em parques eólicos offshore (10 gigawatt) e em energia fotovoltaica (8 gigawatt)”, remata.