Responder a um lock-down global da economia é um desafio sem precedentes, portanto sem lições apreendidas de outras epidemias ou crises económicas. Nenhum ecossistema do universo da mobilidade está preparado para responder ao que será o novo normal.

 

Importância da gestão da incerteza com base em cenários
Podemos identificar, entre outros, dois principais eixos de incerteza: (i) prioridade na saúde pública versus atividade económica (ou mortalidade versus desemprego) e (ii) impacto epidemiológico permanente versus surto único. O cruzamento destas incertezas gera diferentes cenários, com distintos níveis de confinamento e de retoma da atividade económica para cada ecossistema da mobilidade.

 

Operacionalização de um maior foco na saúde pública
Até recentemente centralizada no terrorismo, é esperada uma mudança de paradigma de segurança com um crescente foco na saúde pública. Como o impacto do 11-setembro na aviação ilustra, iniciativas como controlo de temperatura em veículos e estações, higienização diária de frotas, ou bilhética totalmente digital são desafios operacionais ativáveis, embora possam acarretar custos significativos. É crítica a capacidade de ativar iniciativas que criem confiança nos consumidores.

 

Capacidade de reequilibrar procura e oferta
É esperada uma menor necessidade de deslocações via aumento de pessoas a trabalhar a partir de casa. Isto resulta em (a) uma diminuição da procura de transporte público coletivo, (b) aumento de aderência aos modos soft (pedonal, bicicleta e trotineta), (c) efeito incerto na procura de mobilidade partilhada (dependente do perfil de cada mercado e da política de resposta governamental) e na adoção de conceitos de propriedade fracionada, e (d) redução do consumo de viatura privada. Do lado da oferta, é expectável uma maior proliferação de pagamentos eletrónicos de portagens e aplicações móveis de pagamento de bilhética, um foco na introdução de novos serviços (e.g., drive-thru de farmácias), e ajustes significativos na capacidade por veículo.

 

Universalização do e-commerce
O contexto atual pode acelerar a penetração de e-commerce para uma adoção em massa. Adicionalmente, a proliferação de cadeias de distribuição no last-mile favorece players com operação já montada, sendo também esperada a introdução de meios human-free como drones ou robotização, e procedimentos dual sourcing para minimizar risco na cadeia de abastecimento.

À medida que as organizações tentam desenhar o novo normal, é especialmente crítica a articulação entre os diferentes ecossistemas da mobilidade e que as empresas planeiem o rebound com base em cenários de forma a conseguirem gerir as incertezas do mundo atual.