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Novo Banco registou perdas de 272 milhões com clientes da área da construção

Numa perspetiva de risco a Deloitte detectou que “não foi disponibilizada evidência de o BES/Novo Banco ter efetuado uma análise crítica à razoabilidade e exequibilidade das projeções/planos de negócio” dessas construtoras.
8 Setembro 2020, 14h38

O Novo Banco registou perdas com clientes da área da construção de 271,7 milhões de euros, dos quais 259,7 milhões são perdas com crédito, entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018, revela a auditoria da Deloitte publicada no site do Parlamento. A auditoria revela falhas nas projeções/planos de negócios dessas construtoras na hora de dar crédito ou de reestruturar o crédito. Algumas construtoras foram mesmo à falência.

“A nossa amostra inclui um conjunto de exposições a empresas e grupos económicos do setor da construção. Estas exposições estão associadas a grupos económicos que historicamente apresentaram elevado endividamento, tendo envolvido a concessão de crédito em montantes relevantes a holdings desses grupos”, revela a auditoria especial feita pela Deloitte aos atos de gestão do BES/Novo Banco.

A auditora explica que algumas destas empresas começaram a atravessar dificuldades mais visíveis a partir de 2012 e o BES/Novo Banco foram tomando decisões em diversos processos de reestruturação ocorridos entre 2012 e 2018, que envolveram igualmente outros bancos nacionais, no sentido de manter o apoio a estas empresas, que por vezes envolveram new money e a prestação de garantias bancárias para realização de obras. Estas reestruturações foram assegurando a continuidade dessas empresas, criando condições para que continuassem a operar e a executar obras, em alguns casos explorando novos mercados em virtude da estagnação verificada no mercado em Portugal a partir do início dessa década.

Em alguns casos “estas reestruturações eram baseadas em planos de negócio elaborados por consultores externos, apresentados pelos clientes, os quais pressupunham normalmente crescimento significativo de atividade em outra geografias, tais como África, Médio Oriente e América do Sul”, revela a Deloitte.

Ora, “apesar de os referidos planos de negócio terem incorporado análises de sensibilidade, no âmbito do nosso trabalho não nos foi disponibilizada evidência de o BES/Novo Banco ter efetuado uma análise crítica à razoabilidade e exequibilidade dessas projeções/planos de negócio, bem como à suficiência dessas análises de sensibilidade, numa perspetiva de risco” acusa a Deloitte.

“Nos casos acima referidos, a estratégia das empresas não foi bem sucedida e as empresas acabaram por entrar em insolvência, obrigando, em alguns casos, o Novo Banco a honrar garantias bancárias de boa execução que tinham sido prestadas pelo BES e pelo Novo Banco para obras em curso e originando perdas associadas a exposição patrimonial”, explica a auditoria.

Os montantes de perdas registados refletem a reduzida expetativa de recuperação do Novo Banco para estes clientes em 31 de dezembro de 2018.

A evolução da exposição bruta do Novo Banco às entidades identificadas atinge os 475,2 milhões de euros, em 31 de dezembro de 2018, entre crédito concedido e papel comercial dessas empresas subscrito pelo banco.

O crédito a seis clientes deste setor da construção que estão incluídos na amostra era de 404,6 milhões a 4 de agosto de 2014, data da resolução do BES; passou para 488,7 milhões a 3o de junho de 2016; para 488,6 milhões em 30 de setembro de 2017 e finalmente ficou em 463,2 milhões em 31 de dezembro de 2018.

Há uma exposição a papel comercial de 12 milhões a 4 de agosto de 2014 e que se mantém inalterada em todos os períodos até ao fim da análise.

No total a exposição bruta evolui de 416,7 milhões em 4 de agosto de 2014 para 500,7 milhões em 30 de junho de 2016; passa para 500,6 milhões em 30 de setembro de 2017 e acaba em 475,2 milhões em 31 de dezembro de 2018.

A Deloitte salienta que o aumento de exposição entre 4 de agosto de 2014 e 30 de junho de 2016 está fundamentalmente relacionado com uma entidade: “a fusão por integração de duas entidades, tendo os financiamentos a estas entidades sido concedidos antes de 4 de agosto de 2014” e noutra entidade, “verificou-se uma operação de reestruturação, concluída em 2016, que implicou que os bancos financiadores (incluindo o Novo Banco) tivessem efetuado novos aportes de fundos, nomeadamente garantias bancárias prestadas, destinados a suportar a atividade da entidade”.

“A situação anteriormente referida foi identificada para 7 entidades, 6 incluídas na amostra do Workstream Operações de crédito concedido  e incluída na amostra do Workstream Outros Ativos, que representaram perdas totais para o Novo Banco no montante de 271,7 milhões de euros”. A Deloitte detalha a evolução das perdas para as sete entidades. Há seis entidades que receberam crédito do BES/Novo Banco que entre 4 de agosto de 2014 e 30 de junho de 2016 geraram perdas de 24,4 milhões. Entre 1 de julho de 2016 e 17 de outubro de 2017 (data da venda ao Lone Star) as perdas geradas foram de 115,1 milhões; entre 18 de outubro de 2017 e 31 de dezembro de 2018 as perdas somaram 120,1 milhões. Ao todo durante todos estes anos as perdas com crédito somam 259,7 milhões.

Já incluindo as perdas com o papel comercial (títulos de dívida de curto prazo), as perdas evoluem para 36,4 milhões no primeiro período da análise; mantêm-se em 115,1 milhões entre 1 de julho de 2016 e 17 de outubro de 2017; evoluem para 120,1 milhões entre 18 de outubro de 2017 e 31 de dezembro de 2018 e ao todo durante o período as perdas com estes clientes da área da construção somaram 271,7 milhões de euros.

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