O setor da mobilidade tem sofrido frequentes e rápidas disrupções tecnológicas e dos padrões de consumo. Este contexto irá acelerar, especialmente com o expectável agravamento dos custos de matérias-primas, transporte e energia. Simultaneamente, verifica-se um pico de procura e constrangimentos da oferta, exigindo ainda mais agilidade organizacional.

Neste contexto, existem quatro principais forças de mudança sobre o setor num futuro próximo:

(i) Padrões de procura: disrupção da cadeia de abastecimento e quebras na produção de materiais têm causado backlog de encomendas e desafios de inventário. A retoma da atividade de construção e pico de procura do comércio online distribuição aumenta a procura por veículos comerciais e usados.

(ii) Cadeia de valor: os constrangimentos sobre a cadeia de abastecimento continuam a afetar os ciclos de produção. Encerramentos pós-pandemia e escassez de semicondutores e matérias primas exigem análises profundas da resiliência da cadeia de abastecimento e planos de mitigação de riscos. A escassez de motoristas e operadores de armazém colocam mais pressão sobre as cadeias de abastecimento, o que, combinado com o aumento da procura, leva ao aumento dos tempos médios de entrega.

(iii) Novos entrantes: players de mercados emergentes, nomeadamente no segmento de mass market dos veículos elétricos, entram no mercado de mobilidade, enquanto se continua a verificar alta intensidade de aquisições por parte dos grupos automóveis, especialmente produção/ reciclagem de baterias, sistemas V2X, e condução autónoma. No espaço da distribuição e logística, surgem novos entrantes com modelos de marketplace digital e transitários de base digital.

(iv) Custos operacionais: o aumento do custo das matérias-primas (e.g., semicondutores, alumínio, plásticos e aço) em resultado da inflação e dos preços dos combustíveis continuam a pressionar o setor (agravado por uma possível crise energética na Europa).

As empresas do setor têm vindo a lidar com estas pressões de diversas formas:

(i) Reposicionamento competitivo: alavancagem de competências in-house para lidar com a crescente eletrificação, automação e conectividade. A arquitetura de pricing como ferramenta de mitigação dos efeitos da inflação e do aumento dos custos de matérias-primas e combustíveis.

(ii) Gestão das expetativas do consumidor: as construtoras automóveis e players logísticos movimentam-se no sentido de integrar uma parcela maior da cadeia de abastecimento, minimizando os efeitos da disrupção do fornecimento: torna-se mais crítico analisar pain points específicos de cada segmento de consumidor ao longo da sua jornada.

(iii) Inovação: a agenda da sustentabilidade, um dos principais drivers de mudança, materializa-se na maior diversidade de modelos e segmentos de veículos elétricos (e.g., pick-ups comerciais, furgões para entregas last-mile).
Diferentes padrões de consumo, retoma da procura, disrupção da cadeia de abastecimento e o aumento dos custos operacionais irão continuar a ser as principais forças de mercado. Consequentemente, a revisão do posicionamento competitivo na cadeia de valor será a principal resposta do setor, conferindo maior agilidade aos players que nele operam.