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Novo gasóleo sem enxofre para navios vai aumentar custos entre 15% e 30% em Portugal

O conjunto dos agentes de navegação, associados da Agepor, fatura um valor anual de aproximadamente 450 milhões de euros.
26 Novembro 2019, 07h54

A  introdução de obrigatoriedade de consumo de gasóleo sem enxofre a partir de 1 de janeiro de 2020 vai gerar custos acrescido na operação dos navios em Portugal, os quais deverão ser repassados, de forma mais ou menos assumida, para o cliente final.

“Não tenho estimativas para o efeito que [esta medida] terá nas empresas nacionais do setor, mas atrevo-me a dizer que levará a um aumento que pode variar entre os 15% e os 30% nos custos de operação dos navios”, admitiu Belmar da Costa, diretor executivo da Agepor – Associação dos Agentes de Navegação de Portugal, em declarações ao Jornal Económico.

A nível global, o impacto da entrada em vigor destas novas regras de emissão de enxofre deverão representar um aumento de custos para a indústria de ‘shipping’ na ordem dos 60 mil milhões de dólares, cerca de 54,4 mil milhões de euros ao câmbio atual.

Neste montante, não estão incluídos os custos para cumprir a redução até 50% das emissões de gases com efeitos de estufa até 2050.

Atualmente, o setor portuário em Portugal conta com cerca de 80 agentes de navegação, envolvendo aproximadamente 1.240 colaboradores. Por ano, registam-se mais de 10.000 escalas de navios nos portos nacionais, que transportam quase 100 milhões de toneladas.

Este dados foram avançados por Rui d’Orey, presidente da Agepor, no jantar do 100º aniversário da instituição, que decorreu no passado dia 14 de novembro.

De acordo com este responsável, “o conjunto dos agentes de navegação, associados da Agepor, fatura um valor anual de aproximadamente 450 milhões de euros”.

“Entre 2008 e 2018 registou-se um aumento de 36 milhões de toneladas de carga transportada, de 64 para quase 100 mil milhões de toneladas”, adiantou estes responsável, acrescentando que “o transporte marítimo, centro da atividade dos agentes de navegação, é responsável por cerca de 90% do comércio mundial”.

“Em Portugal, em 2018, mais de 75% das importações e quase metade das exportações passaram pelos portos”, destacou Rui d’Orey, precisando que os principais países de destino são Alemanha, Reino Unido, Espanha, Países Baixos, Itália e França, ao nível europeu; e Estados Unidos, Angola, Brasil e Marrocos, no resto do mundo.

Neste momento, a contribuição da economia do Mar para o PIB nacional é de 5% e o setor marítimo-portuário representa uma parte significativa desse valor.

Além das questões das emissões, o presidente da Agepor considerou que alguns dos principais que o setor enfrenta no futuro são impressão 3D; a robotização e a automação, o ‘big data’, a IA (inteligência artificial) e IoT (‘internet’ das coisas), acreditando que, “um dia, teremos navios e terminais completamente autónomos e ‘inteligentes’”.

Sobre as prioridades da Agepor para o setor marítimo-portuário no evento dos 100 anos de associativismo dos agentes de navegação, Rui d’Orey destacou o aumento do investimento e da capacidade dos portos, a conclusão do projeto JUL (Janela Única Logística) e a paz social.

“É uma feliz coincidência que este evento [100º aniversário da Agepor] coincida com o princípio de uma nova legislatura. É, pois, o momento certo para falarmos sobre os temas-chave que devem estar na agenda política do nosso sector”, realçou Rui D’Orey na ocasião.

Segundo o presidente da Agepor, é necessário investir nos portos portugueses para garantir a execução da ‘Estratégia para o Aumento da Competitividade Portuária’, entendido como um documento-chave apresentado em 2016 pelo Ministério do Mar, “cuja concretização tem vindo a ser feita a um ritmo mais lento do que os portos, o mercado e a economia necessitam”.

Como exemplo de investimentos previstos necessários, o responsável destacou: o alargamento da PSA Sines, o novo terminal Vasco da Gama, as dragagens do porto de Setúbal, a modernização da Liscont em Lisboa ou o Terminal -14 de Leixões.

No que respeita à JUL – projeto iniciado em 2018 para estender a Janela Única Portuária a toda a cadeia logística nacional, numa lógica intermodal – Rui d’Orey defende que “é prioritário avançar com a sua implementação, de forma a que a dimensão física seja complementada e suportada por uma dimensão digital”. O presidente da Agepor salientou ainda que os agentes de navegação são peças-chave desta plataforma, uma vez que atuam como ‘pivots’ na cadeia logística dos portos.

Rui d’Orey evidenciou também a paz social como vetor essencial para o desenvolvimento portuário. “Os portos nacionais, em especial o de Lisboa, têm sido continuamente assolados por greves ou ameaças de greve, desde 2012. Este é um aspeto negativo, porque não existe crescimento de um porto sem uma saudável cumplicidade entre os trabalhadores portuários e os demais ‘stakeholders’. Basta ver os portos nacionais que crescem e os que marcam passo ou definham: a correlação com a paz social é direta e clara. O crescimento do porto traz prosperidade para todos”, assinalou o presidente da Agepor.

Rui d’Orey relevou ainda o papel dos agentes de navegação, que apesar de ter mudado muito em 100 anos, continua a ser imprescindível para atividade marítima e portuária: “a sua presença física nos portos e o seu papel enquanto interlocutores locais permanecem valiosos”, assegurando que “uma pequena demora na estadia de um navio custa muito mais a um armador do que qualquer poupança, sempre irrisória, no custo de um agente”.

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