Para favorecer a descoberta de vocações e a equilibrada formação do carácter, a educação deve ser integral. Entenda-se como integral uma educação guiada pela adequada ordenação de prioridades educativas e pela consistência entre as palavras e as acções daqueles que educam.
Contudo, em vez de cumprir esse ideal integral, a educação assume cada vez mais um cariz totalizante que abafa a diversidade de talentos e que impede o desenvolvimento de virtudes, como a humildade, a paciência, a responsabilidade, a auto-disciplina, a coragem, a gratidão ou o altruísmo. Ainda que possa soar pessimista afirmá-lo, o nosso actual modelo de ensino tem contribuído mais para debilitar do que para edificar o carácter dos alunos.
Os efeitos nocivos desta abordagem de ensino atingem diferentes domínios, mas consideremos dois em particular: o aumento de transtornos mentais e de disfuncionalidades sociais; e o predomínio de uma mente dogmática e inquisitiva que fomenta acções inconsequentes e desordenadas, em prejuízo do próprio indivíduo ou daqueles que o rodeiam.
Vivemos numa cultura que se apressa a atribuir autoridade e centralidade às crianças, formando pequenos tiranos, e que incentiva saltos precoces no desenvolvimento, induzindo-lhes ansiedade. Por outro lado, são descuradas as lições mais simples de responsabilização, humildade e sociabilidade que só se adquirem através de descontraída interacção social com amigos e familiares e de exposição aos perigos e às frustrações da vida.
Um mundo constantemente agradável não favorece aquela robustez que nos permite aceitar a brevidade da vida, a inexorável força da natureza, a incerteza material, a punição, ou apreciar igualmente momentos de euforia e de melancolia.
É aqui que entram também as crescentes disfuncionalidades sociais, como a vaidosa misantropia – “odeio pessoas!” – ou os maus modos enquanto sinal de irreverência. Focados nos seus ecrãs e beneficiando da solicitude de quem vai fazendo tudo por eles, muitos adolescentes demonstram dificuldade em comunicar e em desenrascar-se nas mais variadas situações sociais, seja num espaço comercial, numa repartição pública ou sozinhos em viagem. Alheiam-se assim dos gestos mais banais que sempre estruturaram o bem-estar e a coesão social, desde o elementar cumprimento à chegada até à simpatia recíproca em contextos impessoais, sem esquecer o tão apreciável agradecimento final.
Em estreita ligação com estas vulnerabilidades mentais e sociais, chegamos ao segundo efeito pernicioso da educação moderna: o predomínio da mentalidade dogmática e inquisitiva. Dois recentes e bem elucidativos exemplos são a acção de esvaziar pneus em nome do “activismo climático” e a adesão acrítica dos adolescentes à campanha ideológica pela “autodeterminação de género”.
Que sentimentos movem alguém a destruir a propriedade privada, causar enorme transtorno no dia de alguém, registar o referido acto de vandalismo fútil e prosseguir orgulhoso e indiferente ao prejuízo causado? Falta de empatia, fraca noção das dificuldades materiais da vida real, deslumbramento fácil com activismo bacoco e umas pinceladas de narcisismo e de impunidade.
A mente dogmática reveste estes activistas da firme convicção de que podem e devem ter a pretensão de ditar que tipo de viatura os outros poderão comprar, tratando os alvos do seu vandalismo com sobranceria moral. A acção vale por si só, por providenciar propósito existencial – e independentemente de poder advir dali um dano ambiental maior.
Por fim, a mente dogmática e inquisitiva aplicada às ditas questões de “autodeterminação de género” tem sido responsável por gerar uma insólita vaga de crianças e jovens confusos quanto à sua identidade sexual e por difundir uma ideia fictícia de “diversidade sexual” insondável e caótica.
Através de uma hábil argumentação disfarçada de apoio a minorias desprotegidas, a aculturação sob a bandeira do arco-íris encontra nas crianças e jovens os seus alvos preferidos, apagando padrões de normalidade, impondo a discriminação positiva como um tópico indiscutível e forçando a transmissão de propaganda por meio dos professores e de ferramentas didácticas.
Seja qual for o nível do caos instalado em cada sociedade, o objectivo essencial é repudiar todas as referências biológicas e culturais legadas pela natureza e pela experiência, emancipar o indivíduo de compromissos e obrigações e, em última instância, desautorizar a família. Resumindo, semear imprudentemente a desordem onde antes imperava ordem.
Que espécie de cobardia é essa que inibe a defesa dos próprios filhos por receio de parecer dramático, enquanto uma doutrinação perversa invade as escolas, desrespeitando a soberania familiar e a liberdade de consciência? Dizia Nicolás Gomez Dávila (“Escolios a un texto implícito”. Bogotá, Instituto Colombiano de Cultura, 1977), num dos seus muitos aforismos, que «não ter noção da putrefacção do mundo moderno é sintoma de contágio». Aqueles que estão mais preocupados em sinalizar moderação do que em contrariar estas insanidades talvez devessem parar para reflectir se não estarão já contagiados.
Ao sermos bombardeados em tempo real com os extremismos concretizados em outros pontos do globo podemos cair no erro de desdramatizar a nossa situação particular. Mas a degradação mais avançada de outras sociedades não deve levar-nos a baixar a guarda. Deve motivar uma contra-ofensiva moral que promova a formação integral da personalidade que contrarie os fenómenos de despersonalização face aos outros, de formatação intelectual e de vulnerabilidade emocional.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.