Odiamos as ações de Hitler, Estaline, Pol Pot e de outros líderes políticos perversos que nos fazem duvidar da bondade da natureza humana.

Somos implacáveis com líderes que destroem empresas e nos fazem crer que o melhor amigo dos humanos não é o animal humano. Mas esquecemos que esses processos de liderança perversa são frequentemente nutridos, ativa ou passivamente, por milhares ou milhões de pessoas que fecham os olhos à realidade ou simplesmente usam a situação em seu proveito.

A outra face desta realidade é que, em diferentes esferas da vida, há uma espécie de romance da liderança. Adoramos líderes. Queremos que os nossos filhos e os nossos alunos sejam líderes. Acreditamos que os líderes mudam o mundo, a política, os clubes e as empresas. Mas esquecemos que não há bons líderes sem bons liderados, bons treinadores sem bons jogadores, bons generais sem bons soldados.

Naturalmente, bons líderes desenvolvem bons liderados. Bons treinadores ajudam a formar bons jogadores. Bons professores fazem bons alunos. Bons generais criam bons soldados. Mas a outra face do processo é igualmente importante: bons liderados fazem bons líderes, bons jogadores ajudam a criar bons treinadores, bons soldados apoiam bons generais, bons empregados tornam os líderes e a empresas mais eficazes.

Infelizmente, somos muito mais enfáticos na apologia da boa liderança do que na defesa da boa “seguidança”.

Daqui decorre uma interrogação: o que são bons seguidores? A resposta não se compadece com argumentos universais. Mas há uma resposta que não oferece grandes dúvidas: um seguidor ou um liderado eficaz é alguém que pensa pela sua própria cabeça, procura melhorar continuamente, é humilde na busca da melhoria contínua e na aprendizagem com o erro, é honesto, é proactivo e, embora prudente, é também capaz de contrariar o statu quo de modo a contribuir para a melhoria da equipa e da organização.

Um bom seguidor é igualmente corajoso para remar contra a maré quando necessário, desconfia de consensos fáceis e expressa opiniões honestas mesmo que colidam com as da maioria ou as do líder. Infelizmente, em muitas esferas da vida, os líderes e as pessoas em geral esperam de um seguidor/liderado que seja yes-man ou yes-woman ou uma ovelha do rebanho. As consequências são as que se conhecem.

Daqui decorrem algumas ilações.

Primeira: precisamos de ensinar os nossos filhos e alunos a ser bons líderes, mas também bons seguidores. Segunda: a liderança mais eficaz é a que encoraja a boa “seguidança”. Terceira: paradoxalmente, um bom seguidor é um bom líder – ao dar o exemplo, ao revelar coragem e ao ajudar o líder a tomar melhores decisões.

Quarta: não podemos exigir a liderados que auferem o salário mínimo e são quase escravizados que sejam “corajosos” e remem contra a maré. Mas podemos pedir responsabilidades a quem, por mera comodidade, egoísmo ou carreirismo acalenta, ativa ou passivamente, lideranças perversas. Quinta: se nos silenciamos, por mera comodidade ou cobardia, quando o nosso líder faz patifarias, não temos o direto a lamentar-nos quando a podridão é descoberta.

Finalmente: em Portugal, a cultura do “respeitinho” que impera em diversas esferas da vida social, política e empresarial é um terreno inibidor da boa liderança e da boa “seguidança”. Precisamos de uma cultura de respeito mútuo. O “respeitinho” é desrespeito encapotado. E exigir “respeitinho” a uma pessoa é uma forma de desrespeitá-la.