A comissão parlamentar de inquérito à TAP (CPI) tem vindo a revelar surpresas atrás de surpresas, incluindo uma clara disputa territorial entre fações do PS, mais concretamente entre Pedro Nuno Santos e João Galamba.

Mas, mais do isso, aquilo que assistimos nos últimos dias em sede de CPI, e onde estiveram presentes o ex-adjunto do Ministério das Infraestruturas, Frederico Pinheiro, e a chefe de gabinete do ministro, Eugénia Correia, é que o primeiro dá uma versão mais credível. Para além de que a reunião do dia 5 de abril, onde diz a chefe de gabinete existirem mais quatro testemunhas, terá sido a preparação de uma narrativa, uma reunião onde o ex-adjunto diz ter as notas à mão e que, na versão de Frederico Pinheiro, esteve o ministro Galamba e na versão da chefe de gabinete, não esteve.

A primeira questão que se coloca é perceber o que estará naquelas notas. Depois é preciso perceber quem tentou sonegar informação à CPI, o que, a acontecer, é uma prática ilegal, assim como a organização das respostas da ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener.

Ora, o ex-adjunto Frederico Pinheiro está há anos no Ministério das Infraestruturas, e tem sido ele a dominar os dossiês críticos, sendo que a guerra desta personagem começa na reunião de 16 de janeiro último e vai escalando até ao dia em que o ministro Galamba, alegadamente, o ameaça com dois socos. Essencialmente, a acreditarmos em tudo isto, o que aqui fica evidente é a degradação do sistema.

Aliás, a decisão do líder do Chega, André Ventura, que substituiu o deputado do mesmo partido que se encontrava na CPI, significa o aumento da pressão sobre o PS e o Governo. As perguntas de André Ventura e de Bernardo Blanco, da IL – uma estrela em ascensão neste partido, ladeado pelo histórico Carlos Guimarães Pinto –, mostra a importância que estes dois partidos dão a este tempo e a esta comissão.

Em contraste, o PSD quase não brilha na comissão e o mesmo se pode dizer do PCP. O Bloco, com Pedro Filipe Soares, está bem, mas não se percebe a opção de Mariana Mortágua, que está a preparar-se para a liderança do partido, em abandonar a comissão parlamentar no momento em que tudo está muito quente. É um enigma, mas não afastamos a hipótese de Mortágua não querer estar perante Galamba quando foram os dois que negociaram a geringonça, que permitiu que António Costa regressasse ao poder.

A conclusão é de um desgoverno total e, percebe-se agora melhor do que nunca, a incompetência e a falta de ligação dos gabinetes ministeriais à realidade do país. Por outro lado, é grave a manipulação dos Serviços de Informações. Viu-se como se relaciona o PS com o SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa), fazendo lembrar as ligações no tempo da União Nacional e, sobretudo, entre o presidente do Conselho e a então DGS.

Este é um país da União Europeia (UE) que mais parece estar em período revolucionário, num registo característico de um qualquer país da América Latina. Portugal, nestas condições, não merece estar na UE e todos os indicadores económicos o demonstram.

Perderam-se os anos de ouro da adesão e os anos com Cavaco Silva, em que Portugal era o melhor aluno, com os melhores índices e que hoje é ultrapassado pelos países do Báltico que se livraram da “cortina de ferro”. Os ex-países da URSS produzem mais, atraem mais investimento, e nós continuamos com uma política fiscal errática como foi o lançamento e cancelamento dos Vistos Gold. Felizmente, os espanhóis vão aproveitando o que desperdiçámos.