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Montepio Geral vale no máximo 1,5 mil milhões

Aplicando os múltiplos da banca ibérica, acrescidos de um prémio de controlo, o banco não vale mais de 1.500 milhões de euros. Menos do que o valor que a Associação Mutualista lhe atribui.
21 Abril 2017, 16h10

As contas não são simples, mas a conclusão é clara: o banco Montepio Geral não vale o valor que está contabilizado no balanço da Associação Mutualista.

A Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) está registada no balanço de 2016 da Associação Mutualista ao valor de 2.016 milhões de euros, tendo depois sido constituída uma imparidade de 350 milhões de euros, que baixa o valor desse ativo para 1.666 milhões.

Segundo a Associação, o capital Institucional da CEMG é de 1.770 milhões de euros e o Fundo de Participação, que é dos associados,  tem o valor nominal de 400 milhões de euros (equiparado a Core Capital, mas sem direito de voto). Somando, perfaz um capital “core” total de 2.170 milhões de euros.

Mas como as Unidades de Participação do Fundo de Participação da Caixa Económica Montepio Geral estão dispersas na bolsa, a Associação Mutualista detém a totalidade do Capital Institucional, com o valor nominal de 1.770 milhões de euros e 285 UP do Fundo de Participação, com o valor nominal de 285 milhões de euros. Portanto, a Associação Mutualista, que detém 100% dos votos na Caixa Económica, tem 94,7% dos direitos económicos do banco.

O free float do Fundo de Participação da CEMG é, neste momento, de 115 Milhões de UP (5,3% do capital).

Segundo noticiou o Público nesta semana, a instituição liderada por Tomás Correia, que tem capitais próprios negativos de 107 milhões, viu o auditor KPMG deixar uma ênfase às contas de 2016, no que se refere aos pressupostos usados no cálculo de imparidades para outros ativos e participações financeiras, alertando que esses pressupostos podem alterar-se.

A Associação Mutualista disse ao Jornal Económico que a base de avaliação do banco é o seu Plano de Negócios. “Os investimentos em subsidiárias são valorizados ao custo de aquisição, deduzido de perdas por imparidades.  Por tal, o valor da participação na CEMG, registado no balanço, líquido de imparidades, é de 1.666,1 milhões de euros”, diz a instituição. Mas é este valor justo tendo em conta o atual valor dos bancos ibéricos?

Qual é então o valor do Montepio Geral?
Num banco que não é cotado, o valor é normalmente calculado com base no Price-to-Book Value (preço implícito numa hipotética transação face ao valor dos capitais próprios). A comparação e utilização de rácios P/BV relativamente a transações ocorridas no setor bancário são predominantes na avaliação de instituições financeiras por parte de analistas financeiros. Neste caso a comparação para efeitos de avaliação é feita com bancos ibéricos.

Tendo em conta o valor dos capitais próprios do Montepio Geral, que era, em termos consolidados, em 2016, de 1.457 milhões de euros, aplicámos o Price-to-Book Value (P/BV) dos bancos ibéricos, segundo dados de setembro do ano passado.
O preço face ao valor contabilístico do BCP, em setembro de 2016, era de 0,21x a situação líquida (valores que serviram de referência aos cálculos do CaixaBank na OPA do BPI) . O Popular tinha um valor que era 0,26x o capital próprio; o Liberbank 0,38x; o Sabadell tinha um P/BV de 0,58x ; o BPI de 0,69x; o CaixaBank um P/BV de  0,78x e o Bankia tinha um Price to Book Value de 0,91x. A média simples destes sete bancos leva a um P/BV de 0,54x. Logo no caso do Montepio só o valor do P/BV seria de 793 milhões de euros. Mas tendo em conta que é preciso incorporar um prémio de controle – que assumimos, com a ajuda de um especialista em banca de investimento, que é de 50% sobre o P/BV – então o valor da Caixa Económica é de cerca de 1.190 milhões de euros.

Mas se incluirmos na metodologia de análise de múltiplos com base em transações comparáveis, o rácio P/BV  do Bankinter (que é o mais alto do sistema ao ser de 1,68x) então o P/BV médio subiria para 0,69x e aplicando ao capital próprio do Montepio Geral daria um valor de 1.000 milhões ao banco. O que acrescido do prémio de controle elevaria o valor do banco liderado por José Félix Morgado para 1.500 milhões de euros. Em ambos os casos muito abaixo do valor registado no balanço da Associação Mutualista.

Quando o Montepio passar a sociedade anónima, passa a ter capital social representado por 2.170 milhões de ações ao valor nominal de 1 euro. A Associação Mutualista manterá então a participação de 94,7% no capital e os restantes 5,3% manter-se-ão dispersos no mercado.

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