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“TAP deverá atingir níveis próximos dos 90% em relação à atividade de 2019 no verão”, diz CEO

CEO da companhia aérea não faz previsões para o fecho do ano de 2022, mas espera uma atividade no Verão (o pico da operação) a 90% do que foi o último ano pré-pandemia, 2019. Empresa vai contratar 350 novos trabalhadores.
11 Abril 2022, 13h45

Os prejuízos relativos a 2021 apresentados esta segunda-feira não desanimam a CEO da TAP, a francesa Christine Ourmières-Widener. A companhia registou quase 1.600 milhões de euros de prejuízos, com receitas operacionais que subiram cerca de 30% face a 2020, um ano em que a aviação esteve praticamente parada. Ainda assim, a gestão da TAP – que vai receber até 3,5 mil milhões de euros em ajudas de Estado – acredita que a partir do Verão deste ano, a atividade vai voltar aos ritmos pré-pandemia, ou seja aos níveis de 2019. E, nesse sentido, a TAP até está a contratar centenas de colaboradores.

“No pico , TAP deverá atingir níveis próximos dos 90% em relação à atividade de 2019”, assumiu a presidente da TAP na conferência de imprensa para explicar os números de 2021. No entender desta responsável, “o crescimento da procura irá permitir-nos apresentar melhores resultados”, sublinhando a presidente da TAP que “quanto mais voarmos, mais ganhos poderemos apresentar”. Ainda assim, quanto a perspectivas para 2022, Christine Ourmières-Widener não apresentou qualquer número, dizendo apenas que é esperada uma recuperação positiva da procura.

Christine Ourmières-Widener alertou ainda que é necessário ter expectativas baixas sobre o lançamento de novas rotas, preferindo apostar no objetivo de reforçar as frequências nas rotas da TAP que demonstrarem maiores índices de crescimento da procura.

Uma coisa é certa. A TAP vai contratar. Christine Ourmières-Widener revelou que a companhia já recrutou ou está a recrutar para os seus quadros mais de 350 funcionários: 254 trabalhadores para pessoal de cabine, mais cerca de uma centena de funcionários para operações de solo, além de contratações para o ‘call center’.

Quanto ao pessoal de cabine, a presidente da TAP espera que estejam todos integrados na companhia até ao final de maio, que foi o período balizado para iniciar o pico de atividades da TAP para este ano, a exemplo qoe sucedeu com a maioria das companhias aéreas estrangeiras.

Os números recentes da Covid-19 em vários países europeus obrigaram a generalidade das companhias aéreas a atrasar o início do pico de atividades deste ano para o final de maio.

A presidente da TAP assegura que não está a haver qualquer problema de recrutamento para pessoal de cabine, apesar de a maioria das companhias aéreas a operar em Portugal estar também a recrutar no mercado de trabalho em função do esperado aumento de procura previsto para este verão, ao contrário do recrutamento para o ‘call center’, onde admitiu haver “algumas dificuldades”.

“Estamos a fazer o máximo para encontar o nosso melhor nível de serviço e de pessoal. Não vejo quaisquer números que indiquem que precisemos de mais pilotos. Estamos agora em melhores condições para prever qual será o aumento da procura”, defendeu a presidente da TAP.

Recorde-se que no rescaldo do impacto da pandemia e do plano de reestruturação aprovado para lhe fazer frente, a TAP procedeu a uma onda de despedimentos de dimensões significativas, decisões que foram contestadas pelos visados, tendo havido já diversas sentenças dos tribunais a obrigar à sua reintegração na TAP.

Fecho da ex-VEM é processo “ainda em curso”

O encerramento gradual da TAP Manutenção e Engenharia (TAP M&E) no Brasil é ainda um processo em curso. As imparidades resultantes do processo já foram assumidas intra-grupo no exercício de 2021, mas estão ainda a decorrer negociações com sindicatos e outras entidades no Brasil para encerrar este ‘dossier’.

Christine Ourmières-Widener admitiu que “este é um processo difiícil”, mas que se enquadra e é “consistente” com o objetivo do plano de reestruturação da TAP de abandonar todas as atividades ‘não core’, ou seja, todas as operações que não estão diretamente ligadas ao negócio da aviação.

Recorde-se que a TAP M&E Brasil tem sido um sorvedouro de recursos financeiros da TAP ao longo dos anos, desde a sua aquisição em 2006.

