A recente intervenção no Credit Suisse, e em alguns bancos americanos, expôs a fragilidade do sistema financeiro e o quanto este assenta na confiança.

A política monetária e as decisões tomadas pelos bancos centrais na última década, dos juros negativos à inacção, passando pelas subidas mais rápidas de sempre, vão ficar na história pelo seu experimentalismo e amadorismo.

A década de juros negativos incentivou governos e agentes económicos a contraírem empréstimos, a investirem em qualquer coisa que desse algum rendimento, não pensando muitas vezes no risco de um negócio. Ora, ao não perceberem que a taxa de juro é a medição do risco, é natural que o crédito se tenha tornado num hábito de consumo.

No caso dos governos, a compra de títulos pelos bancos centrais garantiu liquidez suficiente para evitar a implementação das tão necessárias reformas económicas estruturais, que garantissem, por exemplo, a sustentabilidade da segurança social.

Vários anos depois do primeiro alerta, continuamos com a perspectiva de, dentro de 20 anos, recebermos uma pensão equivalente a metade do ultimo salário e, mesmo assim, pouco se discute o assunto, no que deveria ser um desígnio nacional – melhorar as condições de vida e evitar conflitos geracionais.

A última década foi rica em financiar governos e empresas a taxas zero, ou mesmo negativas nos prazos mais longos. Em 2019, o governo alemão financiou-se a 30 anos, através da emissão de obrigações a taxas negativas.

Essas obrigações, compradas por instituições financeiras, seguradoras, fundos de pensões, entre outros, registam agora perdas potenciais superiores a 30%, apenas pelo efeito matemático de valorização do preço da dívida, com impacto no balanço dos bancos e (des)confiança dos depositantes.

Ora, a inacção dos bancos centrais em tomar medidas que assegurassem que todas as instituições implementassem mecanismos de gestão de risco, também contribuiu para as recentes intervenções na banca.

O caso do Credit Suisse é ainda pior. O Banco Central da Suíça e os políticos suíços não queriam ter de tocar num activo há muito considerado tóxico. Com efeito, desde 2008 que a instituição se vê envolvida em inúmeros escândalos, desde manipulação de preços, lavagem de dinheiro e contas de terroristas, à ocultação de património de clientes, americanos entre muitas outras.

Tudo aconteceu naquela instituição, menos, ao que parece, o banco central que, ou não apareceu ou não quis reconhecer que o seu sistema tinha as mesmas fragilidades que os demais países.

Por fim, a subida dos juros mais rápida da história recente traz consigo a concorrência aos depósitos. Desde que a Reserva Federal Americana começou a subir os juros, que 600 mil milhões de dólares em depósitos voaram para os fundos de dívida publica ou mercado monetário.

À medida que os fundos de obrigações conseguem apresentar rentabilidades superiores a 5%, num horizonte de cinco anos, a tradicional hegemonia dos depósitos irá perder-se, num exercício que se revela perigoso para os bancos.

Este abalo no sector financeiro foi um sinal de alerta para os bancos centrais. Nem tudo lhes é permitido e as consequências da subida de juros excessiva está aí ao virar da esquina – recessão e empobrecimento.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.