[weglot_switcher]

Moody’s. Subida rápida dos juros impulsionada pela inflação será “faca de dois gumes” para os bancos

“Se os bancos centrais não aumentarem as taxas de juro, a qualidade dos ativos dos bancos permanecerá forte e os custos do risco de crédito baixos, com uma procura de empréstimos mais robusta. No entanto, a receita da margem financeira não subirá e, em última análise, uma inflação mais elevada poderá levar os bancos centrais a um ciclo de aperto mais súbito e prejudicial mais tarde”, alerta a agência de rating.
27 Junho 2022, 12h24

Uma aceleração da inflação em muitos mercados emergentes do G-20 levou os bancos centrais na maioria dos países a aumentar as taxas de juro apesar de uma recuperação económica frágil depois da pandemia de Covid-19, o que tem um impacto complexo para os bancos.

Mas existem dois efeitos opostos fundamentais, segundo a Moody’s Investors Service. Taxas mais altas normalmente resultam em margens financeiras mais amplas, aumentando a rentabilidade dos bancos devido ao aumento dos lucros. Simultaneamente, levam a um crescimento económico e de crédito mais lentos, e a encargos mais pesados para os mutuários (clientes) no reembolso da dívida, o que pode originar atrasos nos pagamentos da prestações e um enfraquecimento da qualidade da carteira de crédito, levando a aumentos das provisões para perdas com crédito, ou seja, ao aumento do custo do risco de crédito.

“A interação desses dois fatores determina, em última análise, a rentabilidade dos bancos, medida pelos retorno dos ativos (ROAs)”, diz a Moody’s num relatório publicado hoje e cujo autor é Eugene Tarzimanov, um Vice-Presidente da agência de rating.

“Agora que a maioria dos bancos centrais endureceu a política monetária, e tendo em conta o nosso pressuposto de que os aumentos dos preços do petróleo irão diminuir e as perturbações na cadeia de abastecimento irão atenuar, esperamos que a inflação diminua em todos os dez países em 2023, ajudando a conter os riscos dos ativos para os bancos. No entanto, os riscos aumentariam se, em vez disso, a pressão inflacionista aumentasse”, defende a agência.

“Inversamente, se os bancos centrais não aumentarem as taxas de juro, a qualidade dos ativos permanecerá forte e os custos do risco de crédito baixos, com uma procura de empréstimos mais robusta. No entanto, a receita da margem financeira não beneficiará e, em última análise, uma inflação mais elevada poderá levar os bancos centrais a um ciclo de aperto mais súbito e prejudicial mais tarde”, alerta.

A Moody’s lembra que a inflação acelerou na maioria dos mercados emergentes do G-20, provocando aumentos das taxas de juro. Os bancos centrais na maioria das dez economias subiram as taxas políticas em resposta ao aumento dos preços. “Esperamos mais aumentos das taxas em 2022, especialmente por parte dos bancos centrais que ainda estão no início do ciclo de aumento das taxas ou que ainda não começaram”, diz a agência de rating.

“Os aumentos de taxas de juro da Reserva Federal dos EUA aumentaram a pressão inflacionista sobre os preços de importação, enfraquecendo as moedas locais. Os bancos centrais na maioria dos dez mercados emergentes subiram as suas taxas de juros como política de resposta à inflação, bem como para reduzir a volatilidade potencial do fluxo de capital. Esperamos que o aperto monetário na maioria destes países continue em 2022”, disse o vice-presidente e senior credit officer da Moody’s, Eugene Tarzimanov.

“O impacto do aumento da inflação e do aperto monetário nos bancos não é claramente menor”, alerta a Moody’s.

Em nove dos dez mercados emergentes, as margens financeiras dos bancos alargaram-se historicamente em paralelo com os aumentos da inflação. “Esperamos que os bancos na Índia, Arábia Saudita e África do Sul registem aumentos maiores nas margens financeiras em 2022-23. Se a inflação acelerar acima das nossas expetativas, os bancos no Brasil e na Turquia irão registar os menores aumentos de margens”, revela a agência de rating.

“No entanto, os custos do crédito também aumentam quando a inflação acelera. Uma aceleração da inflação também levou historicamente a aumentos dos custos de crédito em sete dos dez sistemas. Esperamos que os bancos na Rússia e na Turquia apresentem aumentos maiores nos custos de crédito. Se a inflação acelerar ainda mais, os custos do crédito também aumentarão na Argentina, África do Sul e Brasil”, acrescenta.

O custo do risco de crédito dos bancos superará os benefícios resultante da subida da margem financeira se as taxas de inflação subirem acentuadamente. “Enquanto esperamos que a pressão inflacionista diminua em todos os dez mercados em 2023, uma aceleração da inflação para além das nossas expetativas levaria a custos de crédito mais elevados que superariam os benefícios da subida das receitas com o alargamento da margem financeira”, explica, referindo que, “historicamente, a rentabilidade dos bancos brasileiros e turcos tem apresentado a maior correlação negativa com as elevadas taxas de inflação”,.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.