A partir do momento em que a TAP decidiu alienar esta participada foram desenvolvidos diversos contactos nesse sentido, mas os responsáveis da companhia aérea nacional admitem a impossibilidade de encontrar “um comprador viável” para a TAP M&E Brasil.

Também inserida no plano de reestruturação da TAP, está a transferência das ações da PGA (Portugália) e  UCS (Cuidados Integrados de Saúde) da TAP SGPS para a TAP SA.

Segundo Gonçalo Pires, administrador financeiro da TAP, essa decisão irá ser apresentada à votação na próxima assembleia geral da empresa e significa que a TAP SA é que passará a ser a verdadeira ‘holding’ do Grupo TAP, até porque é essa empresa que é a recetora dos fundos aprovados pela Comissão Europeia para aplicar o plano de reestruturação em curso.

Ucrânia é “desafio adicional” para a aviação

Além do impacto ainda presente da Covid-19, a indústria da aviação civil está agora a enfrentar os efeitos da guerra na Ucrânia, considerada por Christine Ourmières-Widener, “um desafio adicional para muitas companhias aéreas”.

A presidente da TAP elencou três efeitos derivados da guerra na Ucrânia na indústria da aviação civil: o custo crescente dos combustíveis, as maiores flutuações dos mercados cambiais e a subida das taxas de inflação.

Além disso, há companhias aéreas que têm sobrecustos nos seus voos por não poderem sobrevoar o espaço aéreo russo.

Nesse aspeto específico, a consequência direta para a TAP foi apenas o encerramento da rota entre Lisboa e Moscovo, redistribuindo a respetiva capacidade pela restante operação. Como não opera voos para a Ásia, a companhia aérea nacional é menos afetada por esta sanção russa.

Devido aos diversos elementos desta conjuntura instável, o posicionamento da administração da TAP em relação ao verão de 2022 e ao futuro próximo é de “um otimismo cautelosos”.

Christine Ourmières-Widener destacou ainda que a sua grande prioridade para 2022 é a renegociação do acordo laboral.

Prejuízos de quase 1.600 milhões de euros em 2021

A TAP teve um prejuízo de quase 1.600 milhões de euros no ano passado, apesar do aumento do número de passageiros transportados e das receitas relativamente ao ano anterior, segundo comunicou a empresa.

Na informação enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a transportadora aérea nacional explica que registou custos não recorrentes de 1.024,9 milhões — por exemplo, com o encerramento das operações de manutenção no Brasil — que tiveram impacto nos resultados.

“Deve também ser destacado o impacto líquido negativo das diferenças cambiais (EUR 175,5 milhões) relacionado com a depreciação do euro face ao dólar (com um forte impacto nas rendas futuras e, portanto, sem impacto em caixa neste ano), e também a depreciação do real face ao euro”.

Na informação enviada à CMVM, a empresa diz ainda que as receitas operacionais atingiram os 1.388,5 milhões de euros, um aumento de 328,4 milhões (+31,0%) em comparação com as receitas operacionais de 2020.

Além do aumento das receitas de passageiros de 218,8 milhões de euros, “este valor foi particularmente favorecido pelo aumento das receitas de carga e correio, que aumentaram 88,0% (EUR 110,5 milhões), compensando na totalidade o declínio de EUR 13,7 milhões (-20,1% YoY) das receitas de manutenção”, explica.

Em comunicado de imprensa, a empresa aponta uma “recuperação significativa do EBITDA recorrente no segundo semestre de 2021, anulando as perdas operacionais registadas durante o primeiro semestre, permitindo que o ano de 2021 fosse encerrado com um EBITDA recorrente positivo de 11,7 milhões de euros”.

E recorda que a primeira metade de 2021 “foi marcada por severas restrições à mobilidade doméstica e internacional devido à pandemia de Covid-19, levando a uma imobilização quase total dos aviões da companhia aérea durante vários meses”. Ao longo do segundo semestre — acrescenta -, “foi-se verificando a reabertura gradual das fronteiras, apesar de dois dos principais mercados da TAP, Brasil e EUA, só terem retomado os voos internacionais com Portugal durante o último trimestre do ano”.

Em termos de liquidez, tal como no ano anterior, em 2021 a TAP refere que continuou a concentrar-se nas suas medidas de proteção de liquidez, “beneficiando dos aumentos de capital de maio e dezembro de 2021 de EUR 462 milhões e EUR 536 milhões, respetivamente (no contexto da Compensação de Danos da COVID-19 e do Auxílio à Reestruturação)”.

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