O 1º de maio é uma data assinalada por todos os trabalhadores, no mundo inteiro, quer os que estão ainda no ativo profissionalmente, quer os que já estão reformados. Trabalhadores, uns e outros, sem distinção. Uma data que deve ser por todos celebrada, e que mesmo os regimes totalitários, não apenas as democracias liberais ou iliberais, respeitam, ainda que por motivos e com finalidades diferentes.

Em Portugal celebramos em Liberdade o 1º de maio há 49 anos. Uma data que todas as forças sindicais assinalam, de uma forma ou de outra, de acordo com as suas matrizes identitárias e conceção do valor do trabalho e da dignidade dos trabalhadores. Uma data de celebração dos direitos, das conquistas, das liberdades, mas também uma ocasião para nos recordar da praga da desigualdade salarial, dos baixos níveis salariais e da pouca representatividade institucional dos trabalhadores.

Longe vão os tempos em que os dirigentes das maiores empresas auferiam um múltiplo de um dígito alto, sobre a remuneração média da empresa, viviam nos mesmos bairros que os seus quadros técnicos e intermédios, os seus filhos estudavam nos mesmos liceus de bairro que as demais crianças da zona. Por tudo isto, conseguiam, esses dirigentes, perceber os anseios e os receios dos trabalhadores, seus quase vizinhos.

Hoje, auferindo múltiplos de dois dígitos altos, morando em zonas ou condomínios exclusivos, tendo os seus filhos em escolas privadas (amiúde no estrangeiro), vivem numa bolha onde não cabe a compaixão. E não se coíbem, usando mecanismos de nome sofisticado e de aparência complexa (“stock options”, bónus diferidos, seguros de reforma e de saúde), de atualizarem os seus proventos a ritmos de progressão várias vezes superiores ao que permitem aos trabalhadores através da negociação coletiva.

E a conversão de todo o país numa reserva de turismo, tornando inacessível a habitação, o usufruto da cultura e dos espaços de convívio, alargando a todo o Portugal um cenário que em tempos parecia apenas sina do Algarve. Os portugueses, cujos salários são ‘devorados’ pela inflação. Na banca, na energia, no retalho, nos transportes, na educação, na justiça, entre tantos setores. Com o Estado, o maior empregador do país, numa ação reiterada de empobrecimento dos funcionários públicos, como se estes tivessem sido os responsáveis pela dívida pública, por governantes inaptos ou corruptos, por processos que prescrevem.

E lembrar não apenas a desigualdades de rendimentos, os salários que não aguentam a pressão do turismo e da inflação, mas também a quase ausência de representação institucional dos trabalhadores e dos sindicatos nas instâncias de governação e de fiscalização das empresas e do país.

Quando se discutem, e bem, quotas de género e grupos demográficos, custa ver que nada se discuta sobre a representação institucional dos trabalhadores nos órgãos das empresas, nas autarquias, nos institutos públicos, nos partidos (com um par de exceções), nas Assembleias Legislativas Regionais e na Assembleia da República. Como se os trabalhadores, no ativo ou reformados, seguramente mais de 80 por cento da população residente, fossem invisíveis.

Por isso, não basta celebrar ritualmente, em paradas e piqueniques, o 1º de maio. Para ser de todos os trabalhadores, importa atacar as desigualdades, os baixos salários e a ausência de peso institucional dos trabalhadores. Não o fazer é continuar a alimentar uma economia de trabalho precário, de emprego pouco qualificado e de setores com pouca complexidade. E forçar, em última instância, os portugueses a emigrar.