Em plena quarta revolução industrial, onde tecnologia e conveniência caminham lado a lado, a mobilidade inteligente é mais do que uma comodidade, é uma necessidade.

Apesar de, atualmente, menos de 0,5% do total de veículos de estrada serem elétricos, o crescente aumento do volume de vendas nos últimos anos (de alguns milhares em 2010 para 2 milhões em 2018) é uma forte indicação do potencial desta área, para o qual têm contribuído países como a China, maior mercado mundial, ou a Noruega, país com maior penetração em todo o mundo (cerca de 46% de quota de mercado de novos carros vendidos, em 2018).

E parece não parar por aqui. Segundo a BloombergNEF, é expectável que até 2040 cerca de 57% das vendas de novos veículos e 30% dos veículos de passageiros em estrada sejam elétricos. Uma tendência possivelmente impulsionada pela crescente pressão para a descarbonização e pela redução do custo das baterias (em 2023 prevê-se que o custo das baterias seja um décimo do valor de 2010). De acordo com um estudo da EY, calcula-se que os veículos elétricos alcancem a paridade de preço e desempenho dos veículos a motor de combustão, em grande parte do mundo, entre 2025 e 2030.

O próximo passo da mobilidade elétrica passará por explorar o enorme potencial que estes veículos têm enquanto soluções de armazenamento móvel de energia e possíveis geradores de valor económico adicional aos seus proprietários. Esta é a visão por trás do conceito V2G (vehicle-to-grid), uma tecnologia que possibilita o fluxo bidirecional de energia através de carregadores inteligentes, em função das necessidades do utilizador e da oferta de eletricidade. O carregamento poderá ser efetuado quando a oferta de eletricidade é superior à procura, enquanto na situação oposta o veículo poderá fornecer energia à rede. As baterias dos veículos funcionam, assim, como armazenamento temporário de energia, promovendo o desenvolvimento de energias renováveis e a estabilização da rede elétrica. Neste contexto, o dono do veículo passa a ter um ativo, podendo usufruir de tarifas de eletricidade inferiores e ser remunerado pelo fornecimento de energia.

A nível mundial já estão a ser desenvolvidos alguns projetos piloto de integração deste tipo de tecnologia, de entre os quais destacamos o projeto Porto Santo Sustentável – Smart Fossil Free Island, na Madeira. Um projeto ambicioso que pretende tornar a ilha mais sustentável através da promoção de energias renováveis e do uso dos veículos elétricos para a estabilização da rede (objetivo de 80% de energias renováveis), juntando soluções como os veículos elétricos Renault, o carregamento inteligente, a segunda vida das baterias e a tecnologia V2G.

A integração em escala de soluções de armazenamento no ecossistema de energia representa um ponto de inflexão crítico na transição para uma economia neutra em carbono, aproximando a produção do consumo de energias renováveis. Um cenário onde os veículos elétricos são importantes potenciadores da economia circular e ativos para a construção de um mundo energeticamente mais sustentável.