A Comissão Europeia definiu um conjunto de metas ambiciosas para 2030 no que diz respeito a emissões de CO2 de veículos, os fabricantes de automóveis, pressionados pela regulação, estão a acelerar o lançamento de novas ofertas, os países e as cidades já estão a proibir ou limitar o acesso a determinadas zonas por veículos a combustão e os clientes-condutores estão a aderir à eletrificação dos seus veículos (foram vendidos em 2020 mais de um milhão de veículos elétricos, 100% elétricos ou híbridos, na Europa).
A realidade mostra-nos, ainda assim, que estamos a arrancar de uma base muito baixa (apenas aproximadamente 1% do total de veículos na Europa são elétricos) e uma aceleração real é necessária para atingir os objetivos de descarbonização, dado que o transporte rodoviário é responsável por quase 25% das emissões de GEE (gases efeito de estufa).

Em Portugal, os VE representaram, desde o início do ano até maio, 15,5% da venda de novos veículos ligeiros de passageiros, apresentando taxas de crescimento na ordem dos 58% mesmo em tempos de pandemia. A preferência dos portugueses está a incidir sobre os veículos híbridos, representando estes aproximadamente 65% destas novas compras, evidenciando ainda uma certa caução face às opções 100% elétricas. A adoção de veículos elétricos, como qualquer outra tecnologia, depende sempre das forças de mercado.

Do lado da oferta, com mais de 200 novos modelos a serem lançados entre 2020 e 2021 e com variadas marcas fortemente investidas nestes segmentos e a tomarem compromissos públicos com estas tecnologias (a Honda comprometeu-se a vender apenas VE na Europa a partir de 2022, tendo como objetivo anterior 2025; e a Volvo quer cessar a produção de carros a gasolina a partir de 2025, entre outros). Falta de escolha já não é um problema.

No preço, a vertente fiscal tem ainda um peso considerável, como o incentivo à aquisição, e necessita de medidas estáveis, principalmente porque na adoção por profissionais, como sendo as frotas empresariais, o TCO (total cost of ownership) é fundamental. Estima-se que os veículos elétricos alcancem a paridade de preço e desempenho dos veículos a motor de combustão, em grande parte do mundo, a partir de 2025. Até lá, os incentivos continuarão a desempenhar um papel muito relevante.
Do lado da procura neste momento a usabilidade, continua a ser uma das maiores barreiras. Em duas vertentes:
– autonomia: face às atuais autonomias dos veículos 100% elétricos, de aproximadamente 500 quilómetros, esta vertente está endereçada pelos fabricantes.

– carregamento: esta sim continua a ser uma das principais barreiras à adoção. A visão para o futuro é que os condutores possam carregar os seus veículos em casa, no trabalho ou próximo do mesmo através de soluções flexíveis (casas, prédios, ruas) e que a rede de carregamento esteja suficientemente disseminada em locais de acesso fácil, direto e rápido.

Um indicador de análise interessante é que mais de três quartos do total de veículos elétricos na Europa são vendidos na Alemanha, França, Países Baixos, Reino Unido e Noruega, precisamente os países que estão a facilitar de forma mais evidente a eletrificação do sector, com introdução de incentivos mais alargados e forte investimento em infraestrutura de suporte: cerca de 75% dos pontos e carregamento da europa estão situados na Alemanha, França, Países Baixos e Reino Unido. Em termos de postos de carregamento público, Portugal está aproximadamente nos 28 postos de carregamento público por 100.000 habitantes, 26% abaixo da média europeia. À medida que a necessidade de postos de carregamento aumenta, aumentam também as exigências sobre a rede de distribuição elétrica para ‘alimentar’ os mesmos. Estes dois investimentos, na rede de postos de carregamento e na rede de distribuição que os suporta, são fundamentais para o sucesso da estratégia de adoção de veículos elétricos e, por sua vez, para a própria transição energética de Portugal.