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Moody’s: Qualquer que seja o comprador do Novo Banco, o importante é o plano

Sobre a CGD, a agência diz ao Jornal Económico que a troca do board não trouxe atrasos. Para o setor a rentabilidade é crucial mas o mal-parado, o crescimento moderado do PIB e a escassa manobra para cortar custos são entraves.
7 Fevereiro 2017, 13h36

A Moody’s não tem estados de alma sobre quem fica com o Novo Banco – o estado ou um comprador privado. Para a agência de notação o importante é assegurar a viabilidade do banco e perceber o plano estratégico.

“Para nós o que seria um potencial upside para o banco seria uma venda bem sucedida. Quando digo venda, não é por ter preferência por qualquer tipo de acionista, incluindo público ou privado, mas algo que pudesse assegurar a viabilidade do banco para o futuro”, afirmou Pepa Mori, vice-presidente e senior credit officer da agência para as instituições financeiras, em entrevista ao Jornal Económico.

“Há o aspeto importante que é um banco de transição e há [em Agosto] um prazo específico que se não for cumprido poderá despoletar a liquidação, e isso para nós é um risco. Parece que estamos a chegar à conclusão da venda, para nós o que seria positivo é que a venda se materialize e que possamos ter alguma visibilidade sobre a estratégia do novo dono, quem quer que seja, para o banco”.

As negociações para a venda do Novo Banco prosseguem entre o Banco de Portugal e o fundo Lone Star, estando neste momento centradas na busca de uma solução alternativa à garantia estatal que o Lone Star pediu inicialmente. Ao que o Jornal Económico apurou na semana passada, o fundo ainda não deixou cair o pedido de garantia pública e só o deverá fazer se for acordada uma solução que lhe permita proteger-se face ao risco dos ativos do chamado ‘side bank’.

Questionada sobre as eventuais garantias, Pepa Mori frisou: “isso é mais para o comprador do que para nós, mas temos visto isso na imprensa, e para nós o que é importante é ver o resultado da venda. Se isso implicar que parte dos ativos de risco do banco terão algum tipo de garantias, sem problemas, mas é algo que teremos de ver”.

CGD sem atrasos

Mori recordou que quando a Moody’s iniciou a revisão do rating da Caixa, no verão do ano passado, já esperava que uma recapitalização seria aprovada pelo Governo e por Bruxelas, algo que veio a acontecer em Agosto.

“Estava claro que o banco precisava de mais capital, e após a aprovação estamos agora à espera que a recapitalização se materialize, e de ver os detalhes do plano estratégico que o vai acompanhar”, acrescentou. “À parte das questões sobre a administração, e claro que houve uma troca completa do board, os marcos têm sido atingidos em linha com os calendário e esperamos que ainda no primeiro trimestre o processo de recapitalização já esteja feito”.

Em relação à abordagem aos investidores privados, que também terão acesso a uma parte da recapitalização, Mori salientou que a CGD “tem uma força chave que é o franchise, ou a grande presença que tem na economia e no sistema bancário do país”.

Rentabilidade difícil

A Moody’s em dezembro divulgou que tem uma perspetiva estável sobre o setor bancário português, pois espera que a tendência de estabilização vista no ano passado deverá continuar em 2017.

“Tendo dito isso, e apesar desta visão mais positiva, há também algumas fraquezas, principalmente derivadas da qualidade dos ativos da banca, pois o stock de empréstimos problemáticos no sistema está a estabilizar, mas é ainda muito alto e vai permanecer um peso nos balanços dos bancos por algum tempo”, vincou Pepa Mori.

Em relação a uma eventual solução para o crédito mal-parado, recordou que nada foi ainda aprovado. “É verdade que há vários modelos na Europa, com graus diferentes de sucesso, mas nenhum deles foi ainda adotado pelo Governo português, portanto não há muito a avançar”.

Acrescentou, contudo, que além dos problemas dos créditos problemáticos há outros entraves para a rentabilidade dos bancos. “Para nós a principal questão sobre a rentabilidade é que há, numa base recorrente, pressões como taxas de juros muito baixas, pouco crescimento na concessão de empréstimos, e condições muito limitadas para continuar a cortar os custos de financiamento”.

“Além disso, houve no passado uma dependência significativa em ganhos financeiros com a venda de securities, o que já não possível, as yields da dívida soberana são muito mais baixas, os bancos já alienaram muitos ativos, portanto as receitas vão sofrer. Não há muito para vender e a disciplina de custos é algo no qual os bancos focaram no passado mas na qual já não têm muito espaço”, concluiu.

 

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