O ano que termina foi generoso em surpresas, sobretudo ao nível político. Basta recuarmos a Junho para nos lembrarmos do impacto que o Brexit teve nas bolsas, com quedas na abertura superiores a 10%. Passados menos de seis meses, a volatilidade baixou e alguns mercados batem máximos históricos consecutivos. Os sinais de instabilidade desapareceram e os mercados parecem agora acreditar na “normalidade” que os políticos nos transmitem.

Portugal não é excepção ao adoptar este conceito, não fôssemos obrigados a recordar diariamente os problemas estruturais que continuam a afectar a economia portuguesa, como o elevado endividamento, a falta de investimento e a perda do poder de compra das famílias quer por via da subida da inflação, superior ao estimado, quer pelo aumento da tributação via impostos indirectos. O Estado continua a recorrer aos velhos truques de sempre: antecipação de receita e adiamento de investimento e reformas. Para 2017 ficam os mesmos problemas com que entrámos em 2016, para além do fraco crescimento, os problemas na banca. As acções do BCP encerram em mínimos históricos; a CGD tem o seu rating em revisão negativa e a capitalização por concluir; o Novo Banco, após a injecção de milhares de milhões de euros, continua sem comprador; o CaixaBank, por muito que tente, não consegue comprar o BPI; e o Montepio viu os seus títulos de participação em desvalorização contínua.

Os riscos para pequenas economias como a portuguesa continuarão a ser bem reais, pelo que as famílias e os empresários têm fortes razões de preocupação. As elevadas taxas de juro de longo prazo e a ausência de investimento produtivo e duradouro contribuem para a incerteza e constrangimentos no crescimento da economia portuguesa. No capítulo europeu, os desafios colocados pelas eleições italiana, francesa e alemã irão testar o actual sistema político e financeiro, que continua a necessitar de dinheiro fresco.

O acontecimento mais marcante é o fim da bolha de décadas do preço das obrigações na sequência da eleição de Trump. Em 2017, as taxas de juro de longo prazo continuarão a subir, com impactos substanciais nos países que não fizeram reformas ou que não têm uma política monetária autónoma. Os mercados accionistas desenvolvidos irão manter  a sua tendência de alta, suportados não só por uma política monetária, que apesar de menos expansionista é favorável ao investimento, mas sobretudo por uma política fiscal que será o novo motor de expansão da economia americana, a par da desregulamentação e desburocratização.

No próximo ano veremos o preço da Bitcoin ultrapassar o preço do ouro e assistiremos ao desenvolvimento de um sistema financeiro paralelo, ainda desconhecido para muitas das autoridades de supervisão europeias, que se dedicam a regulamentar instrumentos financeiros já obsoletos. A inovação estará sempre à frente, para o bem ou para o mal.

Nós por cá, entre vacas voadoras e feiras de gado, tudo bem, regressámos à normalidade. Votos de um excelente ano.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.