Se há área que se pode orgulhar de contar com séculos de inovação tecnológica é, sem dúvida, a saúde. Basta olhar para alguns avanços como a descoberta das vacinas, o primeiro implante, ou a anestesia, para percebermos como são momentos de viragem absolutamente transformadores e de como talvez não fosse fácil prever a sua relevância antes da sua implementação.

Creio que, daqui a uns anos, quando se olhar para o momento em que vivemos, se vai chegar à conclusão de que este é também um período de disrupção na saúde. O momento a partir do qual se torna possível realizar operações à distância, em tempo real; usar realidade virtual para melhorar a experiência da telemedicina ou da formação; ou usar inteligência artificial para melhorar processos de triagem e diagnóstico.

Este momento de revolução tecnológica está a ser impulsionado pelo 5G, que pelas suas caraterísticas – a velocidade, a ultrabaixa latência, a fiabilidade e capacidade de ligar inúmeros equipamentos ao mesmo tempo – é o desbloqueador de uma série de tecnologias importantíssimas que podem fazer a diferença na área da saúde.

Numa altura em que a saúde em Portugal passa por desafios prementes – a necessidade de fixar profissionais de saúde, de aumentar a capacidade formativa, de melhorar o acesso a um médico de família e diminuir as listas de espera – os investimentos tecnológicos não são uma extravagância. São uma necessidade, uma vez que podem contribuir, em grande parte, para solucionar várias destas questões.

Pensemos, por exemplo, na pressão das urgências. Se tivermos ferramentas de telemedicina ou de inteligência artificial mais robustas, que permitam a um profissional de saúde fazer um diagnóstico ou triagem com menor margem de erro, à distância, conseguimos melhorar o acesso à saúde e ficamos todos a ganhar. As pessoas passam a ter mais e melhores cuidados de saúde e as urgências hospitalares podem ficar disponíveis para casos que necessitam de uma intervenção imediata.

Mas o potencial do 5G vai muito para além disto. É possível, por exemplo unir vários devices e wearables que monitorizem as pessoas e que possam dar um alarme a um profissional em caso de urgência. Fica aberto o caminho para acompanhar as pessoas, na sua própria casa, onde estejam mais confortáveis, com vantagens para o seu bem-estar e poupança de recursos. Por outro lado, melhorando a prevenção e aumentando a deteção precoce de patologias, diminuem-se os episódios agudos de doença.

Também a formação pode ser revolucionada com o 5G. Porque não ter vários estudantes de medicina a praticar uma cirurgia através de realidade virtual? Ou ter um especialista a auxiliar numa cirurgia mais complexa, à distância e em tempo real?

O 5G permite também a recolha e análise de um manancial de dados, importantíssimos para tomar decisões em saúde. Sabemos que não há orçamentos ilimitados e que todas as decisões de investimento são feitas em detrimento de outras, pelo que é crucial saber onde alocar os recursos. E, precisamente porque os recursos não são ilimitados, é importante melhorar a eficiência de todos os processos, mesmo os logísticos. Algo que, mais uma vez, se consegue através do 5G e de ferramentas inteligentes de poupança de energia e de água, por exemplo.

E, se é verdade que não pode a tecnologia substituir-se ao profissional de saúde, até pode ser um fator de motivação e retenção de pessoas. Quantos médicos, enfermeiros e técnicos não se queixam de excesso de trabalho burocrático? Porque não simplificar estes processos através de sistemas inteligentes e deixar as pessoas disponíveis para aquilo em que realmente fazem a diferença?

Todas estas oportunidades podem parecer boas apostas para o futuro da saúde, mas a verdade é que estas tecnologias já existem e podem ser implementadas desde já. Não falamos do futuro da Saúde, mas sim do seu presente.