E finalmente apareceu Messi, ainda a tempo de guiar a Argentina para a fase seguinte (2-1 à Nigéria) depois da sua equipa ter estado encostada às cordas. Marcou um golo extraordinário, acertou num dos postes na cobrança de uma falta e, acima de tudo, esteve mais disponível para a equipa do que nos dois primeiros jogos. Messi ressuscitou quando a equipa mais precisava dele e o Mundial ficou mais interessante.

O grande herói da passagem aos oitavos-de-final, no entanto, foi o ex-leão Marcos Rojo, agora futebolista do United de Mourinho. Marcou o golo da sua vida (com o pé direito, tal como Messi!), a quatro minutos do final, materializando, com um remate indefensável, toda a vontade de um grupo que mesmo não estando bem demonstra uma garra extraordinária. É isso que leva a Argentina em frente, em direção ao jogo com a França, de onde sairá a equipa que depois cruzará com o vencedor do Portugal-Uruguai. Quer isto dizer que é possível haver um Ronaldo-Messi nos quartos-de-final do Mundial.

A Argentina é melhor com Banega, fica mais segura em 4x4x2 e não ganhou nada de especial com a troca de Aguero por Higuain. O problema é suportar Mascherano, cuja vontade às vezes já não chega – bolas perdidas, um penalty concedido… O veterano futebolista, que agora atua na China, obrigou a sua equipa a fazer horas extraordinárias, embora tivesse participado de forma indomável no esforço geral para chegar à vitória.

Com o apuramento da Argentina, o Mundial está prestes a reunir na fase seguinte todos os favoritos. Já só falta a Alemanha, que marchará a seguir para o seu lugar. Surpresas? Houve surpresas? Não! Houve, como em todas as grandes competições, algumas inquietações iniciais e muito folclore porque as grandes equipas continuam a diferenciar-se nos pormenores, no momento delicado – e três jogos são muitos jogos para algumas equipas, como esta Nigéria, onde o talento africano tarda em casar-se com o rigor táctico e a assumir a maturidade necessária para ter ambições ao mais alto nível. Os jogadores são bons, com uma grande dupla atacante, Musa-Iheanacho, mas falta mais equipa. De África, já só o Senegal pode aspirar a qualificar-se e não será fácil jogando com a Colômbia, que tem outra capacidade competitiva.

No mesmo grupo, o D, a Islândia ainda teve a sua janela de oportunidade, até porque a Croácia deu dia de folga quase geral para começar já a preparar o duelo com a Dinamarca. Escaparam Modric e Perisic e juntou-se-lhes Kovacic, o croata que quer deixar Madrid por estar farto desta sina de ser suplente. Ainda assim, chegou (1-2) para o voluntarismo islandês, bonito mas muito perdulário: três boas oportunidades na primeira parte e zero golos. A este nível, a Islândia é uma equipa com várias debilidades. Não tem capacidade criativa, vive de um futebol linear que gosta do choque. Tal como no Euro’2016, fez o possível. E já é extraordinário que um país de pouco mais de 334 mil habitantes consiga disputar competições desta importância.

O França-Dinamarca foi um jogo chato (0-0). A equipa francesa segue sem convencer. É muito previsível. Falta-lhe fantasia, sobra-lhe músculo. A Dinamarca queria empatar e conseguiu-o, sem arriscar, sem mostrar argumentos para ir muito mais longe.

O Austrália-Perú voltou a evidenciar as limitações do futebol da gigantesca ilha e mostrou como Carrillo poderia ser um dos grandes a nível global. Excelente golo, outra exibição de qualidade. O melhor peruano 36 anos depois de Cubillas (que depois seguiu para o FC Porto, no qual marcou uma época) e da anterior participação num Mundial. Como este Carrillo não triunfou quer no Sporting quer no Benfica, e como está a desperdiçar um lugar no futebol é um crime que ele comete contra si próprio.