Jorge Moreira da Silva tem 51 anos, é engenheiro eletrotécnico, e concorre pela primeira vez à presidência do PSD, partido pelo qual já foi deputado, eurodeputado, primeiro vice-presidente e ministro do Ambiente no Governo liderado por Pedro Passos Coelho, de quem foi ‘vice’ durante seis anos.
Luís Montenegro tem 49 anos, é advogado, e concorre pela segunda vez à liderança do partido – depois de ter disputado e perdido para o atual presidente Rui Rio as diretas de 2020, numa inédita segunda volta no PSD – e notabilizou-se como rosto do ‘passismo’ na liderança da bancada parlamentar nos anos da ‘troika’.
Os dois candidatos têm procurado marcar diferenças a partir do seu percurso político e características pessoais: Montenegro salienta ter estado no centro do combate político nesses anos conturbados da assistência financeira e Jorge Moreira da Silva reclama a capacidade de “entregar resultados” nas várias funções nacionais e internacionais que já desempenhou.
Ambos apontam à vitória nas várias eleições até às legislativas de 2026 – com um especial foco para as europeias de 2024, o primeiro grande teste do próximo presidente antes de se sujeitar novamente a eleições internas -, mas o posicionamento do partido e as ‘linhas vermelhas’ para futuras governações têm sido fatores de diferenciamento.
Luís Montenegro definiu o PSD como o partido incumbente e a casa-mãe do espaço não socialista, o que tem sido criticado por Moreira da Silva, que contrapõe que na social-democracia não cabem “racistas, xenófobos e populistas”.
A relação com o partido Chega, em particular, distingue os dois candidatos: o antigo vice-presidente do PSD afasta qualquer tipo de diálogo com esta força política, enquanto o antigo líder parlamentar diz que esse debate é “extemporâneo” e avisa que, sem descaracterizar o PSD ou ultrapassar “linhas nucleares”, não será “cúmplice da perpetuação do PS no poder”.
Mesmo sem frentes a frentes entre os dois – em que insistiu Moreira da Silva, Montenegro alegou não ter agenda na reta final, depois de o adversário ter contraído covid-19 na penúltima semana de campanha -, os candidatos têm lançado ‘farpas’ mútuas nas apresentações com militantes ou nas entrevistas à comunicação social.
Logo no seu discurso de apresentação, em 20 de abril, Moreira da Silva fez questão de deixar vários recados a Montenegro, dizendo, por exemplo, que nunca perdeu um minuto “em guerrilha ou conspiração”, que não vive “a política como um vício”, não anda “de calculadora na mão” e não se apresenta com “`soundbytes´ ou abordagens superficiais”, sugerindo que estaria mais bem preparado para ser primeiro-ministro e invocando por várias vezes os cargos nacionais e internacionais que já desempenhou.
Montenegro foi dizendo que, para ser líder do PSD, não basta “ler e debitar relatórios”, e numa sessão em Lisboa, fez questão de marcar diferenças – “não padeço de arrogância intelectual ou política” – e responder às críticas de que teria poucas ideias para apresentar, contrapondo que na outra candidatura “fica tudo na biodiversidade política que não chega a materializar-se numa mensagem que possa ser entendível”.
Recusou igualmente a ideia de qualquer impreparação por não ter desempenhado cargos executivos, reclamando “intervenção direta” em diplomas em todas as áreas governativas, e a participação em muitas discussões orçamentais e até em processos de revisão constitucional, já que foi deputado durante 16 anos e líder parlamentar por seis.
Nos apoios, Luís Montenegro conta com a grande maioria dos presidentes de distritais – incluindo das quatro maiores estruturas Porto, Braga, Lisboa e Aveiro -, e na Madeira conseguiu ter o atual presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, como mandatário nacional, e o apoio algo inesperado do seu antecessor, Alberto João Jardim, que no passado lhe tinha feito críticas violentas.
Joaquim Miranda Sarmento, ainda membro da direção de Rui Rio, é o coordenador da moção do antigo líder parlamentar, e o antigo eurodeputado Carlos Coelho o seu diretor de campanha, tendo ainda ao seu lado nomes como a da antiga presidente da Assembleia da República Assunção Esteves ou a ‘histórica’ militante Conceição Monteiro.
Moreira da Silva conseguiu o apoio de dois antigos presidentes do PSD – Francisco Pinto Balsemão, que é o seu mandatário nacional, e Manuela Ferreira Leite – e do antigo ministro Miguel Poiares Maduro, que coordenou nas anteriores diretas a moção de Paulo Rangel.
Conta ainda com destacados apoiantes de Rui Rio como Carlos Eduardo Reis, que é o diretor de campanha do antigo vice-presidente do PSD, ou de João Montenegro, que já foi ‘operacional’ de Pedro Passos Coelho. De forma mais discreta, já que decidiu não tornar público o seu apoio, o ainda vice-presidente do PSD Salvador Malheiro também está do lado de Moreira da Silva.
Desta vez, nem Paulo Rangel, nem o ex-candidato à liderança Miguel Pinto Luz, nem o atual presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, irão manifestar publicamente apoio a qualquer dos candidatos.
Para o futuro, ambos prometem unir o partido e Luís Montenegro, em entrevista à Antena 1, até revelou existir um compromisso entre os dois candidatos para que, vença quem vencer, o clima de campanha termine no sábado, dia em que se disputam as eleições diretas, com um universo eleitoral abaixo dos 45.000 militantes (menos do que nas últimas).
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