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O 25 de Abril e o potencial económico

Recentemente assistimos ao grande crescimento económico das economias da Europa de Leste que só tiveram acesso ao mercado comum a partir de 2004 e já atingem níveis superiores ao nosso país em muitos indicadores. A razão para ficarmos para trás pode passar pela insuficiente promoção da nossa produção lá fora.
9 Maio 2023, 07h15

Era madrugada de 25 de Abril de 1974, alguns jovens estudantes bon-vivants que partilhavam uma república de estudantes na Av. Almirante Gago Coutinho, encontravam-se já depois da hora de fecho num convívio bem regado de cerveja, na cervejaria existente R/C do prédio onde residiam, quando ouvem e veem uma coluna de blindados passar àquelas horas, numa das principais avenidas de acesso ao centro de Lisboa. Já ninguém foi à cama e passadas umas horas alguns estudantes juntaram-se ao aparato no Largo do Carmo, em frente ao quartel onde Marcello Caetano se havia refugiado. É assim que eu me lembro da história contada pelo meu pai, a estudar na altura em Lisboa.

A minha geração é de uma fase posterior ao 25 de Abril de 1974, em que sempre conhecemos a liberdade, que nos permite escrever para um jornal ou outro meio social qualquer a criticar governos, governantes e instituições sem ser censurado ou perseguido.

O pós Abril 1974 foi um turbilhão político em Portugal, a ânsia da liberdade, o PREC, o verão quente de 1975 que culminou no 25 de Novembro, trouxe a estabilidade democrática plural que conhecemos na atualidade.

Do ponto de vista económico com o fim da ditadura em Portugal passou a existir potencial de investimento e que com a entrada na UE em 1986 trouxe uma ronda significativa de investimento direto estrangeiro, desenvolvimento e crescimento económico, e que poderia potenciar a especialização para nos tornarmos uma economia importante a nível internacional em alguns ramos de atividade de alto valor acrescentado. Tínhamos já alguma especialização em ramos como as madeiras, os couros, têxteis, vestuário e calçado, construção naval, etc., mas numa dimensão relativamente reduzida.

49 anos depois não fomos capazes de nos tornar num importante player internacional quando outros países o conseguiram, como a Alemanha na maquinaria industrial e nos automóveis após ter sido arrasada pela II Guerra Mundial, ou Israel que do nada se tornou uma das mais importantes economias do mundo em tecnologia militar. Recentemente assistimos ao grande crescimento económico das economias da Europa de Leste que só tiveram acesso ao mercado comum a partir de 2004 e já atingem níveis superiores ao nosso país em muitos indicadores. A razão para ficarmos para trás pode passar pela insuficiente promoção da nossa produção lá fora.

Temos população cada vez mais qualificada, com diferenças abismais entre avós e netos, devido ao grande combate ao analfabetismo após a ditadura, mas pouca capacidade de reter esse talento. Governos que falham sucessivamente nas apostas económicas que fazem com erros políticos que oneram fortemente o contribuinte, que criam vícios e que denotam uma grande resistência a implementar reformas que visam o bem comum no médio-longo prazo.

É por isso que em 2019, 45 anos depois da revolução, a extrema-direita através do partido CHEGA, consegue um assento parlamentar na Assembleia da República, tendo aumentado em doze vezes a sua representação parlamentar nas eleições de 2022.

Num mês em que aludimos à revolução dos cravos, convém relembrar que colhemos aquilo que semeamos. Os valores de Abril demoraram muito a ser conquistados, com sofrimento e perda para muitas famílias portuguesas. Não os desperdicemos!

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