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Nova estirpe provoca caos no Reino Unido com retenção de pessoas e mercadorias

Na sequência do registo de uma nova variante da Covid-19 em Inglaterra, Boris Johnson procedeu ao agravamento de medidas que resultaram no confinamento de Londres e do sudeste e leste do país. Face às novas restrições, milhares de pessoas tentaram fugir da capital este domingo e em Kent, centenas de camiões aguardam ‘luz verde’ para entrar em França. Nova estirpe fechou as portas do mundo ao Reino Unido.
21 Dezembro 2020, 12h17

No espaço de dois dias, a nova estirpe da Covid-19 desencadeou no Reino Unido e na Europa Central um novo alerta. Esta nova variante tem resultado numa onda de novas infeções na Grã-Bretanha, principalmente em Londres, e segundo os estudos, pode ser até 70 vezes mais contagiosa do que a mais comum na Europa. Face a esta nova vaga de contágios, o Governo de Boris Johnson decretou mais restrições para o período da época festiva que já começaram a afetar as deslocações de pessoas e mercadorias dentro do país.

Por cá, embora a Direção-Geral da Saúde (DGS) tenha considerado que esta nova estirpe do vírus fosse expectável, assegurando que não é “motivo de preocupação”, o país e o mundo reagiram: este fim de semana assistiu-se a uma onda de bloqueios ou forte condicionamentos das viagens entre o Reino Unido e estes países, incluindo Portugal.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou aos seus membros para que “aumentem as suas capacidades de sequenciação” do vírus, antes de saberem mais sobre os riscos colocados por esta variante. Esta segunda-feira, os membros da União Europeia deverão avançar com novas medidas para controlar a disseminação desta nova estirpe, uma vez que ficou agendada uma reunião de emergência para esta tarde.

Milhares de londrinos fogem ao confinamento

A chegada desta nova variante da Covid-19 parece ter apanhado o Executivo de Boris Johnson  de surpresa. O Governo, que já tinha anunciado medidas para que os britânicos pudessem celebrar o Natal e o Ano Novo de forma segura, foram descartadas este sábado depois de ter sido anunciado um novo conjunto de regras.

Segundo Boris Johnson, o aumento do número de casos obrigou a subir o nível de alerta de 3 para 4, o mais elevado imposto desde o início da pandemia, o que implica um confinamento, o encerramento do comércio não essencial e o regresso ao teletrabalho, sempre que possível.

Horas depois do primeiro-ministro britânico anunciar um novo confinamento para Londres e para o sudeste de Inglaterra, milhares de pessoas reuniram-se nas estações de comboio na tentativa de tentar fugir da capital britânica. De acordo com o jornal “The Independent”, foram vários os comboios a esgotar rapidamente a sua lotação e, em algumas situações, assistiu-se a uma inflação dos preços. Às 19h00, reporta o jornal, já não haviam bilhetes disponíveis nas estações de Paddington, Kings Cross and Euston para viagens naquele dia.

Camiões impedidos de entrar em França aguardam autorização

E se algumas pessoas ficaram impedidas de viajar, as mercadorias viram-se impedidas de atravessar o Canal da Mancha para chegar a França, depois do país ter bloqueado a entrada de viajantes do Reino Unido. Esta segunda-feira de manhã, o “The Guardian” noticia uma fila com vários quilómetros de camiões que aguardam ‘luz verde’ para proceder às entregas de bens em França.

Grant Shapps, ministro dos Transportes do Reino Unido, alertou esta manhã para “perturbações significativas” após a proibição de viagens instantâneas que entrou em vigor na noite de domingo, anunciando ainda que o Aeroporto de Manston, em Kent, está a ser preparado para acomodar até quatro mil camiões como forma de aliviar o congestionamento.

“Depois do anúncio do governo francês de que não aceitará nenhum passageiro que chegue do Reino Unido nas próximas 48 horas, pedimos ao público, e particularmente aos transportadores, que não viajem para os portos de Kent ou outras rotas para a França”, urgiu Shapps, esta segunda-feira, na rede social Twitter. “Estamos a trabalhar urgentemente com as Estradas de Inglaterra e o Conselho de Kent para decretar medidas de contingência para minimizar a interrupção do tráfego na área”, anunciou.

Assim, até aviso contrário, o deslocamento através dos principais portos, nomeadamente, o de Dove, Eurotunnel e Eurostar foram  suspensos.

Itália, Dinamarca, Holanda e Austrália registam casos de infeção pela nova estirpe

Embora ainda não existam sinais desta nova variante em Portugal, as autoridades de saúde em alguns países da Europa Central e Austrália já anunciaram que foram registados casos de infeção nos seus países.

De acordo com a OMS, fora do território britânico foi reportado um número reduzido de casos, nove na Dinamarca, dois na Austrália e um na Holanda. Já em Itália, o primeiro caso foi confirmado no domingo pelo ministério da Saúde italiano.

Em França, a possibilidade de esta nova variante vir a ser registada em breve não foi descartada.  “É completamente possível que o vírus já esteja a circular em França”, disse esta segunda-feira de manhã, em entrevista à rádio “Europe 1”, o ministro da Saúde do país.

Apesar de ainda não ter sido detetada, explicou Olivier Veran, o mais certo é que a nova estirpe já esteja a circular em França — teoria que Daniel Prieto-Alhambra, professor de fármaco-epidemiologia da Universidade de Oxford e membro do conselho de peritos que está a apoiar a Agência Europeia de Medicamentos sobre as novas vacinas, já tinha aliás avançado este domingo, não apenas para este, mas para uma série de outros países europeus.

À “BBC”, também esta manhã, Arlene Foster, a primeira-ministra da Irlanda do Norte disse exatamente o mesmo: “É provável que esteja aqui e é provável que esteja também na República [da Irlanda]”.

Na Alemanha, Christian Drosten, virologista e assessor do governo para os assuntos relacionados com a Covid-19, também disse em entrevista radiofónica esta manhã que a nova estirpe já deve estar a circular no país e mostrou-se “tudo menos preocupado” com a mutação viral.

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