As crises revelam os políticos e as instituições. Os desafios que resultam de uma crise sanitária, orçamental e económica como a que vivemos exigem políticos e instituições fortes e clarividentes. A União Europeia, com as conhecidas divisões norte-sul e a sua pesada máquina burocrática tinha (tem) tudo para falhar nesta crise, como em parte sucedeu na de 2008-2011.

No entanto, fracassar numa crise como esta, teria (terá) danos provavelmente irreversíveis. Não é apenas o momento particularmente frágil que a União já atravessava num contexto pós-Brexit. É também o dano na confiança e nos laços intraeuropeus que a falta de solidariedade entre Estados poderá gerar, quando se estão a contar mortos e a praticar medicina de guerra. É a onda de desemprego e de miséria que o colapso de empresas por toda a Europa, mas sobretudo nos Estados menos abastados, poderá causar. É a ameaça ao mercado interno que resulta de uns Estados terem disponibilidade financeira para ajudar as suas empresas e outros não, mas também de outros blocos económicos ajudarem as suas empresas mais e melhor do que a UE.

Tive a oportunidade de escrever neste jornal que nunca a União Europeia foi tão desafiada como nos tempos que correm, sendo este o seu grande momento definidor. Ursula Von der Leyen, a Presidente da Comissão Europeia, disse o mesmo no discurso proferido há dias no Parlamento Europeu. Ursula sabe o que é a Europa, conhece a sua importância, os seus valores, e, acima de tudo, percebeu exatamente a dimensão do desafio que tem pela frente. De todas as alturas em que podia ter sido atingida por uma crise com esta magnitude, a União Europeia tem a sorte (ou o mérito) em ter uma Presidente da Comissão como Ursula.

A Comissão assumiu a liderança da resposta à crise, deixando para um segundo plano os primeiros sinais pouco inspiradores das primeiras reuniões do Conselho Europeu. Depois de, no início da crise, ter dispensado a disciplina orçamental aos Estados-membros, ter aprovado um novo Quadro Jurídico de auxílios de Estado, e ter montado uma máquina rápida e eficiente para a aprovação das medidas notificadas pelos Estados-membros, a Comissão veio agora propor um plano de recuperação económica de 750 mil milhões de Euros, financiado através de fundos que obterá diretamente nos mercados. A maior parte deste montante será atribuído diretamente aos Estados-membros para que decidam o destino que terão os fundos.

Não sendo a tão controversa mutualização da dívida, é o mais próximo que se pode chegar sem retirar necessariamente margem aos Estados do Norte da Europa para a aceitar, o que revela grande habilidade política. A Presidente da Comissão anunciou que o plano pretende investir e revitalizar a economia social da União, proteger o mercado interno, ajudar a equilibrar as contas das empresas por toda a Europa, ao mesmo tempo que pressiona a transição para uma economia verde e digital, preparando assim o caminho e o futuro da próxima geração de europeus.

As crises revelam os políticos e as instituições. Uns extinguem-se e saem de cena, mostrando a sua irrelevância. Outros sobressaem e tornam-se incontornáveis. Quando a União Europeia estava sob forte ameaça (interna e externa), Ursula revelou-se e revelou também a União.