As dificuldades que os últimos tempos pandémicos trouxeram e criaram à sociedade e à economia portuguesa, são vistos como uma oportunidade a superar no que se refere ao emprego, à retribuição salarial e precariedade laboral, e tem-nos obrigado a (quase) todos a uma adaptação rápida à nova realidade. Muitos negócios têm sido reinventados e outros surgem agora à velocidade da luz, criando inovação e valor em nichos até aqui pouco ou nada utilizados.

As medidas de contenção impostas nos últimos dois anos levaram a fortes limitações do contacto direto da população com as instituições, fazendo disparar, por reação, muitos negócios online e com recurso à internet. Na verdade, a resposta dos nossos agentes económicos foi célere: em consequência os registos online aumentaram exponencialmente, com os negócios nacionais a sentirem a urgência de estar presentes no meio digital, bem como novas empresas ou estruturas mais pequenas, que chegam massivamente à internet.

Se antes da Covid-19 muitas empresas eram conservadoras, ponderando apenas o momento de dar o melhor passo para o digital, a pandemia empurrou-as definitivamente para este universo, acelerando todo o processo com os novos registos a atingir números nunca vistos. Nunca houve tantas empresas portuguesas na internet, diria até quase de forma universal, porque a maioria entendeu que esta seria a única forma de manter alguma atividade no período do confinamento, divulgando os seus produtos e projetos.

As vendas e serviços na internet dispararam abruptamente, mas vieram mesmo para ficar, atingindo um número histórico nos últimos meses. Portugal teve o terceiro maior aumento de novas empresas do terceiro trimestre do ano, mais 6,8% entre julho e setembro de 2022, período em que também recuou em 2,9% o número de insolvências, sendo que das novas, a esmagadora maioria remete para moradas digitais. Em consequência, também disparou o crescimento do domínio “.pt”, dando relevância aos negócios nacionais.

Muitos dos que chegam à internet são produtos e serviços novos e de pequena dimensão. Cerca de metade das novas empresas pertencem, sobretudo, à restauração, à área dos serviços domésticos, aos ginásios e vendas de serviços e comércio digital, mas também a áreas essenciais que visam mitigar os impactos do vírus pandémico, como projetos de solidariedade social, saúde, higiene e terapias ocupacionais e de tempos livres.

Não foi só a necessidade que fez disparar este fenómeno digital, o baixo custo (basta um investimento de dez euros por ano para o registo do domínio “.pt”) também teve um papel relevante, assim como o facto de ser um processo muito rápido, fácil e funcional, para conseguir ter uma porta aberta no online. Na verdade, os portugueses descobriram o que já sabiam, mas não praticavam: a possibilidade de fazer (quase) tudo num teclado, sem sair de casa – uma nova tendência transversal às gerações que veio, sem dúvida, para ficar.

Todavia, é preciso estar atento aos perigos da sociedade digital em que vivemos. Importa compreender que, neste mundo online, a privacidade e o direito dos consumidores não são valores antiquados que travam a inovação. Estão ao nosso serviço e não se servem de nós.

Mas é igualmente importante perguntar se esta aceleração digital tem sido, e será, benéfica. O tempo o dirá. Hoje, quase tudo está na palma da mão e da iminência de um simples clique. Mas, para já, a adaptação de várias gerações ao seu uso e o quebrar do tabu que diz que a net se resume a diversão e não ao negócio e rendimento, é demasiado positivo para ser subestimado. Perigos ou oportunidades, eis a verdadeira questão.