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“Não existe bolha no imobiliário em Portugal”

Bancos europeus enfrentam um stress test em 2018 e nos próximos anos terão de repensar as políticas de concessão de crédito, pois alguns ativos passarão a ser mais penalizadores para o capital. Instituições terão de adaptar modelos de negócio.
  • Cristina Bernardo
10 Dezembro 2017, 11h00

Ainda faz sentido falar em controlo da banca portuguesa por mãos nacionais?
José Manuel Bernardo (JMB) – Do ponto de vista do setor bancário sustentável, do ponto de vista teórico, é irrelevante. Cada instituição procurará ter as melhores práticas de gestão e melhor atenção ao que é a realidade concreta da operação e de cada ciclo da economia. Quando se fala nestas questões dos centros de decisão nacionais parece-me que o que se quer dizer é que se houvesse um controlo total da banca por entidades portugueses as decisões que seriam tomadas acerca de uma determinada operação seriam diferentes. Face ao que é o mundo atual e à abertura das economias e à interdependência que todos temos, não sei se é realista. Ninguém vai atuar pondo em causa a sua sustentabilidade futura e os investimentos que foram feitos.

A banca estrangeira tem contribuído para melhores práticas na portuguesa?
JMB – Os grandes bancos estrangeiros podem ter acrescentado práticas ao setor que eventualmente podiam não existir cá, pela maior disponibilidade de recursos etc., mas não me parece seja algo de tão extraordinário. A nossa banca é moderna, não compara mal com os concorrentes. Problemas existem em todos os países – veja-se o caso de Espanha, nos Estados Unidos, na Alemanha, em Inglaterra.

Luís Barbosa (LB) – No próximo ano temos um exercício de stress test para a nossa banca – é sempre um aspeto importante, que as instituições terão também elas de ser avaliadas. Tem várias vagas e vai prolongar-se no primeiro semestre do próximo ano. Também os bancos têm modelos internos e vão continuar a ser avaliados neste exercício. É importante que estejam devidamente preparados. Os NPL [créditos malparados] deverão continuar a sua tendência de decréscimo. Mas a definição de incumprimento está agora a mudar. É expectável que as regras sejam mais exigentes. A questão é tudo o resto que é possível ser feito aos créditos que impedem que entrem 90 dias em atraso mas por si só estou a impedir que entrem em incumprimento, como reestruturações, vendas… Os próximos anos, até 2021, são anos muito importantes para adaptação interna.

Vai obrigar a reforçar rácios?
LB – Vai obrigar a uma mudança de práticas e a estar mais atento àquilo que são os impactos que uma decisão de crédito e de reestruturação pode ter em termos de incumprimento. É uma afirmação muito forte dizer que os bancos vão ter problemas de rácios. Sabendo que, daqui a dois ou três anos, esta decisão, entrando em vigor, poderá levar a um volume de NPL é importante que se antecipem práticas. Há alguns ativos que vão ser penalizadores e exigir mais capital. Tenho de desde já alterar o meu modelo de negócio e perceber como redefinir a minha atuação.

Concorda com as pessoas que dizem existe uma “bolha” no imobiliário em Portugal?
JMB – Não me parece. Houve um crescimento muito forte dos preços no centro de Lisboa por causa do turismo e de ter passado a estar no radar de muitos estrangeiros.

Quais são as grandes ameaças ao setor bancário?
JMB – Ser capaz de enfrentar estes desafios todos que estão a surgir, saber implementar os requisitos regulatórios de uma forma que seja eficiente e aproveitar isto para reorganizar e criar uma gama de canais e serviços que sirvam a necessidade dos clientes atuais.

LB – Os nossos setores públicos e privados têm um nível de endividamento bastante significativo, um volume de NPL que não é menos significativo. Terá de haver um processo de redução gradual, que deve ser suportado com aquilo que são boas práticas de avaliação de risco. Sabemos que temos taxas de juro que têm estado num patamar insistentemente baixo e qualquer inversão significativa poderá levar a que as instituições tenham encargos de dívida com um aumento também ele material e dessa forma terem mais dificuldade em honrar aquele que é esse mesmo serviço. É muito bom que haja uma recuperação da economia de forma a que haja aqui um estímulo adicional.

Os bancos têm estado a reduzir redes e equipas, nos últimos anos. A tendência para a tecnologia vai tornar mais necessárias novas reduções?
LB – As instituições vão continuar a adaptar-se ao meio em que se inserem, adaptando essas mesmas tecnologias em seu próprio proveito, porque só assim é que conseguem oferecer aos seus clientes melhores serviços a um preço acessível.

JMB – O número de balcões que temos em Portugal, comparativamente com a Europa, também é superior. Diria que haverá sempre uma tendência de alinhamento com o que se passa lá fora. Esta criação de canais obviamente que torna alguns desses balcões redundantes.

LFB – Muita da regulamentação da esfera prudencial aponta para reforço dos rácios de capital. É muito importante que haja rentabilidade das instituições, uma recuperação da sua imagem perante os investidores.

A banca portuguesa tem condições para ir buscar dinheiro aos mercados?
LB – A banca portuguesa está a reconstruir a sua imagem com o reforço das práticas de governo interno, redução de NPL, adoção das novas tecnologias. São sinais que darão conforto a alguém que esteja de fora do nosso sistema bancário.

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