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Mutualista diz que fusão do Montepio com BCP colide com os interesses dos associados

“O Banco Montepio dispõe de soluções de capital ajustadas às suas necessidades e encontrará o seu próprio caminho de estabilização”, garante a instituição liderada por Virgílio Lima. “Uma fusão desta natureza corresponderia à sua descaracterização, algo que colide com os interesses da Associação e dos associados”, defendem.
  • Cristina Bernardo
28 Setembro 2020, 21h11

Em declarações ao Jornal Económico, a Associação Mutualista Montepio Geral, dona do Banco Montepio, reagiu à notícia, avançada pelo Expresso, de que poderia estar na calha uma fusão do seu banco com o BCP.

“O Banco Montepio dispõe de soluções de capital ajustadas às suas necessidades e encontrará o seu próprio caminho de estabilização. Pela matriz e pelos valores mutualistas que enquadram e suportam a atividade do Banco Montepio, uma fusão desta natureza corresponderia à sua descaracterização, algo que colide com os interesses da Associação Mutualista Montepio e dos seus associados”, refere a instituição liderada por Virgílio Lima.

A Associação que tem ligeiramente acima de 600 mil associados, lembra que o Banco Montepio “faz parte integrante do Grupo Montepio no seu todo, seja porque constitui a rede de distribuição da Associação Mutualista, seja porque o seu capital são as poupanças dos associados, seja porque é prestador de serviços à Associação Mutualista ou, ainda, porque os seus clientes são, fundamentalmente, os associados. Por todas essas razões, o Banco assume para a Associação uma elevada relevância estratégica, constituindo um ativo cujo valor de uso é muito superior ao valor de mercado”, refere fonte oficial da Associação Mutualista.

A dimensão do ativo do subgrupo bancário corresponde a 87% do balanço consolidado da Mutualista Montepio.

O Expresso avançou este fim de semana que o presidente do banco, Miguel Maya, manifestou a disponibilidade (de integrar o Banco Montepio) em reunião com o Ministro das Finanças, na sequência de o Governo e o setor financeiro estarem preocupados com o Banco Montepio, que apresentou recentemente um forte plano de reestruturação ao Banco de Portugal. Entretanto, em vários fóruns, Miguel Maya já veio desmentir dizendo que “não estabelecemos nenhuns contactos com o Ministério das Finanças sobre o tema do Montepio nem estamos a analisar nenhuma operação com o Montepio”, disse o CEO do banco.

De acordo com o presidente do BCP, a estratégia do banco passa por um “crescimento orgânico” mas não rejeitou estudar a fusão com o Banco Montepio ou outras operações que “surjam que justifiquem uma análise rigorosa”. Para já, Miguel Maya reforça que a “proteção do balanço do banco é a prioridade absoluta”.

A Associação Mutualista vai reunir-se no próximo dia 30, quarta-feira, em Assembleia Geral Extraordinária, pelas 20h00, com dois pontos na ordem de trabalhos. A saber: “deliberar, nos termos do artigo 65.º n.º 6 dos Estatutos, sobre a proposta de modificações do Regulamento de Benefícios”;   e “deliberar sobre o Relatório e Contas Consolidadas, bem como sobre o Parecer do Conselho Fiscal, referente ao exercício de 2019”.

Banco tem de reduzir dimensão para aumentar o rácio de eficiência

O redimensionamento do Banco Montepio saltou para a ribalta quando foi conhecido o Plano de Reestruturação que foi entregue ao supervisor e que já está nas mãos do Ministério do Trabalho e da Segurança Social.

O Banco Montepio vai entregar o plano de transformação aos trabalhadores no próximo dia 6 de outubro e prevê a saída entre 600 a 900 pessoas.

O plano — que é um plano de corte de custos — prevê um reajustamento do quadro de pessoal. Para isso, o Banco Montepio diz que vai lançar “um programa destinado a criar oportunidades para os colaboradores que entendam sair”.

“Com base nos cenários analisados e nesse quadro plurianual, estima-se um intervalo máximo indicativo de redução de pessoas entre 600 a 900, tendo para o efeito sido requerida junto das entidades competentes [MTSSS] a possibilidade de alargamento de quota para subsídio de desemprego, com o intuito de facultar proteção acrescida em situações de saída, facto que já foi partilhado com as estruturas representativas dos trabalhadores”, refere uma comunicação interna, assinada pelo Chairman e CEO do banco, e que foi tornada pública na semana passada.

Estão previstas saídas de trabalhadores por reforma antecipada e rescisões por mútuo acordo e ainda a realocação de trabalhadores que pretendam ficar no banco e ainda o reajustamento operacional, que vai acelerar a transição digital do banco. Por isso, e para “optimizar o mix de distribuição”, o banco já decidiu encerrar 37 balcões que considera “redundantes geograficamente”, estando ainda em análise “cerca de 40 balcões, segundo critérios de relevância geográfica, rentabilidade e dimensões do mercado”.

O objetivo do plano de transformação é tornar o Banco Montepio num banco “eficiente” e “rentável”. “Desta forma, pretendemos ajustar a nossa operativa e modelo de serviço aos clientes, aproximar os rácios de eficiência do Banco Montepio aos do sector bancário português, simplificar a estrutura do grupo e racionalizar a oferta”.

Em junho, tinha um rácio cost-to-income de 75,5%, quando a média do sector bancário no primeiro semestre era de 58,7%.

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