A concentração da produção de semicondutores no extremo oriente resultou de um movimento de economias de escala e de experiência que aceleraram a especialização de países como Taiwan e China na fabricação de componentes essenciais para incorporarem produtos de elevado valor acrescentado como os de tecnologia de informação e da indústria automóvel.

O bottleneck provocado pelos sucessivos confinamentos que pararam produções, a par de uma crescente procura de tecnologia por parte dos consumidores, veio agravar a situação a nível mundial e alastrar-se a outras indústrias de grande importância na geração de fatores multiplicadores de crescimento económico, de onde sobressai a indústria automóvel.

Segundo reporte de estimativas de vendas dos principais fabricantes, na pior das hipóteses, a quebra a nível mundial poderá chegar a dois dígitos de milhão, e os efeitos já se estão a sentir nos atrasos de entregas de encomendas.

Este fenómeno adensou-se em Portugal com o confinamento do primeiro quadrimestre de 2020, interrompendo a cadeia de abastecimento de automóveis, por via das habituais encomendas de frotas de rent-a-car, cujo impacto chega a 40% do total de vendas de veículos novos num só ano. Ora, o ciclo de abastecimento para o retalho de automóveis usados foi significativamente afetado, havendo já uma tendência para a subida dos preços.

Ou seja, neste momento, com os dois fatores conjugados, temos escassez de entrega de viaturas novas, e escassez no mercado de usados. Considerando o peso do automóvel na contabilização da variável consumo no Produto Interno Bruto, e considerando que o comércio automóvel tem um peso muito significativo nas receitas fiscais, temos pela frente, o correspondente efeito nas contas da evolução da riqueza.

As interrupções nas cadeias de abastecimento fazem-se sentir em todo o Ocidente. Na Europa, há relatos de interrupções de fabricação de viaturas nas marcas Volkswagen, Ford, Mercedes e Hyundai. Nos EUA, a situação não é diferente. De repente, os governos dos principais países em que este fenómeno se faz sentir, avançaram com medidas de incentivos para a construção de fábricas de semicondutores, ao arrepio dos movimentos de globalização que atiraram literalmente esta indústria de ponta para o extremo oriente.

E há medidas que são tomadas a qualquer custo, atendendo à urgência e à gravidade da dependência deste tipo de fornecimentos. Porque, em cima desta escassez provocada por perturbações exógenas, surge a pressão regulatória para o cumprimento de metas ambientais, só possíveis com a eletrificação das viaturas e com o incremento tecnológico de eficiência que permita a redução de emissões de gases, nos veículos de motores térmicos.

Dá que pensar que as decisões de gestão têm mesmo de ser perspetivadas a longo prazo. O advento da globalização física que concentrou geograficamente especialidades da indústria está agora a travar às quatro rodas. Com custos e com impactos ambientais de elevada escala. Caso para dizer que o barato (a prazo) pode sair caro.