“O LSF, concebido pela Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) e pelo Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank), anuncia que concluiu a sua primeira transação ‘repo’ com o banco Citi, no montante de 100 milhões de dólares”, o mesmo valor em euros, lê-se no comunicado enviado à Lusa.
“Esta transação inovadora, com apoio de financiamento do Afreximbank, procura trazer para o continente africano os benefícios de um mercado ‘repo’ bem desenvolvido, com o objetivo de melhorar a liquidez de um conjunto de títulos de dívida em moeda estrangeira (eurobonds) de vários países, incluindo os emissores soberanos da República Árabe do Egito, Quénia e Angola”.
As operações ‘repo’ são recompras de títulos de dívida no mercado secundário, que permitem aumentar a liquidez de um título de dívida através da sua transação antes da maturidade, o que significa que o investidor pode vender os títulos antes de eles chegarem ao final do prazo previsto, melhorando a gestão da sua liquidez e tornando esta dívida mais atrativa, uma vez que não está ‘presa’ até ao fim do prazo, que geralmente é de dez anos, pelo menos.
“A primeira transação de 100 milhões de dólares marca a operacionalização total do modelo de negócio do LSF, que está agora no processo de angariar clientes para a plataforma, incluindo dois dos maiores investidores privados norte-americanos e europeus”, acrescenta-se ainda no comunicado.
“Como criadora da ideia e tendo trabalho durante mais de dois anos para ver o LSF acontecer, estou muito orgulhosa, já que é um exemplo concreto, pragmático e ilustrativo do que África pode fazer por si própria quando toma a iniciativa de construir infraestruturas financeiras modernas que vão potenciar a sua recuperação ‘verde’ e os investimentos sustentáveis no continente”, disse a presidente do LSF e antiga diretora executiva da UNECA, Vera Songwe.
“Durante anos, falámos e pensámos sobre a possibilidade de um instrumento de liquidez focado em África, para apoiar as emissões de dívida africanas, e hoje começamos o caminho, passando das palavras à ação; com a questão do prémio de liquidez resolvida, os emissores africanos podem esperar taxas de juro mais baixas”, comentou o presidente do Afreximbank, Benedict Oramah.
Em entrevista à Lusa em junho, o diretor da divisão para o clima e recursos da Comissão Económica da ONU para África (UNECA) tinha já explicado as vantagens de negociar a dívida neste mercado secundário, também conhecido como ‘repo market’.
“Vamos lançar um mercado secundário [‘repurchase agreement’ ou ‘repo market’] para a dívida pública africana para melhorar a atratividade dos investimentos em títulos de dívida soberana de África, que assim podem ser transacionados diariamente”, disse Jean-Paul Adam.
“Os países africanos normalmente emitem dívida a cinco ou dez anos, o que obriga o investidor a bloquear o seu investimento durante esse período, tornando-o mais arriscado porque a economia pode mudar de repente, mas com este ‘repo market’, a dívida pode ser transacionada diariamente, o que reduz o risco para o investidor, porque pode vendê-la de um dia para o outro”, explicou então.
“Agora que o mecanismo está a funcionar, estamos contentes por oferecer refinanciamento para um universo bem definido de mais de 120 emissões de dívida africana elegíveis”, disse o diretor do secretariado do LSF, David Escoffier.
A intenção de criar um LSF foi anunciada na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima do ano passado, em Glasgow, com o objetivo de aumentar a liquidez dos títulos de dívida africana e incentivar os investimentos relacionados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
“Uma melhoria nos termos das novas emissões de títulos relacionados com o clima ou com os ODS das nações africanas pode originar um aumento dramático no volume de financiamento verde e azul [clima e oceanos] a taxas sustentáveis e acessíveis”, conclui a UNECA.
A dívida dos países africanos, no total de 544 mil milhões de dólares, é a maior de qualquer região em desenvolvimento, em função do PIB, na ordem dos 70%, e os altos níveis de dívida impossibilitam os investimentos em infraestruturas e no desenvolvimento de capital humano, o que, por sua vez, é um obstáculo a mais investimentos privados.