[weglot_switcher]

Moody’s: “Justificada” saída do ‘rating lixo’ pode ser adiada

A agência avalia Portugal esta sexta-feira. Os analistas dizem que merece um ‘upgrade’, mas a incerteza italiana e a proximidade do OE2019 poderão travá-lo.
12 Outubro 2018, 10h08

Já era tempo, mas não é garantido que a Moody’s retire o rating de Portugal do ‘lixo’ esta sexta-feira, segundo os analistas consultados pelo Jornal Económico. A agência de notação tem uma avaliação agendada a apenas três dias do prazo final para o Governo apresentar metas macroeconómicas e orçamentais na proposta do Orçamento do Estado para 2019 (OE2019).

Há seis meses, os analistas viam o upgrade do rating de Portugal como garantido. Agora, estão mais conservadores. “É difícil dizer”, refere Albino Oliveira, analista da Patris Corretora. “As condições atuais já justificariam provavelmente que também a Moody’s atribuísse uma notação de investment grade à dívida soberana de Portugal, a exemplo do que acontece com S&P, Fitch e DBRS”.

Em abril, a Moody’s tinha uma avaliação agendada, mas não publicou qualquer relatório. Manteve assim o rating de Portugal em Ba1 (positiva), ou seja, no primeiro grau especulativo, com perspetiva positiva. Explicou depois que só faz o upgrade quando tiver confiança na sustentabilidade do crescimento económico e da trajetória de redução da dívida e do défice. Nessa noite, a surpresa veio da DBRS, a quarta maior agência e única que manteve Portugal em grau de investimento durante a crise. A canadiana subiu o rating da dívida nacional para BBB, o segundo nível de grau de investimento, do anterior BBB (low) com perspetiva estável. Esta sexta-feira, volta a haver dose dupla, com avaliações da DBRS e da Moody’s.

“Resta saber se a Moody’s terá já ganho a confiança necessária quanto à sustentação das tendências recentes de crescimento económico e execução orçamental, assim como no que refere à capacidade de o país apresentar uma tendência de queda no seu rácio da dívida pública em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB)”, afirmou Oliveira.

Filipe Silva, diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa, diz estar “otimista”, mas também que não ficará “surpreendido” se o rating se mantiver inalterado, lembrando que a Moody’s baixou o rating da dívida portuguesa para o grau de high yield em 2011.

A Moody’s esteve entre as principais agências de notação financeira a colocar Portugal no ‘lixo’ durante a crise. Desde então, as restantes já mostraram ter confiança suficiente – especialmente impulsionada pela saída do Procedimento por Défices Excessivos – para colocar a dívida nacional em grau de investimento. Agora, falta apenas a Moody’s dar este passo.

“A evolução dos últimos sete anos já justificava um regresso ao grau de investment grade. Pode não ser já esta semana, mas penso que é uma questão de tempo”, afirmou.

A perspetiva positiva continua a sinalizaR que a Moody’s estará à beira de o fazer, como sublinha Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros. Em setembro de 2017, a agência passou a perspetiva do rating de ‘estável’ para ‘positiva’, com base em três pontos: melhorias na resiliência do crescimento dada a recuperação do investimento; melhorias orçamentais que sustentam a expetativa de sustentabilidade na consolidação orçamental; e melhorias na estrutura da dívida e nas almofadas orçamentais que mitigam os riscos ao financiamento do Estado.

“Não vejo muitos motivos para que não suba a notação. Só a situação de Itália, que tem contagiado a dívida em secundário e cautela quanto aos desenvolvimentos dessa situação poderão explicar uma postura mais conservadora, que não espero”, afirmou o economista, que é o mais otimista.

Apesar de as subidas no rating de Portugal já estarem incorporadas pelos investidores, a Moody’s poderia vir a ajudar a dívida nacional a ultrapassar a questão de Itália. A instabilidade face ao orçamento do Estado italiano tem criado uma tempestade no mercado de dívida, que levou, esta semana, a yield das obrigações portuguesas a 10 anos a ultrapassar os 2% pela primeira vez em quatro meses.

O timing da avaliação não é importante só por causa de Itália. Irá acontecer também a três dias de o Governo apresentar a proposta de OE2019 no Parlamento, a 15 de outubro. “Não há margem para criatividade ou surpresas no orçamento que possam alterar significativamente a avaliação do risco de Portugal”, acredita Filipe Silva.

O OE2019 não deverá ser um entrave, mas a agência poderá esperar para fazer o upgrade depois (até porque pode avaliar a dívida fora das datas previstas). Albino Oliveira, da Patris Corretora, sublinha que a Moody’s se deverá focar nos sinais que o Governo já deu em anos anteriores. “Mesmo assim, não deixará de ser importante para decisões futuras desta e de outras agências de rating”, referiu.

“Seria sempre mais confortável fazer a revisão em alta após o OE2019, até porque poderá não haver acordo político em torno do Orçamento. No entanto, não só isso não é provável, como as indicações que têm sido dadas apontam para um orçamento equilibrado, pelo que não deverá ser por aí que a Moody’s se desculparia para não subir”, acrescentou Garcia, da IMF.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.