Na segunda-feira, dia 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers declarou falência ao abrigo do Capítulo 11 – a maior da história dos Estados Unidos – invocando 613 mil milhões de dólares de dívidas sobre ativos de 639 mil milhões de dólares.

A machadada final chegara na véspera quando o britânico Barclays recuou na intenção de comprar o Lehman Brothers. Não era o primeiro banco a negociar a aquisição dos ativos, mas era a última esperança. O Barclays voltou atrás, por considerar que o Lehman Brothers não tinha salvação.

O Lehman Brothers foi o caso paradigmático dos empréstimos excessivos, dos empréstimos de risco e da falta de transparência que caracterizavam a época.

Alimentados pelo crédito fácil e por uma procura aparentemente ilimitada, bancos de investimento como o Lehman Brothers assumiram cada vez mais riscos na expectativa de obterem retornos ainda maiores. Estes bancos estavam tão interligados que, quando surgia um problema num deles, todo o sistema financeiro ficava ameaçado.

Enquanto se formava a tempestade perfeita, a gestão de sucesso do Lehman Brothers era aplaudida, incluindo pelas agências de rating que mantiveram até praticamente ao fim as avaliações em grau de investimento.

A crise imobiliária nos Estados Unidos rebenta no primeiro trimestre de 2007 e os bancos imobiliários começaram a cair como um castelo de cartas e a um ritmo que não se via há anos.

No dia seguinte à queda do Lehman Brothers, a AIG, a maior companhia de seguros do mundo, que tinha 400 mil milhões de dólares em Crédit Default Swaps do Lehman Brothers e mais seis biliões de dólares de outros bancos, também ameaçou falir.

Declarando que a AIG era “too big to fail” (demasiado grande para falir), a Reserva Federal enviou à seguradora uma ajuda de emergência de 85 mil milhões de dólares, enquanto o Congresso debatia se devia ou não prestar assistência financiada pelos contribuintes a outras instituições financeiras. Mas quando a Câmara dos Representantes dos EUA vetou o “Bailout Bill” de 700 mil milhões de dólares, em 29 de setembro de 2008, o mercado bolsista caiu mais 700 pontos, dando início a uma recessão acentuada de dois anos, conhecida como a Grande Recessão. Perante as pressões crescentes, o Congresso acabou por aprovar o projeto de lei, oficialmente conhecido como Troubled Asset Relief Program, em 3 de outubro de 2008.

Antes a Fed havia sido chamada a intervir financeiramente no Bear Stearns que se debatia com problemas de liquidez – outra instituição altamente exposta ao negócio do crédito à habitação – para evitar a falência e permitir a compra pelo JPMorgan Chase por 236 milhões de dolares, cerca de 10% do valor de mercado.

A crise em si teve origem no colapso da bolha imobiliária americana, que tinha atingido proporções perigosas devido ao crédito hipotecário de alto risco.

Os chamados empréstimos “ninja” explodem na linha da frente do subprime. Nos anos anteriores, 2005 e 2006, os Estados Unidos atingiam o pico do boom imobiliário.

Os empréstimos “ninja” resultaram de uma política que remonta aos anos em que Bill Clinton liderava a Casa Branca, altura em que foram criados mecanismos para cada americano ter uma casa. Ninja refere-se aos clientes “no income, no job, no asset“, em que a casa era o garante do empréstimo e se falhasse o pagamento do crédito o banco ficava com a casa e a dívida era saldada (o que na Europa não é possível).

Os bancos podiam depois titularizar essas hipotecas de alto risco pagando um juro alto aos investidores dessas obrigações hipotecárias e dessa forma libertavam o balanço para novos créditos.

Para diluir este risco o mundo financeiro inventou uma teia de ‘empacotamento’ daqueles ativos através de instrumentos financeiros como o SIV (veículo de investimento estruturado), o CDO (Collateralized Debt Obligation, ou obrigação de dívida colateralizada) e ABS (instrumentos de dívida titularizados). Uma obrigação de dívida colateralizada (CDO) é um produto financeiro estruturado complexo que é garantido por uma pool de empréstimos e outros ativos e vendido a investidores institucionais.

Por outro lado, ao comprarem essas obrigações subprime os investidores institucionais (como o Lehman Brothers) obtinham uma rentabilidade alta e assim apresentavam lucros chorudos com impacto no preço das ações. A subida dos preços das habitações e o prémio de risco destes ativos geravam retornos atrativos.  A performance do banco era determinante para engordar os salários da administração, já que parte da sua remuneração era variável.

Foi este ciclo vicioso que originou a crise do subprime.

Os empréstimos “Ninja” alimentaram a bolha imobiliária e as obrigações hipotecárias subprime explicam a crise financeira que nasceu nos EUA, mas que se tornou global por via dos investimento em títulos hipotecários de alto risco feitos por bancos de outros países.

A diferença entre as duas taxas – subprime lending rate e prime lending rate – corresponde à remuneração do risco adicional envolvido no empréstimo dado a quem oferece garantias insuficientes.

Esse sistema funcionava bem pois desde o pós-guerra o valor dos imóveis nos EUA vinha subindo continuamente. Mas com o aumento da taxa de juros de curto prazo de 1% para mais de 5% pela Fed e depois, para valores que se aproximavam de 10%, muita gente deixou de pagar as prestações.

A tentativa dos clientes, como último recurso, de se desfazerem das suas casas no mercado, pressionou para baixo os preços de todos os imóveis nos Estados Unidos, inclusive aqueles financiados a taxas prime. Com o excesso de oferta, o preço dos imóveis entrou em queda livre.

As pessoas começaram então a entregar os imóveis aos bancos que concederam os empréstimos. Mas os imóveis tinham desvalorizado e as operações feitas com imóveis como garantia ficaram a descoberto.

O que é o ‘subprime’?
É um crédito à habitação de alto risco que se destina a uma fatia da população com rendimentos baixos e uma situação económica instável. A única garantia exigida nestes empréstimos é o imóvel.

Como surgiu o ‘subprime’?
O ‘subprime’ surgiu quando a Reserva Federal norte-americana (Fed) começou a baixar as taxas de juro para estimular o mercado imobiliário com o intuito de controlar os efeitos dos ataques terroristas do 11 de Setembro nos mercados de tecnologias. Mas em 2003, a criação de emprego e o investimento empresarial estavam em níveis baixos e a taxa de juro descia para 1%.

Simultaneamente, as várias instituições bancárias deixaram de ser tão exigentes nas condições requeridas para conceder créditos. Quando a Fed começou a subir de novo os juros o problema estalou. Com juros mais altos acompanhados pela queda dos preços das casas, as famílias ficaram sem capacidade para saldar as suas dívidas.

Como se dá o contágio para a Europa?
Como os mercados estão interligados e há bancos e fundos europeus com investimentos em produtos das instituições norte-americanas que operam no segmento ‘subprime’, a crise de liquidez atingiu também a Europa.