Dentro de dois dias, o Brasil irá eleger o seu presidente, numa eleição que merece ser bem mais olhada do que tem sido em Portugal. É uma disputada segunda volta sendo que, no entanto, nenhum dos dois candidatos que possam vir a ganhar serve de exemplo para os seus cidadãos, num país onde as micro e pequenas empresas correspondem a 30% do Produto Interno Bruto.
A tessitura do país, que reúne 26 estados tão diferentes como o Paraná o é de Mato Grosso, assenta numa economia que atravessa uma recessão muito forte, uma fuga maciça de capitais e um aumento considerável da dívida, com 33 milhões de brasileiros a serem identificados como em estado de desnutrição ou fome.
Num artigo recente, publicado no conceituado jornal “Estado de São Paulo”, o economista e ex-consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Económica do Ministério da Fazenda, Claudio Adilson Gonçalez, foi claro: ganhe quem ganhar, o novo presidente terá um enorme desafio na tarefa de conduzir uma política económica bem-sucedida, num país marcado pelas assimetrias territoriais, as clivagens sociais e a polarização ideológica.
Segundo um provérbio que circula, em jeito de anedota, entre os entendidos sobre a condição do país do outro lado do Atlântico, “no Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública aquela que ninguém controla”.
Mesmo assim, segundo um estudo muito recente da Deloitte, a economia brasileira tem continuado a surpreender do lado positivo, com o PIB real do segundo trimestre a ultrapassar as previsões e uma economia que conseguiu crescer 1,2% só no segundo trimestre, com os gastos dos brasileiros a ultrapassarem as descidas do consumo e das exportações. O crescimento económico no trimestre foi generalizado, com a grande indústria a registar lucros positivos.
Que tem tudo isto a ver com Portugal? Bastaria olhar para o deve e haver da balança comercial, entre exportações e importações, para perceber. O Brasil exporta para o nosso país essencialmente combustíveis, ferro e aço, madeira, carvão vegetal, arroz e estanho. Para termos uma ideia, o total das exportações do Brasil para Portugal, apenas nos dois meses de janeiro e fevereiro de 2022, foi superior a 502 milhões de euros.
Ganhe Bolsonaro ou Lula, quem vier agora terá em nós um país atento, mesmo que por vezes a comunicação social fale do país Brasil de forma errónea ou desviada. Como dizia o grande Raul Solnado com o seu enorme sentido de humor: “Demos aos brasileiros a terra, o povo e a língua, e nós é que temos sotaque!”. Piada à parte, está na altura de esquecermos o que nos divide e de concentrarmo-nos naquilo que nos une.

Adriano Moreira foi de longe o melhor professor que alguma vez tive e jamais esquecerei a forma como dava as suas aulas, em anfiteatros sempre a abarrotar, tornando simples a sua enorme sabedoria. O “Jornal de Notícias” chamou-lhe um dia “um pensador alegre”. E era-o de facto. Esse senador entre os restantes, verdadeiro príncipe de uma outra forma de estar e viver a política, que infelizmente vai desaparecendo.