[weglot_switcher]

Nuno Gomes: “Em Itália os capitães faziam gestos com as mãos para combinar resultados”

Numa conferência promovida pela Universidade Europeia, em Lisboa, sobre como combater a viciação de resultados no futebol, o antigo internacional pela seleção nacional e ex-jogador do SL Benfica recordou como estes eram combinados.
  • Lize Boshoff
6 Março 2018, 18h00

Nuno Gomes, antigo jogador do SL Benfica e ex-diretor do Caixa Futebol Campus, contou esta terça-feira que em Itália, no tempo em que jogou pela Fiorentina, havia resultados combinados com os capitães de cada equipa a acertar o resultado final com gestos nos túneis, antes de entrarem em campo.

O antigo internacional da seleção nacional lembrou que quando jogou em Itália, entre 2000 e 2002, falava-se de resultados combinados, mas não da mesma forma que agora. “Na altura quando se falava de resultados combinados tinha muito a ver com aquelas equipas que estavam a lutar para não descer de divisão. [A viciação de resultados] era entre elas. Nos túneis os capitães de equipa faziam um gesto com as mãos [mostra a mão fechada] para dizer que o jogo tinha de terminar empatado – era também uma forma de manipular os resultados”, contou.

A revelação foi feita durante a conferência “A (im) possibilidade do Match-Fixing no futebol”, que se realizou ao início desta tarde no Campus Lispolis, no âmbito das licenciaturas Ciências do Desporto e da Atividade Física e em Gestão do Desporto da Universidade Europeia, em Lisboa. Além de Nuno Gomes, participaram  Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), e Ricardo Domingues, CEO da Betclic, com moderação de José Manuel Delgado, diretor-adjunto do diário desportivo “A Bola”.

No final da conferência, Nuno Gomes considerou ainda: “Felizmente quando joguei este ‘boom’ ainda não tinha rebentado. Os clubes por onde passei tinham os ordenados em dia. A realidade do futebol português é que [os jogadores] levam muito pouco dinheiro para casa, quanto menos ganham, mais vulneráveis estão e o investimento chinês está relacionado com isso”.

Joaquim Evangelista,por sua vez, preferiu evidenciar a necessidade de dar mais ferramentas aos dirigentes dos clubes com o intuito de diminuir o ‘match-fixing’ em Portugal.

“O grande desafio do futebol português é capacitar os dirigentes, é dar ferramentas para poderem lidar com este fenómeno [match-fixing], dar mais conhecimentos, obrigar à boa governação, à transparência e evitar conflitos de interesses. É por aí o caminho”, começou por dizer.

No debate em que se falou principalmente dos problemas e de como combater a viciação de resultados no futebol, Joaquim Evangelista criticou, por outro lado, os “agentes pouco pacificadores”, lamentando que “se chegue de forma inaceitável e que valha tudo para além do desporto”.

Mais concretamente sobre o combate ao ‘match-fixing’, o presidente revelou que os profissionais da II Liga de futebol “recebem em média entre 1.500 e 2000 mil euros por mês” e, por isso, tornam-se alvos fáceis por parte de quem procura viciar jogos.

“Os valores do desporto são postos em causa e vale tudo para obter receitas. No dia a dia sabem onde existem vulnerabilidades, os campeonatos mais frágeis e os jogadores que precisam. O nosso campeonato é um deles e deve-se ao incumprimento salarial. Entre o não receber e ter uma oferta concreta em dinheiro, fica fácil”, declarou.

Relativamente a quem investe nas ligas e nos clubes portugueses, referindo-se a marcas de álcool e casas de apostas, também deixou um recado: “Economicamente o futebol precisa disso e tem benefícios, mas também há investidores que não são escrutinados”.

Ricardo Domingues, CEO da Betclic Portugal, evidenciou que “é difícil operar no mercado português de forma rentável”, alertando para a necessidade de rever o regulamento existente para as casas de apostas.

O responsável da Betclic Portugal afirmou que as casas de apostas perdem com a proliferação de casos de viciação de resultados e lembrou: “Nós não somos o diabo”.

De acordo com Domingues, a existência de casas de apostas “reguladas veio adicionar transparência nas apostas” e tudo o que possa indicar o contrário prejudica uma atividade regulada e legítima.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.